Médicos Sem Fronteiras

Resposta internacional no combate ao ébola criticada

Os Médicos Sem Fronteiras criticaram a lenta resposta da comunidade internacional no combate ao ébola, num relatório que descreve os “horrores indescritíveis” que a agência humanitária presenciou durante o trabalho contra a doença.

Um ano depois do início da epidemia de ébola, mais de 10.000 pessoas morreram e cerca de 25.000 foram infectadas pelo vírus, que foi identificado pela primeira vez na zona ocidental de África, principalmente na Guiné, na Libéria e na Serra Leoa.

Para os Médicos Sem Fronteiras (MSF), “meses e vidas perderam-se” porque a Organização Mundial de Saúde (OMS), que “é responsável por liderar emergências de saúde globais e que detém o conhecimento para controlar o surto”, falhou em responder de forma rápida e adequada.

O relatório acusa a Rede Global de Alerta e Resposta da OMS (GOARN, na sigla em inglês) de ignorar os pedidos de ajuda desesperados dos técnicos em Junho.

“Lembro-me de enfatizar que tínhamos a hipótese de parar a epidemia na Libéria se a ajuda fosse enviada naquela altura”, afirmou Marie-Christine Ferir, coordenadora de emergência dos MSF.

“Foi no início do surto e ainda havia tempo. O pedido de ajuda foi ouvido mas não foram tomadas medidas”, lembrou.

A OMS não definiu um centro regional para coordenação da resposta médica até Julho, altura em que já tinha surgido uma segunda onda da epidemia.

“Todos os elementos que levaram ao reaparecimento do surto em Junho também estavam presentes em Março, mas a análise, o reconhecimento e a vontade de assumir responsabilidades para responder de forma robusta não estavam lá”, refere o relatório.

Por outro lado, os MSF recordam que dispunham de apenas 40 pessoas com experiência com ébola quando o surto começou: “Não conseguíamos estar em todo o lado ao mesmo tempo, nem devia ser o nosso papel assumir uma resposta sozinhos”, afirmou Brice de le Vingne, director de operações da MSF.

Foi apenas quando um médico norte-americano e uma enfermeira espanhola foram diagnosticados com ébola que o mundo acordou para a ameaça do vírus, considera a agência humanitária no relatório divulgado.

Contactada pela agência noticiosa France Press (AFP), a OMS não quis comentar o relatório.

Os MSF também culpam os governos da Guiné e da Serra Leoa por recusarem admitir a escala da epidemia, afirmando que colocaram “obstáculos desnecessários” no caminho das equipas dos MSF.

A crise levou ao maior programa de formação na história da agência, com 1.300 técnicos internacionais e 4.000 locais mobilizados.

O programa estava inicialmente focado na Guiné e na Serra Leoa, mas quando a associação humanitária Samaritan’s Purse deixou a Libéria, no seguimento da infecção de um dos seus médicos, os MSF tiveram de decidir se abandonavam o país ou se levavam a sua equipa extremamente sobrecarregada a assumir mais riscos.

“Não podíamos deixar a Libéria afundar-se ainda mais”, disse Brice de le Vingne, recordando que acabaram por enviar coordenadores sem experiência com o ébola, e apenas com dois dias de treino, para o país.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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