Associação Portuguesa de Urologia

Mais de meio milhão sofrem de incontinência em silêncio

Na Semana da Incontinência Urinária, que começa hoje, a Associação Portuguesa de Urologia alerta que apenas 10% dos 600 mil portugueses com o problema procuram ajuda.

Não podia ir às compras, à praia ou ao parque com as filhas. Passava a noite na casa de banho. Rute Branco, de 42 anos, chegou "ao ponto de não conseguir andar na rua porque num segundo a urina saía toda". Sofre de bexiga hiperativa, uma condição que afeta cerca de 1,7 milhões de portugueses e que, em aproximadamente um terço dos doentes, está associada a incontinência urinária. "Agora faço injeções de botox na bexiga e estou controlada. Não é uma cura definitiva, mas dá-me qualidade de vida", diz ao Diário de Notícias.

Rute sentia uma vontade urgente de urinar e não conseguir controlar a bexiga. "Não podia usar pensos. Nada resolvia porque a urina saía toda." Nunca teve vergonha da sua condição, mas sabe que esta não é a regra. A propósito da Semana da Incontinência Urinária que começa hoje, a Associação Portuguesa de Urologia (APU) alerta que apenas 10% dos 600 mil portugueses que sofrem de incontinência urinária procuram a ajuda de um médico.

"Não há necessidade de sofrer em silêncio. Os 540 mil que sofrem sem consultar o médico não devem ter embaraço de falar com o médico de família ou com um especialista", afirma Paulo Dinis, urologista no Hospital de São João, no Porto, e membro da APU. Na maior parte das vezes, prossegue, "são situações curáveis ou controláveis".

É a vergonha que impede muitas pessoas de alcançar a cura. "Por embaraço ou por acharem que é uma fatalidade, as pessoas deixam andar." Só 10% procuram o médico, enquanto os restantes escondem o problema, automedicam-se e isolam-se. Para a incontinência urinária de esforço - perdas de urina quando a pessoa se ri, tosse, espirra, faz exercício, se curva ou pega em pesos -, a taxa de sucesso das intervenções ronda os 90%.

"E a incontinência urinária por imperiosidade ou urgência [que ocorre repentinamente, acompanhada de uma vontade súbita e intensa de ir à casa de banho] é controlável em muitas situações com medicação oral", refere o especialista.

Esta semana, sublinha, é "para chamar a atenção que existe uma esperança" para quem sofre de incontinência urinária, que tem como fatores de risco os partos, a obesidade, a tosse crónica, os fatores genéticos, a obstipação, a idade, alguma medicação.

Cirurgia resolveu problema
Fernanda Araújo, 56 anos, conta ao Diário de Notícias que viveu quase 20 anos com incontinência urinária. "Comecei a ter sintomas logo após o nascimento do meu segundo filho. Perdia urina sempre que fazia esforços, me ria, tossia ou pegava em coisas pesadas", recorda. Diz que falava com o médico de família, mas ambos desvalorizavam o problema, que a fazia gastar "uma renda em pensos higiénicos". "Pensava que era muito nova para fazer cirurgia."

Há quatro anos, Fernanda submeteu-se a uma intervenção cirúrgica em que lhe foi colocada uma pequena rede de material sintético sob a uretra. Uma cirurgia simples, da qual recuperou rapidamente. "Fiquei bem. Nunca mais precisei de me preocupar com as perdas. Mas foram anos e anos a sofrer", diz.

A cirurgia é solução para alguns casos mas não para todos. "Pode resolver-se com fisioterapia, alterações comportamentais, perda de peso, alterações na medicação que a pessoa toma", explica Paulo Dinis. Existem, segundo o médico, várias opções antes dos resguardos (pensos ou fraldas), que, para muitas pessoas, são vistos como a única alternativa. "Têm o seu lugar, mas são o último recurso."

No caso de Rute, a solução passou por injeções de botox na bexiga. " Na incontinência por urgência, o músculo contrai fora da vontade da pessoa e ela não consegue controlar. A toxina botulínica tem o efeito de acalmar o músculo, diminuindo ou mesmo parando os episódios de contração da bexiga", refere o especialista do Hospital de São João.

Em comunicado, o presidente da APU, Luís Abranches Monteiro, reforça que "a incontinência urinária não é normal mas é muito vulgar. Também não mata, mas afeta muito a qualidade de vida das pessoas que dela sofrem. E o mais importante é que é um problema que se trata e de forma mais simples e muito menos dolorosa do que há 20 anos". Trata-se de um problema de saúde pública, com impacto social, pessoal e económico. Há mesmo quem abandone a atividade laboral.

No âmbito da Semana da Incontinência, as estações de transportes públicos do Porto e de Lisboa vestem-se de amarelo e roxo para sensibilizar para o impacto da bexiga hiperativa, que pode causar incontinência urinária.

 

Fonte: 
Diário de Notícias Online
Nota: 
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