Cancro

Esperas acima da lei para cirurgias à mama preocupam Liga

Portimão apresentava 8 meses de espera em Senologia em 2017, que garante já ter resolvido. Liga avança com levantamento nacional.

No final do ano passado, o tempo de espera em Portimão para uma cirurgia muito prioritária na área da Senologia (especialidade que trata as doenças da mama) era de oito meses. Isto para casos que deviam ter resposta em 15 dias. O hospital garante que neste momento tem apenas uma doente nesta situação, que já foi operada ao problema oncológico e espera cirurgia reconstrutiva da mama. Este era um dos casos mais graves num retrato feito com dados de 30 de novembro de 2017, os últimos publicados no Portal do SNS, e que preocupam a Liga Portuguesa Contra o Cancro, que vai avançar com um levantamento nacional junto dos hospitais, depois de ter recebido denúncias de que grande parte destas doentes estão a ser operadas fora dos tempos considerados aquedados.

O tema das listas de espera volta a ganhar importância numa altura em que os médicos começam uma greve de três dias, e depois de os administradores hospitalares admitirem ao Diário de Notícias que parte das cirurgias programadas que se perdem nesta altura - uma paralisação com forte adesão pode pôr em causa cerca de três mil operações por dia - já não serão recuperadas este ano. No final do ano passado, 45 serviços de hospitais públicos apresentavam tempos de espera acima do que a lei prevê para cirurgias muito prioritárias. E se em muitos casos a derrapagem nos prazos era apenas de alguns dias, numa dúzia deles os utentes tinham de esperar mais de um mês por uma operação urgente, com especial destaque para duas especialidades: Oftalmologia, em Santarém, onde um doente esperava em média nove meses por uma cirurgia muito prioritária (situação que o Presidente do Conselho de Administração garante ao DN não se passar atualmente, ao afirmar que o Hospital de Santarém não tem doentes inscritos para cirurgia muito prioritária); e Senologia, no Hospital de Portimão.

Panorama que "preocupa muito" Vítor Veloso, presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, que denuncia queixas de atrasos nas cirurgias para casos urgentes, em especial na área das doenças da mama. "E muitas dessas queixas nem vêm dos utentes, partem mesmo dos médicos, que denunciam que grande parte das doentes estão a ser operadas fora dos tempos considerados aquedados. É um problema generalizado, que vai dos maiores hospitais, mais especializados, até aos distritais, e que tem tendência a agravar-se nesta altura de greves".

Importância da deteção precoce
Na lista dos dez serviços com maiores atrasos a nível nacional, Senologia surge duas vezes: além de Portimão, também o Garcia de Orta, com 41 dias, apresentava um prazo que ultrapassava largamente os tempos recomendados. "Um tempo de espera tão dilatado torna-se absolutamente dramático se estivermos a falar de um cancro. Uma das nossas lutas tem passado precisamente por promover rastreios, porque com a deteção precoce de tumores e se forem operados a tempo, conseguimos reduzir a mortalidade em 20%", aponta Vítor Veloso.

Do lado dos hospitais, o Centro Hospitalar e Universitário do Algarve, que inclui Portimão, argumenta desde logo que os últimos dados publicados no Portal do SNS têm cinco meses e que os processos de entradas e saídas de doentes para as listas de espera cirúrgicas "são dinâmicos", detalhando o ponto de situação no início do mês de maio: no caso da Senologia, em Portimão, há uma doente considerada muito prioritária que já ultrapassou os chamados Tempos Máximos de Resposta Garantidos. E "não por motivos oncológicos, uma vez que essa situação prioritária foi resolvida dentro do tempo regulamentar, mas sim para cirurgia plástica-reconstrutiva", garante o centro hospitalar. "Toda a patologia oncológica com indicação cirúrgica é rapidamente tratada, dentro dos tempos definidos, não havendo doentes oncológicos em lista de espera".

Outras especialidades com problemas no Algarve são Ortopedia, em Portimão, com nove doentes à espera para lá do recomendado (seis deles transferidos de outros hospitais no âmbito do Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia) e Oftalmologia, em que o processo de um doente ainda está em análise, depois de ter sido devolvido por uma unidade privada".

Tempos de resposta "ligeiramente mais dilatados", segundo palavras do centro hospitalar, que se devem "à reconhecida carência de profissionais de saúde em algumas áreas", nomeadamente de anestesistas. "É preciso ainda perceber que as entradas e saídas de doentes das listas de espera são processos dinâmicos, em que também a prioridade clínica pode ser reformulada por alteração da situação clínica do utente, mantendo-se o tempo de espera inicial, sendo certo que, sempre que é ultrapassado o prazo é emitido um vale cirúrgico onde o utente pode escolher outra unidade de saúde para resolução do seu problema".

Face às constantes ressalvas em relação aos prazos publicados no Portal do SNS e ao facto de algumas especialidades terem tempos de espera altos mas não apresentarem doentes inscritos, a Administração Central do Sistema de Saúde - entidade que gere os dados no site - explicou ao DN que os dados refletem duas realidades: O número de utentes a aguardar a intervenção cirúrgica num determinado momento (último dia do mês); e a média do tempo de espera dos doentes intervencionados nos últimos três meses. "Se partirmos da análise de dezembro, podemos ter um tempo médio de espera nos últimos 3 meses de doentes já intervencionados de X e no último dia do mês não existirem doentes a aguardar cirurgia".

Procura e falta de anestesistas
Também questionado pelo Diário de Notícias sobre as razões que levam a tempos de espera muito acima do previsto na lei, o Garcia de Orta, outro dos visados, responde que "o hospital regista uma procura crescente, que se mantém há vários anos, o que dificulta o cumprimento dos tempos máximos de resposta garantidos", a que se junta "a falta de recursos, no âmbito da anestesia". Isto apesar de o hospital de Almada apontar várias medidas que tomou para tentar resolver o problema, como o "ajustamento das agendas de consulta, a reformulação de espaços e circuitos de bloco operatório e recobro" ou a "centralização da atividade de agendamento operatório com vista a controlar de forma mais eficaz as regras de agendamento".

Fonte: 
Diário de Notícias Online
Nota: 
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