Estudo do ISPUP revela

Obesidade em Portugal continua marcada por fortes desigualdades sociais

O Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) coordenou o primeiro estudo em Portugal a analisar a evolução das desigualdades socioeconómicas da obesidade na população adulta ao longo de 21 anos, usando dados dos Inquéritos Nacionais de Saúde (1998–2019).

A investigação – “Education, occupation and income inequalities in obesity among Portuguese women and men: Evidence from national health surveys (1998–2019)” – publicada recentemente na revista Social Science & Medicine, revela que a obesidade continua mais concentrada em pessoas com menor escolaridade, rendimentos baixos e qualificações profissionais menos diferenciadas, sendo este padrão mais acentuado nas mulheres.

Mais escolaridade não diminuiu desigualdades

Apesar da democratização do ensino e da obrigatoriedade até ao 12.º ano, a diferença na prevalência de obesidade entre quem não completou qualquer nível de escolaridade e quem concluiu o ensino superior aumentou entre 1998 e 2019: de 18 a 21 pontos percentuais nas mulheres e de 7 a 12 pontos percentuais nos homens. Quem estuda mais tende a ter melhores rendimentos, maior literacia em saúde e hábitos alimentares mais saudáveis — fatores que reduzem o risco de obesidade.

Obesidade é mais comum em profissões menos especializadas

Trabalhadores em profissões menos diferenciadas — como operários não qualificados, operadores de máquinas ou trabalhadores manuais — registam maior prevalência de obesidade do que profissionais em cargos executivos ou de chefia. Entre 1998 e 2021, a diferença variou de 14 a 13 pontos percentuais nas mulheres e aumentou de 9 para 12 pontos percentuais nos homens, sobretudo desde 2014. Condições como stress elevado, pouca autonomia, apoio social reduzido e trabalho físico exigente podem contribuir para estas diferenças.

Rendimento influencia menos a obesidade

A desigualdade na obesidade entre mulheres mais ricas e mais pobres atingiu o pico em 2014 (9 pontos percentuais) durante as medidas de austeridade após a crise económica de 2008 e diminuiu em 2019 (7 pontos percentuais). Nos homens, as diferenças ao longo do tempo foram mínimas. Rendimentos mais elevados facilitam o acesso a alimentos saudáveis, espaços para atividade física e cuidados de saúde, associando-se a menor prevalência de obesidade.

Mulheres continuam a ser as mais afetadas

As desigualdades socioeconómicas da obesidade foram consistentemente mais acentuadas nas mulheres. Em Portugal, à semelhança da Europa, as mulheres apesar de terem níveis de escolaridade superiores aos homens, estão mais presentes em setores laborais menos valorizados, com salários mais baixos e menos oportunidades de progressão.

Investigadores insistem que é preciso agir sobre as desigualdades

Segundo a equipa do ISPUP, a obesidade continua concentrada nos grupos mais pobres, sobretudo mulheres, evidenciando a acumulação de desvantagens sociais, económicas e de saúde. Para além de estratégias individuais, são essenciais estratégias que melhorem as condições de vida da população.

“A redução das desigualdades socioeconómicas na obesidade exige estratégias eficazes de prevenção e gestão, desenvolvidas com a participação ativa da sociedade civil, da comunidade científica e dos decisores políticos. É fundamental colocar a saúde no centro de políticas que vão além da esfera do Ministério da Saúde — como educação, emprego, habitação e proteção social. Esta abordagem integrada e multissetorial pode ser decisiva para promover a saúde da população e travar a perpetuação de desigualdades preveníveis”, afirma Berta Valente, investigadora do ISPUP e primeira autora do estudo.

Fonte: 
Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP)
Nota: 
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