Estudo

Problemas evitáveis ameaçam futuro de dois terços dos jovens do mundo

Dois terços dos jovens dos 10 aos 24 anos vivem em países onde problemas evitáveis como o VIH, a gravidez precoce, a depressão ou a violência ameaçam o seu futuro, revela um relatório.

A conclusão é de um estudo que a revista The Lancet apresenta em Londres e resulta de um trabalho desenvolvido desde 2009 por 26 especialistas de 14 países, ao abrigo de uma comissão liderada por especialistas em saúde adolescente na Universidade de Melbourne, na Austrália, na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, na University College de Londres e na Universidade de Columbia, em Nova Iorque.

Segundo o relatório agora publicado, os adolescentes de entre 10 e 24 anos representam mais de um quarto da população mundial, mas, porque a adolescência é normalmente considerada a fase mais saudável da vida, têm sido vítimas de décadas de negligência e falta de investimento, com consequências na sua saúde e bem-estar.

Esta faixa etária abrange 1,8 mil milhões de pessoas, 89% das quais vivem em países em desenvolvimento, e deverá abranger 2 mil milhões em 2032, mas os especialistas afirmam que tem a pior cobertura de cuidados de saúde de todos os grupos etários.

Com efeito, enquanto os esforços mundiais para melhorar a saúde das crianças até aos cinco anos levou a importantes melhorias, as causas de morte dos jovens de 10-24 anos pouco mudaram entre 1990 e 2013, mantendo-se no topo das causas os acidentes rodoviários, a automutilação, a violência e a tuberculose.

Os adolescentes enfrentam também novos desafios, como o aumento dos níveis de obesidade e doença mental, o elevado desemprego e o risco de radicalização.

Os especialistas lembram que os comportamentos que começam na adolescência podem determinar a saúde e o bem-estar para toda a vida, pelo que a comissão de especialistas espera que este relatório seja um grito de alerta para atrair mais investimento naquela que é a maior geração de adolescentes da história mundial.

Este investimento, garantem, terá benefícios em três fases: hoje, na idade adulta destes jovens e na próxima geração de crianças.

"Esta geração de jovens pode transformar o futuro de todos nós. Não há tarefa mais urgente na saúde global do que garantir que eles têm recursos para o fazer. Isto significa que é crucial investir urgentemente na sua saúde, educação, meios de subsistência e participação", disse o autor principal, George Patton, da Universidade de Melbourne, citado num comunicado da revista Lancet.

Segundo uma nova análise internacional dos dados do estudo Peso Global da Doença (Global Burden of Disease), realizada pelo Instituto para a Métrica e a Avaliação da Saúde (IMAS), da Universidade de Washington, em Seattle, as principais causas de morte dos jovens entre os 10 e os 14 anos são o VIH/SIDA, os acidentes rodoviários e os afogamentos, que juntos provocaram um quarto das mortes naquela faixa etária em 2013.

As doenças infecciosas do intestino, as infeções respiratórias e a malária contribuíram para outros 21% das mortes.

Já entre os 15 e os 24, as principais causas são os acidentes rodoviários, a automutilação e a violência.

A depressão resultou no maior peso da doença a nível mundial em 2013, afetando mais de 10% dos 10 aos 24 anos, seguida do aumento das doenças de pele, como o acne e a dermatite.

O fator de risco para a saúde dos adolescentes que mais aumentou nos últimos 23 anos foi o sexo desprotegido, enquanto o álcool continua a ser o maior fator de risco para os jovens adultos entre os 20 e os 24 anos, sendo responsável por 7% do peso da doença.

"Os nossos dados mostram uma clara necessidade de esforços renovados para melhorar a saúde e reduzir o peso da doença nos jovens. A inação continuada terá ramificações graves na saúde desta geração e da próxima", alertou Ali Mokdad, do IMAS.

A comissão conclui que algumas das medidas mais eficazes para melhorar a saúde e o bem-estar dos adolescentes pertencem a setores para além da saúde: "O melhor investimento que podemos fazer é garantir o acesso a educação secundária gratuita e de qualidade", explicou Patton.

"Cada ano de educação para além dos 12 anos de idade está associado a menos adolescentes a terem filhos e a menos mortes entre os rapazes e as raparigas. Uma força de trabalho saudável e instruída tem o potencial de moldar as perspetivas económicas de um país", acrescentou.

Para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, "os jovens são o maior recurso inexplorado do mundo".

Num comentário citado no comunicado da Lancet, Ban Ki-moon escreve que os adolescentes "podem ser a força motriz na construção de um futuro digno para todos", permitindo alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Os autores fazem uma série de recomendações para melhorar as perspetivas da saúde e bem-estar dos adolescentes, que vão na linha das orientações da Estratégia Global para a Saúde das Mulheres, das Crianças e dos Adolescentes, lançada em setembro do ano passado.

Alargar o ensino secundário gratuito; apostar a sério nas leis que protegem e dão poder aos adolescentes, como a que garante os 18 anos como idade mínima para o casamento; e continuar a reunir evidências que suportem a ação em torno da saúde mental e da violência são algumas das recomendações.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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