Vai fazer um tratamento de Fertilização In Vitro? O que deve saber…
A FIV é uma técnica sofisticada e bastante eficaz para resolver problemas de fertilidade, e consiste basicamente em estimular os ovários para produzir vários ovócitos (óvulos), realizar a sua colheita e no final juntar os gâmetas do casal (óvulo e espermatozóide) numa placa de “vidro” num laboratório, originando embriões que serão depois colocados no útero da mulher. Se se obtiverem mais embriões do que os transferidos, esses poderão ser “congelados “ para uso futuro. O primeiro bebé nasceu por esta técnica em Inglaterra em 1978, e já existem no mundo mais de 5 milhões de crianças concebidas deste modo. Em Portugal, realiza-se a partir de 1984 e desde 2016, a FIV está acessível a todas as mulheres, solteiras ou casadas (independentemente da sua orientação sexual).
Como escolher a clínica onde fazer o tratamento. Em Portugal existem diversas opções, a AVA Clinic em Lisboa é um dos centros autorizados pelo Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA) onde se podem realizar todas as técnicas de PMA, entre as quais se inclui a FIV. O casal pode escolher livremente entre um Centro público ou privado, a diferença essencial para os centros públicos é o limite de idade (39 anos da mulher) e um tempo de espera que em muitos casos é de um a dois anos. Na escolha deve ter em conta que a taxa de sucesso da clínica depende de vários factores, tais como as características da população que a ele recorre, a qualidade da equipa médica e de biólogos, sendo um dos elementos mais importantes a idade da mulher. Para obter informações detalhadas sobre os custos associados a cada etapa do tratamento deve contactar directamente as clínicas/centros ou informar-se nos respectivos sites da Internet. Na AVA Clinic Lisboa temos uma equipa dedicada que está 100% disponível para esclarecer todas as dúvidas que possam eventualmente surgir.
Em termos de sucesso da Fertilização In Vitro, a maior parte dos casais engravida em média com 2 a 3 tentativas de FIV, sendo a taxa de gravidez variável em função das características de cada casal. De qualquer modo sendo a idade feminina um factor determinante podem esperar-se taxas de sucesso que rondam os 45- 50% em mulheres com menos de 35 anos e taxas de menos de 20 % acima dos 40 anos. Não há uma idade máxima para fazer este tipo de tratamento, mas após os 43 anos as taxas de sucesso (com os próprios óvulos) são tão baixas (< de 9%) que a relação custo-benefício e os riscos do tratamento desaconselham que ele seja realizado. Também não existe um limite máximo para o número de tratamentos.
Os riscos associados a este tipo de tratamentos são baixos mas devem ser bem entendidos por ambos os membros do casal. Além de poder “não resultar” uma FIV envolve várias etapas com riscos distintos:
- Estimulação: a utilização de hormonas para estimular os ovários pode acarreta perigo de estimulação exagerada levando em casos extremos a internamentos, cirurgia ou até risco de vida.
- Colheita dos óvulos: é feita através de uma punção dos ovários por uma agulha introduzida na vagina sob sedação. Em certos casos pode haver lesão de órgãos abdominais, hemorragia ou infecção.
- Transferência de mais do que 1 embrião: pode originar risco de gemelaridade, que constitui uma gravidez de alto risco especialmente pela maior probabilidade de parto prematuro.
O número de embriões transferidos é geralmente baseada na idade da mulher e no número de óvulos recuperados. Uma vez que a taxa de implantação é menor para as pacientes mais idosas, nestes casos são normalmente transferidos mais do que um embrião (excepto para mulheres que recorreram a ovócitos de doadora).
Para um adequado esclarecimento todos os casais recebem um consentimento informado que deve ser assinado por ambos e pelo médico responsável pelo tratamento.
Antes do tratamento, o casal terá de ser submetido a um conjunto de exames que variam consoante cada caso, mas ambos os elementos têm que fazer o despiste de várias doenças infecciosas (cujas análises iniciais têm uma validade de apenas 3 meses). A mulher deve realizar também as denominadas rotinas pré concepcionais e uma ecografia pélvica e o homem terá que fazer um espermograma. Se os exames revelarem alterações ou não estiverem prontos na altura devida, o tratamento pode ter que ser cancelado.
Antes de iniciar o tratamento o casal irá receber um plano com indicações sobre a medicação e dos dias em que terá que fazer ecografias de controlo, ficando prevista nesse plano uma data hipotética para a colheita dos óvulos e para a transferência embrionária para o útero. O casal recebe então, da equipa de enfermagem, orientações de como fazer a medicação (na forma de injecções subcutâneas) e aguarda-se a vinda da menstruação. Ao iniciar a menstruação, a mulher inicia a toma diária das injecções e informa o centro clínico, agendando uma primeira ecografia de controlo.
Na primeira ecografia o médico verifica o efeito da medicação através da medição do número e dimensão dos folículos ováricos bem com o da espessura do revestimento interior do útero (o endométrio). Ocorrendo o efeito desejado agenda-se novo controlo ecográfico, após o qual geralmente se marca a data para a colheita dos óvulos. No dia da colheita dos óvulos a mulher tem que ser submetida a uma sedação/anestesia durante cerca de 20 minutos, nesse período, o médico realiza, em bloco operatório, a colheita dos óvulos utilizando uma agulha acoplada à sonda vaginal do aparelho de ecografia. É um processo simples e rápido sendo desejável a obtenção de pelo menos 5 óvulos “maduros” que são de imediato avaliados pelos biólogos. Simultaneamente o marido disponibiliza a amostra de sémen que algumas horas depois é “misturado” com cada óvulo. Cerca de 2 horas após o procedimento o casal deixa a clínica com as orientações adequadas. No dia seguinte os biólogos verificam a fertilização, o número e qualidade de embriões resultantes do tratamento e informa o casal. Nesse dia a mulher inicia nova medicação, desta vez via vaginal (progesterona). Entre 2 a 5 dias após a punção dos ovários o casal regressa à clínica para a transferência embrionária dando-se indicação à paciente que deve ter a bexiga cheia de modo a facilitar o procedimento. Ela é colocada na marquesa ginecológica como que para um normal exame ginecológico, e após introdução do espéculo, o médico recebe o ou os embriões, no interior de um cateter, e sob controlo ecográfico, introduz cuidadosamente no fundo uterino os embriões. Após este procedimento não é obrigatório repouso podendo de imediato a doente levantar-se. Nesse dia ou nos 2 ou 3 dias seguintes o casal saberá se irá haver lugar ao congelamento de embriões excedentários.
Antes de abandonar o centro, o casal recebe indicações de qual a medicação a fazer e de quando poderá efectuar o “teste de gravidez“ através de uma análise de sangue (doseamento da beta HCG), a realizar cerca de 15 dias após a colheita dos ovócitos. Confirmando-se um teste positivo (valor da beta HCG superior a 5 mUI/ml) será agendada uma ecografia para duas semanas mais tarde, sendo nessa altura que se confirma a existência, localização e número de sacos gestacionais, podendo então assegurar-se o casal de que existe uma gravidez evolutiva, que deverá ser encarada e vigiada de modo semelhante a uma gravidez espontânea.
Dr. José Cunha - Diretor Clínico e Médico Especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Sub-especialista em Medicina da Reprodução, na AVA Clinic Lisboa