Ferropénia é a causa mais frequente da anemia na gravidez
Caracterizada por uma diminuição de glóbulos vermelhos ou de hemoglobina – proteína que transporta o oxigénio - no sangue, estima-se que a anemia atinja cerca de um quarto da população mundial.
Na mulher grávida esta condição clínica é bastante comum no segundo e no terceiro trimestre de gestação, pelo que “deve ser objetivo do médico que segue a gravidez que a anemia não ocorra”, evitando as complicações associadas.
Embora a anemia possa ter várias causas, uma vez que esta ocorre sempre que o corpo humano não dispõe dos glóbulos vermelhos necessários ao seu normal funcionamento, quer por menor produção na medula óssea, quer por excessiva perda ou destruição – o que pode acontecer na sequência de doença crónica, doenças intestinais ou prática intensa de atividade física, por exemplo –, durante a gravidez a causa mais frequente é a ferropénia, ou seja, a falta ou défice de ferro.
De acordo com João Mairos, ginecologista membro do Anemia Working Group Portugal, a anemia na mulher grávida pode ocorrer ainda como consequência de outros distúrbios sanguíneos, como é o caso da talassémia ou a drepanocitose, ou por deficiência de vitamina B12 e ácido fólico.
“Os principais sintomas da anemia são a sensação de falta de energia, fadiga, baixa capacidade de concentração, redução da capacidade de trabalho e sensação de desmaio”, descreve o médico alertando para o facto de que alguns destes sintomas podem estar “associados à gravidez por razões diferentes”. A verdade é que, em fases iniciais, estas manifestações podem ser facilmente confundidas pelo que se reforça a importância do seu diagnóstico.
“No seguimento da gravidez o médico efetua o rastreio da anemia por intermédio de análises ao sangue, uma vez por trimestre, e, idealmente, previamente à gestação em consulta pré-concepcional (e que deverá ocorrer cerca de 2 meses antes de iniciar as tentativas de gravidez”, explica o especialista. Este rastreio deve incluir um hemograma e a determinação de ferritina que permite avaliar os depósitos de ferro no organismo. “A importância desta prática deve-se a poder atuar precocemente, evitando a causa mais comum de anemia e que é o défice de ferro”, justifica.
Quanto ao tratamento, o especialista admite que “na maior parte das vezes a anemia na gravidez trata-se com ferro e ácido fólico”, no entanto, este depende das causas associadas. Quando se confirma, por análises ao sangue, que a anemia é provocada por insuficiência de ferro, o tratamento passa pela administração de suplementos de ferro, por via oral ou injetável. O mesmo se aplica à deficiência em vitamina B-12 que poderá ser corrigida mediante a suplementação.
De acordo com o médico, “as transfusões de sangue reservam-se para situações de emergência, habitualmente associadas ao parto”. É que apesar de frequente, quando não tratada, a anemia apresenta alguns riscos, quer para a mãe quer para o bebé.
“Entre os riscos para a grávida encontra-se o parto pré-termo (parto que ocorre antes das 37 semanas), sensação de cansaço, menor produção de leite ou menor período de aleitamento, e risco aumentado de ser submetida a transfusão de sangue na sequência do parto”, explica João Mairos. Para o bebé: “pode ocorrer restrição de crescimento, pode nascer com baixo peso e o risco de morte fetal está aumentado”.
Deste modo, é fundamental que a grávida, para além da alimentação adequada, cumpra a suplementação indicada pelo médico assistente “nas doses certas e com os medicamentos adequados”, uma vez que estes podem ter uma natureza diferente e são prescritos em função da sua resposta à medicação.
No que diz respeito à alimentação, o especialista relembra que esta deve incluir alimentos ricos em ferro – como a carne de vaca, porco, aves e peixe. Contudo, reforça que “a baixa taxa de absorção de ferro pelo organismo, associada às necessidades particularmente aumentadas de ferro na gravidez conduzem à necessidade de suplementar com ferro oral a maioria das grávidas”.