Infecção bacteriana

Cólera

Atualizado: 
04/11/2014 - 12:01
A cólera é uma infecção intestinal aguda causada por uma toxina produzida por uma bactéria.
Cólera

A cólera é uma infecção do intestino delgado causada pela bactéria Vibrio cholerae que produz uma enterotoxina (toxina) que desencadeia diarreia forte. Ou seja, as bactérias da cólera produzem uma toxina que faz com que o intestino delgado segregue quantidades imensas de um líquido rico em sais e minerais.

Existem cerca de 190 subtipos desta bactéria, sendo que apenas dois são produtores da enterotoxina -Vibrio colerae 01 (conhecido por "el tor") e Vibrio colerae 0139.

Embora o bacilo possa sobreviver nas águas doces e salgadas por algum tempo, o homem é o principal reservatório, sendo a transmissão feita por ingestão de alimentos ou água contaminada com fezes de doentes ou de portadores assintomáticos. Portanto, a cólera transmite-se ingerindo água, mariscos ou outros alimentos contaminados pelos excrementos de pessoas infectadas.

Esta doença aparece habitualmente em zonas da Ásia, Médio Oriente, África e América Latina, sendo que os surtos de doença verificam-se nos meses de calor e a incidência maior é entre as crianças. Noutras zonas, as epidemias podem ocorrer em qualquer época do ano e a doença pode afectar qualquer idade. A população que vive nas zonas onde a cólera é frequente (endémica) desenvolve gradualmente uma imunidade natural.

O risco para os viajantes é baixo, mesmo em países onde ocorrem epidemias de cólera, desde que respeitadas medidas de higiene pessoal e alimentar. Contudo, em situações que se prevêem de risco elevado, poderá recorrer-se à vacinação. Esta vacina existe no mercado português, trata-se de uma vacina oral e consiste na administração de duas ou três doses antes da exposição. Pode ser administrada a crianças com idade superior a dois anos.

Sintomas
Os sintomas, que começam de um a três dias após a infecção pela bactéria, oscilam entre um episódio de diarreia ligeira e sem complicações, cerca de 90 por cento dos casos e uma doença grave, potencialmente mortal em 10 por cento dos casos. Acontece também que alguns doentes afectados não apresentam sintomas.

Em geral, a doença começa com uma diarreia súbita, indolor e aquosa, além de vómitos. Nos casos graves chega a perder-se quase um litro de líquido por hora, mas usualmente a quantidade é muito menor. Nessas situações graves, a grande diminuição de água e sal provoca uma desidratação acentuada, com sede intensa, cãibras musculares, debilidade e uma produção mínima de urina.

A grave perda de líquidos nos tecidos faz com que os olhos se encovem e a pele dos dedos se enrugue de forma extrema. Se a infecção não receber tratamento, os graves desequilíbrios no volume sanguíneo e a maior concentração de sais podem conduzir a insuficiência renal, choque e coma.

Os sintomas costumam desaparecer em três a seis dias. Os indivíduos afectados libertam-se, geralmente, do microrganismo em duas semanas, mas alguns convertem-se em portadores permanentes.

Diagnóstico
O diagnóstico de cólera confirma-se isolando as bactérias a partir de amostras de líquido provenientes do recto ou de matéria fecal fresca. Uma vez que a bactéria Vibrio cholerae não cresce nos meios de cultura rotineiros para as fezes, deve requerer-se uma cultura especial para os microrganismos do género Vibrio.

Prevenção
Segundo a Organização Mundial de Saúde, desde 1993 que nenhum país exige a vacinação como condição para ser fornecido visto de entrada. Isto porque a imunidade concedida pelas vacinas não é absoluta, conferindo apenas protecção parcial: as injectáveis têm uma eficácia de 50 por cento, durante apenas três meses e as orais de 85 por cento, por três anos.

Portanto a adopção de medidas gerais de higiene são a melhor forma de prevenir esta doença. A começar na purificação dos abastecimentos de água e a correcta eliminação dos excrementos humanos.

Outras precauções essenciais para prevenir a cólera incluem:
- Lavar as mãos com sabão depois de cada utilização das instalações sanitárias, antes da preparação de alimentos e antes das refeições
- Utilizar somente água da rede geral de abastecimento público (que, por razões especiais de segurança, pode ser fervida – ebulição durante, pelo menos, cinco minutos). Nunca usar água de outras origens (por exemplo poços ou minas)
- Consumir somente gelo preparado com água da rede geral de abastecimento público (que, por razões especiais de segurança, pode ser fervida ou desinfectada)
- Consumir de preferência leite pasteurizado. O leite fresco deve ser sempre fervido antes de ser ingerido
- Não consumir alimentos crus ou mal cozinhados, não preparar os alimentos com fervuras, cozeduras ou frituras muito rápidas, nem usar o "banho-maria". Todos os alimentos devem ser sempre bem cozinhados, especialmente mariscos, peixes, legumes e hortaliças
- Não consumir alimentos preparados com ovos crus ou de origem duvidosa, nomeadamente maioneses, alguns molhos e sobremesas. Todos os alimentos devem ser consumidos quentes
- Não consumir frutas previamente descascadas ou com a pele parcialmente destruída. Frutas, saladas, hortaliças e legumes só devem ser consumidos crus se forem previamente lavados com água corrente e desinfectados
- Não consumir alimentos de proveniência duvidosa, nem comer em estabelecimentos sem requisitos de higiene. Não consumir quaisquer alimentos preparados ou provenientes de estabelecimentos ilegais ou de vendedores ambulantes. Consumir de preferência alimentos cozinhados no domicílio
- Bebidas como chá quente ou café, vinho, cerveja, bebidas carbonatadas (gasosas) ou sumos de fruta previamente empacotados, são geralmente seguras
- Eliminar mosquitos e moscas do interior das habitações e evitar, sobretudo, o seu contacto com os alimentos

Tratamento
O tratamento faz-se, sobretudo, à base de reidratação (oral nos casos suaves e por via intravenosas nos mais graves), podendo ser administrados antibióticos nas infecções severas. A rápida recomposição dos fluidos corporais, sais e minerais perdidos é uma parcela fundamental do tratamento.

Não devem ser usados medicamentos anti-diarreicos, uma vez que têm um efeito de incremento da concentração do microrganismo.

Habitualmente a recuperação é completa, ocorrendo rapidamente, podendo, no entanto, o indivíduo continuar a eliminar o Vibrio colerae nas fezes durante mais cerca de 20 dias, em média.

Sem tratamento adequado, pode ocorrer baixa da pressão sanguínea, falência renal, coma e até morte em 50 por cento dos casos não tratados, contra apenas 2 por cento dos assistidos medicamente.

Fonte: 
Manual Merck
Portal da Saúde
Infopedia
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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