40 mil crianças e jovens portugueses têm síndrome de Asperger

Síndrome de Asperger: o que deve saber

Atualizado: 
22/11/2019 - 17:10
Os primeiros sinais de alerta da síndrome de Asperger podem surgir aos 18 meses e a pediatra Mafalda Brito, do Hospital Lusíadas Lisboa, explica por que é tão importante saber reconhecê-los.
Criança sentada de frente para urso de peluche

A síndrome de Asperger é um distúrbio do espetro do autismo, de causa desconhecida, embora se pense que possa ter origem genética. As crianças com síndrome de Asperger apresentam dificuldades ao nível da interação social e problemas de comportamento mas, ao contrário do que acontece no autismo clássico, desenvolvem a linguagem e são capazes de comunicar verbalmente.

Por isso é tão importante compreender e aprender a gerir os comportamentos de uma criança com síndrome de Asperger.

Com que idade é possível fazer o diagnóstico?

Aos 18 meses, a criança já revela alguns sinais:

  1. Não olha os outros nos olhos;
  2. Não aponta;
  3. Não revela qualquer intenção de comunicar;
  4. Não tem jogo simbólico, ou seja não consegue “brincar ao faz de conta” (quando agarra num carrinho faz rodar as rodas mas é incapaz de simular o movimento deste na estrada);
  5. Mostra interesses obsessivos e comportamentos repetitivos, sem nenhuma intenção funcional ou comunicativa (corre à volta de uma sala, sem nenhum interesse pelo que está à volta; ou abana os braços continuamente, não para mostrar contentamento ou outro sentimento, mas sem qualquer intenção).

Como se trata a síndrome de Asperger

Em alguns casos, os médicos podem prescrever medicação para minorar problemas associados, como a ansiedade. Todas as crianças podem, porém, melhorar as suas competências sociais e de comunicação se tiverem acompanhamento especializado de educadores de ensino especial e outros técnicos. Quanto mais cedo se iniciar esse trabalho, em casa e na escola, melhores poderão ser os resultados.

Como lidar e ajudar uma criança com síndrome de Asperger?

Distrair sem proibir

Os comportamentos obsessivos e repetitivos têm, para estas crianças, uma função securizante. É importante não proibir ou contrariar impulsivamente (por exemplo, retirando-lhe da mão o objeto), o que pode causar-lhes grande agitação — é mais eficaz distraí-los.

Respeitar

A mudança é quase sempre mal recebida. Em questões de menor importância, como a criança insistir em só querer comer iogurtes de uma determinada marca, os pais devem facilitar e respeitar o pedido.

Antecipar e explicar

Alterações na rotina diária causam grande perturbação. Qualquer troca de planos — por exemplo, a criança está doente e vai ficar com a avó — deve ser antecipada, explicada e, sempre que possível, acompanhada.

Compreender as limitações para poder trabalhá-las

Há características que são comuns a todas crianças com síndrome de Asperger, independentemente do seu quociente de inteligência. Tendem a interpretar literalmente qualquer palavra ou frase e têm muita dificuldade em captar um segundo sentido ou intenção, o que as faz falhar socialmente (na interpretação de tiradas humorísticas ou maliciosas) e traz problemas escolares (sobretudo no português). Além disso, apresentam dificuldades no que respeita à capacidade de adaptação (se todos os dias fazem o mesmo percurso e um dia o autocarro avaria, ficam perturbadas e é-lhes difícil reorganizarem-se para tomar uma decisão alternativa simples como “ir a pé”, “telefonar a alguém” ou “chamar um táxi”).

A importância dos estímulos

Cada caso é um caso, mas as competências de cada criança podem sempre ser estimuladas e melhoradas. Uma criança com síndrome de Asperger, acompanhada desde cedo, pode fazer o percurso escolar habitual. Estas crianças têm interesses muito específicos — números, mapas, um determinado período histórico, entre outros. Em alguns casos, essas capacidades são mais tarde dirigidas com sucesso a uma área de estudo ou de trabalho específica.

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Autor: 
Dra. Mafalda Brito - pediatra do Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pixabay