Entrevista

Sabe o que é a Dermatite de Contacto?

Atualizado: 
06/12/2019 - 15:26
As doenças cutâneas são bastante frequentes mas nem sempre lhes é dada a devida atenção. O Atlas da Saúde esteve à conversa com a dermatologista Cristina Amaro para lhe dar a conhecer uma das doenças cutâneas mais comuns: a Dermatite de Contacto.

O que é a Dermatite de Contacto e quais os seus principais sintomas?

A dermatite de contacto refere-se a um grupo de alterações da pele no qual surge uma reação cutânea após o contacto direto com o agente causal. O termo dermatite é equivalente a eczema, o qual pode ser agudo (um único episódio), limitado ou não ao local do contacto com eritema, pápulas ou vesículas ou crónico (persistente) observando-se neste caso sinais de cronicidade como o espessamento da pele. Quase sempre se acompanha por prurido. 

Quais os tipos mais frequentes de Dermatite de Contacto?

As formas mais frequentes de dermatite de contacto são a irritativa e a alérgica. Dentro desta, existe o subtipo fotoalérgica, que apenas é desencadeada quando o agente é exposto à radiação solar ultravioleta.

O que distingue a Dermatite de contacto irritativa da Dermatite de contacto alérgica?

A dermatite de contacto irritativa pode ocorrer após uma única exposição a um agente irritativo (por exemplo um desengordurante). Mas habitualmente, trata-se de uma situação onde a exposição repetida a substâncias como detergentes, solventes ou a imersão frequente em água levam à lesão da barreira cutânea. As manifestações clínicas geralmente são limitadas aos locais de contacto. Este tipo de reação é mais comum nos atópicos (doentes que já têm história prévia de eczema, rinite ou asma) ou noutras condições onde a pele já está previamente comprometida.

A dermatite de contacto alérgica exige uma sensibilização prévia a um determinado alérgeno específico. Esse agente é apresentado à pele várias vezes até que se dá uma verdadeira reação alérgica, sob a forma de eczema. Este tipo de reação é designado por hipersensibilidade retardada, podendo desencadear-se apenas 48 a 96h após o contacto com a substância. As manifestações clínicas tipicamente extravasam a área de contacto.

Quais são, por exemplo, as substâncias ou agentes que causam cada uma das variantes da erupção cutânea?

Como referido na questão anterior as substâncias causadoras de dermatites irritativas são detergentes, solventes, sabões, mas também podem ser por exemplo factores mecânicos (o caso de um trabalhador que exerça sempre o mesmo tipo de movimento de fricção). Este tipo de dermatite de contacto é mais comummente observado nos profissionais que têm trabalhos húmidos, com imersão frequente das mãos em água ou que contactam com agentes detergentes.

As substâncias que mais frequentemente estão implicadas no eczema de contacto alérgico são os metais, as fragrâncias e os conservantes. Os acrilatos (colas das unhas de gel) também têm tido especial destaque, quer a nível profissional, quer a nível pessoal, pelo que hoje em dia se tornaram um dos alérgenos testados de forma sistemática em doentes com suspeita de dermatite de contacto.

É fácil identificar as suas causas? Como é feito o diagnóstico?

A distinção entre as 2 formas nem sempre é fácil, podendo mesmo coexistir formas clínicas e polissensibilizações (ou seja, alergia a mais do que uma substância). Não raramente a dermatite irritativa, ao lesar a barreira cutânea, predispõe à sensibilização alérgica posterior. Para o esclarecimento diagnóstico, os doentes são referenciados à consulta de Alergologia cutânea, na qual se realizam as chamadas provas epicutâneas. Nestes testes, colocam-se em contacto com a pele várias baterias com uma variedade de alérgenos selecionados consoante a história clínica. Dada a reação poder apenas decorrer após várias horas de contacto, as leituras são efectuadas às 48 e 96h. Cada positividade é interpretada individualmente e é-lhe atribuída a sua relevância. Esta pode ser atual, isto é, com impacto na história do doente e a sua evicção resulta na melhoria clínica.


A especialista do Hospital de Egas Moniz e Cuf Descobertas, Cristina Amaro, destaca o eritema, as pápulas ou vesículas como os principais sintomas 

Quando se deve consultar o médico?

O eczema deve ser investigado caso persista. O doente deve ser enviado a uma consulta de Dermatologia para que seja realizada uma história clínica pormenorizada.

Qual o prognóstico da Dermatite de Contacto? Quanto tempo demora a erupção passar?

Teoricamente a evicção dos factores causais, sejam irritativos ou alérgicos, resulta numa melhoria clínica. O prognóstico é variável consoante a gravidade e a existência de predisposição a outras dermatoses de base, como o eczema atópico. Dependendo da área anatómica, podemos ter quadros bastante debilitantes como no eczema das mãos. Quando a dermatose tem relevância profissional poderá ser mais difícil a evicção total dos factores envolvidos.

Qual o tratamento indicado e quais os principais cuidados a ter?

Por vezes é necessário adicionar medidas terapêuticas como o uso de creme emoliente (creme hidratante) para restruturar a barreira cutânea, assim como medicação anti-inflamatória como por exemplo os corticosteróides.

Quais as principais medidas de prevenção?

A prevenção é primordial. O uso de medidas de proteção adequado é uma das principais recomendações. Os doentes devem evitar a manipulação das substâncias irritativas ou alérgicas utilizando, por exemplo, luvas que impeçam o contacto com esses químicos. As luvas devem ser individualizadas para cada caso, no que respeita ao seu tamanho, composição e capacidade de proteção. A utilização concomitante de luvas de algodão minora o efeito oclusivo das luvas de proteção. A aplicação regular de creme emoliente também constitui uma medida de prevenção.

Quais as complicações possíveis? O quadro pode evoluir para uma condição mais grave?

Por vezes, como dito anteriormente, o eczema pode extravasar a área de contacto e sofrer uma generalização pelo tegumento cutâneo. Nestes casos, a terapêutica pode ter que passar pelo uso de medicação oral. Há ainda uma outra condição designada por dermatite de contacto sistémica. Esta resulta da exposição por via sistémica (por exemplo através da absorção pelas mucosas do olho, anal, por via endovenosa ou inalatória) a alérgenos aos quais o doente se sensibilizou previamente através da pele, com aparecimento de quadros cutâneos mais complexos. 

Para terminar, que outras considerações gostaria de fazer sobre o tema?

Esta é uma área em constante atualização tendo em conta o desenvolvimento de novos produtos cosméticos e industriais. Os cosméticos têm vindo a tornar-se nos últimos anos os maiores causadores de dermatite de contacto alérgica dado o seu uso generalizado.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Dra. Cristina Amaro