Dia Mundial da Consciencialização do Autismo

“Para se perceber um autista é preciso aprender a pensar como ele”

Atualizado: 
03/04/2017 - 08:50
No dia Mundial da Consciencialização do Autismo, a psicóloga clínica Sílvia Botelho descreve-nos uma perturbação do desenvolvimento que, em Portugal, afeta uma em cada mil crianças em idade escolar.

A Perturbação Espectro Autismo (PEA) é uma disfunção do desenvolvimento que se vai modificando ao longo da vida, afecta o comportamento da pessoa, a sua capacidade de comunicar e socializar , apresenta dificuldades de empatizar (colocar-se no lugar do outro) e pode haver hipersensibilidade a estímulos sensoriais (luz, texturas, sons, cheiros...)

Não se obtém o diagnóstico através de análises de sangue, de uma TAC ou de uma ressonância magnética, pois não existem marcadores biológicos. O diagnostico é apenas clínico, no entanto, pessoas com autismo têm um conjunto de características especificas que se fazem notar de maneira mais intensa e que conduzem a um diagnóstico. É importante perceber que numa criança com Autismo, não tem que necessariamente abarcar todos os sinais de alerta que nos são fornecidos pela literatura, pois existem várias variantes, inclusive existem casos que crianças com autismo que são adultos normais.

Alguns são considerados sobredotados outros com dificuldades intelectuais, uns apresentam graves dificuldades na linguagem, outros utilizam palavras complexas e construção de frases acima da média.

Para se perceber um autista, é preciso aprender a pensar como ele, e este é um passo que pode ser mais complexo do que parece.

A palavra AUTISMO tem um impacto enorme junto dos pais.

Alguns médicos e psicólogos receiam comunicar o diagnóstico aos pais nas variantes mais leves, pois a palavra AUTISMO tem um impacto enorme junto das famílias. A verdade é que independentemente do técnico usar a palavra ou não para descrever uma criança, o filho continua a ser exactamente como sempre foi, com as características que sempre lhe foram peculiares e especiais. Existem vários tipos de autismos, com várias intensidades e é sim possível ser-se um adulto normal.

A maioria das pessoas com autismo são muito atentas aos detalhes e à exactidão, aprendem bem visualmente e têm uma memória muito acima da média. É provável que as informações, rotinas ou processos uma vez aprendidos, sejam retidos, sendo que algumas pessoas conseguem concentrar-se na sua área de interesse específico durante muito tempo. São pessoas leais e de confiança.

Uma das poucas certezas sobre esta doença é que quanto mais cedo houver intervenção terapêutica ao nível comportamental, melhores serão os resultados.

Uma vez identificadas as áreas em que a criança apresenta dificuldades, é elaborado um plano de intervenção especifico, com base em terapias comportamentais. Não existem medicamentos, nem vitaminas, que curem o autismo ou que melhorem a capacidade de socialização e empatia. Portanto, são utilizadas técnicas comportamentais para tentar minorar e melhorar o comportamento das crianças com autismo. A par da ajuda especializada, os pais desempenham um papel determinante tanto pela forma como encaram a disfunção como pelas estratégias que usam para lidar com ela.

 

Autor: 
Dra. Sílvia Botelho - Psicóloga Clínica Academia de Psicologia da Criança e da Família
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock