Incêndios

Psicóloga defende que é preciso devolver confiança aos portugueses

A psicóloga Margarida Santos, docente de psicologia ambiental, defendeu que é preciso “devolver a confiança” aos portugueses, ensinando-lhes como agir face a catástrofes, para evitar situações de pânico como a que aconteceu recentemente na autoestrada junto a Palmela.

Uma massa densa de fumo originária de um incêndio em mato, que ocorreu no passado dia 21 no concelho de Palmela, impediu a visibilidade dos automobilistas que seguiam na A12, no sentido Setúbal-Lisboa, tendo muitos deles decidido inverter a marcha e entraram em contramão.

Margarida Santos, da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, explicou que estes comportamentos “poucos racionais” surgem quando o instinto básico de sobrevivência “é ameaçado” e quando já há uma “situação prévia” que motive estas reações, como o incêndio que deflagrou no ano passado em Pedrógão Grande e que alastrou a concelhos vizinhos, provocando 66 mortos

Uma situação semelhante aconteceu esta semana na Grécia, tendo muitas pessoas morrido a fugir a um fogo que deixou mais de 80 mortos.

“Quando somos severamente ameaçados é natural que tenhamos uma reação de pânico”, que leva a comportamentos “pouco racionais” de fuga à ameaça, disse, explicando que, em muitos casos, a pessoa em vez de criar uma distância em relação à ameaça, quase se “atira para cima dela”.

Por isso, prosseguiu, “é natural” que a pessoa abandone o carro e “fuja de uma forma pouco orientada” para escapar à ameaça. “Isso é ainda mais agravado quando existe uma situação prévia” de um desastre, que “não foi vivido diretamente”, mas que os meios de comunicação social divulgam “durante muitos dias e a toda a hora”.

“No ano passado, aprendemos duas coisas em Portugal: que somos vulneráveis, que [uma tragédia] pode acontecer em qualquer momento e nem sempre podemos confiar quando nos dizem pode ir”, disse, aludindo ao não encerramento das estradas em Pedrógão.

Esta situação “descredibilizou as pessoas” que podem ajudar em situação de catástrofe, disse, defendendo: “É preciso devolver a confiança à população e a confiança só se devolve com verdade”.

Se isto não acontecer, a pessoa não vai ter “nenhuma segurança” em relação a quem devia estar a salvá-la. “Essa é a razão pela qual tivemos agora pessoas a fugir de uma forma completamente irracional numa situação em que se via apenas um bocadinho de fumo. Isto é normal e vai acontecer mais vezes”, lamentou.

Para Margarida Santos, só é possível os portugueses voltarem a ganhar confiança quando souberem “exatamente o que se passou, o que falhou” nos incêndios. “Aquilo que sabemos é aos bocados, completamente contraditório, e como tal não confiamos, porque não tivemos acesso à verdade”.

“Todos sabemos que há uma série de relatórios que não vieram cá para fora, todos sabemos que houve muito mais do que aquilo que nos disseram e isso precisa ser clarificado para que nós possamos de alguma maneira confiar”, sustentou.

Margarida Santos acredita que se este ano houver incêndios e estes forem “devidamente controlados” os portugueses voltam a “ganhar um pouco de confiança”.

“Tal como a natureza vai precisar de muito tempo para se refazer, nós também vamos precisar de tempo para nos refazermos em relação à confiança”, comentou.

Alertou ainda para a necessidade de mudança do comportamento dos órgãos de comunicação social na transmissão de catástrofes e para a importância de as escolas ensinarem procedimentos a adotar em casos de sismo, incêndios e em situações de pânico.

“Precisamos de mais informação que não seja de espetáculo, precisamos de meios de informação que não queiram gerar pânico”, mas sim que formem e ajudem a população, o que não acontece atualmente, disse, sublinhando que “os ‘mass media’ não têm consciência do mal que estão a fazer”, condicionando as pessoas e transformando-as em “gente frágil”, fazendo-lhes uma espécie de “lavagem ao cérebro”.

Na sua opinião, a comunicação social devia juntar-se e ajudar a população a perceber o que é que correu mal e bem e, principalmente, ajudá-la a desenvolver competências sobre o que fazer numa situação destas.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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