Problemas intestinais afetam bem-estar, energia e rendimento escolar de 1/4 dos portugueses

No Dia Mundial da Saúde Mental, que se assinala a 10 de outubro, um inquérito nacional, realizado para a farmacêutica francesa Biocodex, revela como os portugueses se sentem afetados mentalmente pela qualidade da sua saúde intestinal. O estudo, realizado a 1.000 pessoas a residir em território nacional, conclui que a saúde intestinal, muitas vezes invisível, tem um impacto profundo na vida quotidiana dos portugueses, desde os níveis de energia até ao desempenho escolar dos mais jovens.
O inquérito conclui que metade dos portugueses (48%) vive com problemas intestinais, sendo que muitos relatam consequências diretas no seu bem-estar psicológico: 27% sentem menos energia, 24% vivem com mau humor, 22% reportam ansiedade e 21% dificuldades em dormir. Entre os jovens adultos (18-24 anos), cerca de 33% associa os sintomas digestivos a episódios de ansiedade.
A ciência confirma que a microbiota intestinal, comunidade de microrganismos que habita o nosso intestino, desempenha um papel central na nossa saúde. Mais de 90% dos microrganismos que nos protegem estão no intestino. Estes microrganismos, na sua maioria bactérias, ajudam na absorção dos nutrientes e a prevenir e regular infeções em todo o corpo humano. Quando este equilíbrio é perturbado, fenómeno conhecido como disbiose, podem surgir não só sintomas digestivos, mas também consequências que afetam a imunidade, o metabolismo e até a saúde mental. Existe uma comunicação complexa e bidirecional entre sistema nervoso central e trato gastrointestinal – eixo intestino-cérebro – e qualquer desequilíbrio nesta comunidade de microrganismos pode ser um “gatilho” para o desencadear de alterações metabólicas, não só associadas à obesidade, como a outras patologias como, por exemplo, cancro, doenças inflamatórias e cardiovasculares, do trato urinário e até do próprio intestino, como é o caso da síndrome do intestino irritável. Pode também originar distúrbios de humor, ansiedade, alterações cognitivas e doenças neurodegenerativas.
“O estudo mostra como sintomas muitas vezes subvalorizados, como inchaço ou dores abdominais, têm impacto real no bem-estar psicológico. Assinalar o Dia Mundial da Saúde Mental é também reconhecer que cuidar da saúde intestinal pode ser uma estratégia fundamental de promoção da nossa saúde mental”, sublinha Luís Gomes, Diretor de Marketing na Biocodex Portugal.
Impacto da saúde intestinal nas famílias
O estudo demonstra ainda que 20% das crianças em idade escolar tiveram episódios de dor abdominal ou diarreia no último ano, com consequências que vão além do desconforto físico. De acordo com o inquérito, 20% das crianças afetadas têm dificuldades no estudo ou no rendimento escolar, 18% sentem ansiedade e 17% revelam problemas de concentração. Para os pais, estes desafios representam também uma carga emocional: um terço diz viver mais stress devido às queixas intestinais dos filhos, enquanto outros destacam o impacto nas rotinas diárias e até no planeamento das refeições.
Saúde intestinal é importante, mas ainda pouco conhecida
Apesar de 79% dos inquiridos considerar que a saúde intestinal é “muito ou extremamente importante” para o seu bem-estar geral, percentagem que ascende aos 87% no grupo com mais de 55 anos, apenas 22% diz ter bons conhecimentos sobre o tema, sendo os adultos entre os 35 e 44 anos os que se revelam mais informados. Apesar de metade da população (51%) avaliar a sua saúde intestinal como boa ou excelente, o conhecimento científico ainda não acompanha esta perceção: seis em cada dez portugueses nunca ouviram falar ou sabem muito pouco sobre o microbioma intestinal. Esta lacuna de literacia compromete a adoção de hábitos preventivos que podem ajudar a reduzir e atenuar sintomas físicos e psicológicos.
Quando se olha para os probióticos, a tendência é semelhante. Quase metade dos portugueses admite nunca ter ouvido falar ou não saber exatamente o que são, e apenas 12% os utilizam de forma regular. Ainda assim, quatro em cada dez acreditam que podem promover a saúde intestinal, revelando uma confiança no conceito mesmo quando o conhecimento é limitado.
A importância da microbiota na saúde mental
Apesar de haver ainda muito por descobrir sobre a microbiota – única em cada pessoa, como uma impressão digital – existem estudos que permitem aferir que podemos, através da dieta e da suplementação com probióticos, modular a comunidade de bactérias “boas” que habitam no nosso intestino. O eixo intestino-cérebro é um sistema de comunicação bidirecional que envolve o sistema nervoso central, o sistema nervoso entérico e a microbiota intestinal. Esse diálogo permite que o intestino influencie diretamente funções cerebrais, como o humor, a memória e o comportamento. A microbiota intestinal participa da produção de neurotransmissores como serotonina e dopamina, fundamentais para o equilíbrio emocional.
Nos últimos anos, estudos têm demonstrado que alterações na microbiota intestinal podem estar relacionadas a distúrbios como ansiedade, depressão e até doenças neurodegenerativas. Para melhorar a saúde intestinal e prevenir desconfortos, os especialistas recomendam cuidados simples do dia a dia: manter uma boa hidratação, adotar uma alimentação rica em fibras e variada, garantir horas adequadas de sono, praticar atividade física regular e reduzir os níveis de stress. Estes hábitos, aliados a uma maior literacia sobre o papel da microbiota, podem fazer a diferença na promoção de um intestino equilibrado e de um corpo mais saudável.