Exercício já não pode ser exceção nos cuidados do cancro metastático

O exercício aeróbico e de resistência pode melhorar significativamente o desempenho físico em doentes a viver com cancro da mama metastático, de acordo com novos resultados apresentados hoje (sexta-feira) na Oitava Conferência Internacional de Consenso sobre Cancro da Mama Avançado (ABC8).
Anne May, Professora de Epidemiologia Clínica da Sobrevivência ao Cancro no Centro Médico Universitário de Utrecht e no Instituto Holandês do Cancro, Países Baixos, apresentou novos resultados [1] do estudo PREFERABLE-EFFECT [2] que mostraram que um programa de exercício supervisionado de nove meses melhorou a massa muscular e a força muscular, particularmente nos braços e pernas, e o desempenho físico em doentes com cancro da mama que se tinha espalhado para outras partes do corpo (metastizado).
“Até agora, havia poucas evidências de que o exercício físico melhora a massa e força muscular em doentes com cancro metastático, em parte por serem frequentemente excluídos dos estudos”, explicou a Professora May. “A doença, os tratamentos e a inatividade contribuem para a perda de massa muscular esquelética, afetando negativamente a composição corporal e o desempenho funcional.”
“A baixa massa muscular, causada pela quimioterapia ou pela hormonoterapia, está associada a maior toxicidade dos tratamentos, reduções de dose e pior prognóstico. O exercício já demonstrou benefícios em doentes com doença não metastática. O PREFERABLE-EFFECT é o maior estudo a avaliar a viabilidade e eficácia do exercício em doentes com cancro da mama avançado.”
Este ensaio clínico internacional, randomizado e controlado, decorreu em seis países (cinco europeus e Austrália), com 357 doentes com cancro da mama metastático em estado IV recrutados entre 2019 e 2022, a maioria a receber tratamento de 1ª ou 2ª linha e 74% com metástases nos ossos. Metade recebeu cuidados padrão; a outra metade participou num programa de exercício supervisionado durante nove meses, com treino aeróbico, de força e equilíbrio. Todos os participantes usaram um activity tracker [3] e receberam aconselhamento para manterem 30 minutos diários de atividade física.
Após seis meses, o grupo de exercício registou melhorias significativas no desempenho físico, equilíbrio e força muscular. A massa magra corporal e a massa muscular nos membros aumentaram, ao contrário do grupo de controlo. Aos três meses, a massa muscular era, em média, 0,79 kg superior no grupo de exercício. O índice de massa muscular esquelética também melhorou. Não houve diferenças relevantes na gordura corporal total.
A Prof. May destacou que o equilíbrio melhorou, fator crucial para prevenir quedas, especialmente em doentes com metástases ósseas. “A baixa massa muscular e a neuropatia induzida pela terapia aumentam o risco de quedas e fraturas.” “Uma das nossas doentes, antes de iniciar o estudo, tinha problemas de equilíbrio e não conseguia entrar e sair de um autocarro; após ter realizado o exercício supervisionado, o problema desapareceu; agora é de novo capaz de utilizar o autocarro, o que para ela significa autonomia para ir à biblioteca. Estes resultados reforçam a importância de integrar o exercício supervisionado, com componente de resistência, nos cuidados oncológicos de doentes com cancro da mama metastático”, concluiu.
A ABC Global Alliance lançará em 2026 um Centro de Recursos de Atividade Física, com vídeos, guias e links adaptados a diferentes tipos de metástases, sintomas e níveis de aptidão. É destinado a doentes, cuidadores e profissionais de saúde e de exercício.
Isabelle Aloi-Timeus, fisioterapeuta oncológica e presidente da Salvati AC (México), coordena o grupo de trabalho responsável pelo projecto. “Como Fisioterapeuta tenho visto como o exercício traz benefícios comprovados, mas deve ser personalizado, supervisionado e seguro”, afirmou.
Eva Schumacher-Wulf, doente com ABC metastático e editora da revista Mamma Mia!, reforçou: “Todos sabemos como o exercício é importante – para a qualidade de vida mas provavelmente também para o prognóstico. No entanto, nem todos os programas são adequados para quem vive com cancro avançado. Precisamos de abordagens direcionadas.”
A Professora Fátima Cardoso, Presidente da ABC Global Alliance, concluiu: “No tratamento do cancro da mama avançado, o difícil equilíbrio entre qualidade e duração de vida é fundamental. Melhorar a qualidade de vida é tão essencial quanto desenvolver novos tratamentos. Esta investigação liderada pela Professora Anne May, é um avanço importante e capacita os doentes a recuperar algum controlo sobre a sua vida.”
[1] Apresentação convidada, ‘Exercício e composição corporal’, por Anne May, na sessão ‘Melhorar a qualidade de vida de doentes a viver com ABC’, Auditório 1, 09:35-10:40 GMT, Sexta-feira, 7 de Novembro.
[2] “PREFERABLE” é um Projeto sobre Exercício para a Erradicação da Fadiga no Cancro da Mama Avançado para melhorar a Qualidade de Vida (Project on Exercise for Fatigue Eradication in Advanced Breast to improve quality of Life). “EFFECT” são os Efeitos do exercício em doentes com cancro da mama metastático (Effects of exercise in patients with metastatic breast cancer).
[3] Fitbit.
