Linfomas Cutâneos: Sol e cuidados com a pele
Os linfomas cutâneos primários de células T são os mais frequentes, correspondendo a cerca de 75% dos casos, sendo a micose fungóide o subtipo mais comum. Os linfomas cutâneos primários de células B constituem aproximadamente 25% dos linfomas cutâneos.
Apresentam grande variabilidade clínica, podendo observar-se eritrodermia (“vermelhidão” atingindo mais de 90% da superfície corporal), manchas, pápulas, placas, nódulos e/ou tumores, que podem ulcerar ao longo do tempo.
A escolha do tratamento depende essencialmente do tipo de linfoma cutâneo e do seu estadio.
De acordo com as recomendações terapêuticas propostas pelos grupos especializados internacionais, nos estadios iniciais de alguns tipos de linfomas cutâneos primários devem ser privilegiadas as terapêuticas dirigidas à pele, nomeadamente a fototerapia. Por definição, a fototerapia baseia-se na utilização da radiação ultravioleta (UV), com ou sem a adição de agentes fotossensibilizantes exógenos, para o tratamento de uma grande variedade de dermatoses. Atualmente existem várias modalidades de fototerapia, de acordo com os diferentes comprimentos de onda utilizados. Destacam-se, pela sua maior frequência na prática clínica, a fototerapia com UVB de banda estreita e a PUVAterapia.
Sabe-se que durante muitos séculos, o tratamento com recurso à luz solar (radiação UV), conhecido como helioterapia, foi usado no tratamento de diversas doenças cutâneas.
Consequentemente, é prática médica comum a recomendação de exposição solar a estes doentes, dependendo do tipo e do estadio do linfoma cutâneo. Geralmente aconselha-se a realização de helioterapia a doentes com o diagnóstico de micose fungóide (linfoma cutâneo de células T) em estadios iniciais (estadios IA-IIA) tendo em conta que, nestes doentes, a fototerapia é considerada uma terapêutica de 1ª linha. De uma forma global, os doentes com micose fungóide em estadio inicial toleram muito bem a helioterapia, obtendo benefício clínico significativo.
A fototerapia em combinação com terapêuticas sistémicas é uma modalidade recomendada também para doentes com eritrodermia (síndrome de Sézary ou micose fungóide eritrodérmica) como terapêutica adjuvante. No entanto, é muito importante referir que, nestes doentes, a exposição à radiação UV deve ser feita com muita prudência, em virtude da presença da eritrodermia associada à sensação de calor e de prurido, que podem dificultar a perceção da ocorrência de queimaduras. Na maioria dos casos, o doente não tolera a exposição à radiação UV, quer sob a forma de helioterapia ou de fototerapia, referindo agravamento da “vermelhidão”, do prurido e da sensação de calor.
Em conclusão, apesar da helioterapia ser uma potencial arma terapêutica para estas patologias, deve ser recomendada apenas a determinados doentes, dependendo do tipo e do estadio da doença.
Além disso, a exposição solar deve obedecer às regras básicas aplicadas à população em geral, devendo ser cuidadosa, evitando sempre as horas de maior intensidade da radiação UV (entre as 11h e as 17h).
Autoria:
Iolanda C. Fernandes1,3,4, Rita Peixeiro2,3, Renata Cabral2,3,4
1Serviço de Dermatologia
2Serviço de Hematologia
3Consulta Multidisciplinar de Linfomas Cutâneos e Mastocitoses
3Centro Hospitalar Universitário de Santo António
4Unidade Multidisciplinar de Investigação Biomédica