Estudo do ISPUP revela

Substituição da carne por alternativas vegetais pode reduzir carga de doença em Portugal

Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) revela que trocar carne por alimentos vegetais alternativos pode trazer benefícios para a saúde e para o ambiente. Contudo, a exclusão de alimentos de origem animal saudáveis (por exemplo, o peixe) pode resultar em riscos não intencionais para a saúde.

O estudo Health and environmental impacts of shifting to plant-based analogues: a risk-benefit assessment, publicado recentemente no European Journal of Nutrition, teve como objetivo avaliar o impacto na saúde e no ambiente da substituição de alimentos de origem animal por alternativas análogas de base vegetal (PBAs), na população portuguesa. Os PBAs, cada vez mais comuns no mercado, são alimentos que procuram simular as características (sabor, aroma e textura) dos alimentos de origem animal e que podem facilitar a adesão a padrões alimentares flexitarianos e vegetarianos, que têm sido associados a benefícios para a saúde e para a redução do impacto ambiental.

A investigação utilizou dados do Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF 2015-2016) para simular três cenários: um vegano (substituição total de carne, peixe, ovos e lacticínios), um ovolactovegetariano (substituição apenas de carne e peixe) e um pescatariano (substituição apenas da carne).

O impacto na saúde foi medido através da carga de doença (DALYs), tendo em conta os efeitos do consumo de carne, pescado, lacticínios, fibra alimentar e alimentos ultraprocessados (UPF) em doenças como cancro, patologias cardiovasculares e metabólicas. O impacto ambiental foi avaliado em termos de emissões de gases com efeito de estufa e uso do solo.

Os resultados variaram consoante a classificação dos PBAs. Assumindo a substituição por alternativas vegetais ultrapocessadas, apenas o cenário pescatariano apresentou benefícios claros para a saúde, sobretudo entre os homens. Já um padrão alimentar totalmente vegano poderia até aumentar a carga de doença, em particular entre as mulheres. Quando analisada a substituição por alternativas vegetais não ultraprocessadas, todos os cenários – vegano, ovolactovegetariano e pescatariano – revelaram potencial de melhoria da saúde, com destaque novamente para o cenário pescatariano, que mostrou a maior redução da carga de doença.

Do ponto de vista ambiental, todos os cenários reduziram significativamente as emissões e o uso do solo, sendo o padrão vegano o que apresentou o impacto mais positivo.

Catarina Carvalho, investigadora do ISPUP e primeira autora do estudo, reforça que “a substituição da carne por alternativas vegetais pode trazer ganhos relevantes para a saúde da população portuguesa e para o ambiente, especialmente se a substituição for por alternativas minimamente processadas”. A investigadora alerta também que, apesar dos benefícios ambientais, “o impacto na saúde da substituição do peixe e dos lacticínios ainda é inconclusivo.”

A equipa de investigação sublinha, por isso, a necessidade de mais estudos epidemiológicos focados especificamente no consumo de alternativas vegetais, de modo a compreender melhor os seus efeitos a longo prazo.

Fonte: 
Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP)
Nota: 
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