Saúde

Exames cardiovasculares com radiação são potencialmente prejudiciais para a saúde

Para além dos custos económicos dos exames com radiação serem maiores também comportam riscos biológicos que podem levar ao aumento incidência de cancro. Especialistas afirmam que no SNS há alternativas mais económicas que não são prescritas.

Apesar de as recomendações das Sociedades Científicas e da Comunidade Europeia da Energia Atómica (EURATOM) apontarem para o uso preferencial de métodos complementares sem radiação, não é essa a prática em Portugal e noutros países da Europa, onde o primeiro exame com imagem usado para estudo da doença coronária continua a ser a cintigrafia de perfusão miocárdica. Quem o diz é Carlos Cotrim, médico cardiologista e presidente da 1ª reunião do Heart Center do Hospital da Cruz Vermelha. A reunião, que irá decorrer no próximo dia 30 de março, no Museu do Oriente, irá compreender e debater porque existem exames prejudiciais para a saúde do doente e quais as alternativas que devem ser usadas nos hospitais portugueses.

“A cintigrafia de perfusão miocárdica que é utilizada para o diagnóstico não invasivo de doença coronária aterosclerótica pode usar doses de radiação que chegam a ultrapassar o equivalente a 500 radiografias do tórax, o que significa um impacto muito negativo para o doente. A relação entre a radiação e o desenvolvimento do cancro é amplamente compreendida: uma única tomografia computadorizada, ou cintigrafia de perfusão miocárdica expõe o paciente a uma quantidade de radiação que a evidência epidemiológica mostra que pode causar cancro,” começa por explicar o médico cardiologista. 

“Em alternativa à cintigrafia de perfusão miocárdica, que tem sido usada na maioria dos hospitais do SNS, o que deve ser utilizado é a ecocardiografia de sobrecarga. A ecocardiografia de sobrecarga tem sido usada, para além da doença coronária, em vários contextos, com recurso a fármacos, ao esforço em cicloergômetro, ou em tapete rolante, mas neste caso convencionalmente com aquisição de imagens no pós-esforço imediato. Os benefícios para o doente e para quem analisa os resultados são amplamente maiores,” acrescenta Carlos Cotrim.

E conclui: “O problema é que o SNS continua a financiar, sem qualquer obstáculo a cintigrafia. Pelo contrário o médico de família não tem a possibilidade de solicitar um ecocardiograma de esforço, apesar do preço de uma cintigrafia ultrapassar o dobro do preço de um ecocardiograma de esforço (cerca de 200 euros um ecocardiograma de Esforço e cerca de 400 euros uma cintigrafia). Para além dos custos económicos dos exames com radiação serem maiores também os riscos biológicos com o aumento da incidência de cancro nos devem levar a analisar a prática atual em que a cintigrafia de perfusão miocárdica continua a ser o exame mais utilizado em Portugal para deteção de doença coronária.”

A 1ª reunião do Heart Center do Hospital da Cruz Vermelha vai receber médicos especialistas nacionais e internacionais, para troca de experiências e divulgação de trabalhos clínicos e de investigação sobre o tema. A reunião contará com a presença de especialistas internacionais, como o Professor Eugénio Picano, especialista italiano do Instituto de Fisiologia Clínica de Pisa, Itália, autor de mais de 250 artigos originais publicados em revistas científicas e pioneiro no uso da ecografia de sobrecarga, que irá ajudar a ilustrar como estas técnicas podem revolucionar o tratamento dos doentes, com uma significativa redução da morbilidade e mortalidade. 

Fonte: 
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Nota: 
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