Alimentos mais sustentáveis não são os “preferidos” dos mais jovens

A análise – coordenada pela investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), Mariana Rei e desenvolvida por uma equipa do ISPUP e da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação (FCNAUP) – baseou-se na informação recolhida junto de 521 crianças e 633 adolescentes no âmbito do Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF 2015/2016), que permitiu identificar os alimentos mais consumidos e avaliar a sua sustentabilidade com base em indicadores nutricionais, ambientais e económicos.
Os resultados mostraram que apenas um conjunto limitado de alimentos — sobretudo vegetais frescos e processados, fruta fresca e fruta em frasco, leguminosas, massa, arroz, tubérculos, sumos naturais e néctares — reúne simultaneamente os critérios considerados essenciais para uma alimentação sustentável. Estes alimentos destacam-se pela elevada densidade nutricional, pelo reduzido impacto ambiental e por serem, em média, mais económicos. No entanto, representam apenas uma pequena parte das escolhas alimentares habituais das crianças e adolescentes portugueses.
A equipa de investigação explica que, de forma consistente, os alimentos com maior qualidade nutricional tendem a ser também os que apresentam maiores emissões de gases com efeito de estufa e custos mais elevados. Os produtos de origem animal, como carne, peixe e ovos, são um exemplo disso: apesar de fornecerem nutrientes importantes para o crescimento, são igualmente responsáveis por maior uso de solo e maior pegada carbónica. Em contraste, os alimentos ultra-processados apresentam pior qualidade nutricional, embora alguns possam ser mais acessíveis do ponto de vista económico.
Para os autores do estudo, estes resultados reforçam a necessidade de repensar políticas alimentares e estratégias de promoção da saúde dirigidas aos mais jovens. Defendem que a criação de orientações alimentares sustentáveis deve considerar o equilíbrio entre saúde, ambiente, custo e preferências culturais, sob pena de se lançarem recomendações difíceis de aplicar na prática. “Políticas de incentivo à produção agrícola mais sustentável e medidas que facilitem o acesso económico a frutas, legumes e leguminosas podem desempenhar um papel decisivo numa mudança de comportamentos”, explica Mariana Rei, primeira autora do estudo.
Este trabalho de investigação – o primeiro em Portugal a integrar simultaneamente as dimensões nutricionais, ambientais, económicas e socioculturais na análise das escolhas alimentares de crianças e adolescentes, abre caminho para a revisão futura das orientações alimentares nacionais, incorporando sugestões mais precisas sobre as opções mais sustentáveis dentro de cada grupo alimentar.
