Liga Portuguesa Contra o Cancro

Prevenção oncológica continua a ser "um elo muito frágil"

O presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro/Norte afirmou que a prevenção oncológica continua a ser “um elo muito frágil”, referindo que grande parte dos cancros no nosso país continuam a ser detectados tardiamente.

Vítor Veloso, presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro/Norte, defendeu a necessidade de o Estado adoptar medidas “urgentes e adequadas” no campo da prevenção primária e secundária. “É necessário que o estado compreenda que embora este tipo de prevenção seja, sob o ponto de vista económico, um pouco pesado inicialmente, esse investimento tem a médio prazo (5/10 anos) uma compensação muito grande em termos económicos, porque é totalmente diferente tratar um doente com cancro inicial do que tratar um doente com cancro avançado”, sublinhou.

Para o presidente do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) “[o doente] além de ter uma sobrevivência muito menor, de não poder ser curado e de ter má qualidade de vida, vai gastar ao erário público o triplo, o quadruplo ou o quíntuplo do que um cancro inicial”.

Em relação aos resultados dos rastreios de base populacional (prevenção secundária) realizados em Portugal (cancro da mama, cancro do colo do útero e cancro colo-rectal), Vítor Veloso referiu que em relação ao cancro do colo do útero, “no norte e sul esse rastreio praticamente não funciona, na medida em que são rastreios oportunísticos, que não têm estrutura, qualidade e, nesse sentido, ainda não são, de maneira nenhuma, consequentes. o mesmo sucede em relação ao cancro do cólon e recto”.

“Espero que estas situações sejam ultrapassadas e que os rastreios que estão atribuídos às respectivas Administrações Regionais de Saúde ultrapassem as barreiras e comecem a funcionar com qualidade e com as respectivas estruturas”, disse.

No que se refere ao rastreio do cancro da mama, realizado pela LPCC, Vítor Veloso afirmou que “no centro está praticamente concluído e, no norte, cerca de 80% da população já está coberta”.

“Esperamos que no próximo ano tenhamos já a população de todo o norte também completamente rastreada. No sul há grandes áreas que não estão cobertas, não por culpa da liga, mas por culpa de outras situações que correspondem muitas vezes a interesses instalados”, afirmou.

Outro dos assuntos que estará em análise no congresso será os direitos dos doentes oncológicos e sobreviventes de cancro. Segundo o responsável, a legislação em vigor no nosso país encontra-se dispersa por diversos decretos-lei, portarias e normas de orientação, “facto que impossibilita os doentes de terem um conhecimento adequado e, em tempo útil, dos seus direitos nos mais diversos aspectos e sectores”. “Esta situação permite que os doentes oncológicos sistematicamente sofram atropelos por parte das diferentes entidades de saúde, as quais sistematicamente informam, não conhecer ou não terem indicações relativas aos direitos legais dos doentes”, nomeadamente, no que se refere ao pagamento de taxas moderadoras.

Segundo a LPCC, os maus hábitos de vida como o álcool e o tabaco, a sedentarização, uma má alimentação e obesidade e o mau uso do sol agravam o risco de cancro. Se estes comportamentos fossem evitados conseguia-se evitar o cancro em 80% dos casos.

É por esse motivo que Vítor Veloso insiste na necessidade de “implementar planos de educação estruturados nas escolas e na comunidade em geral de estilos de vida saudáveis. Informar a população e sensibilizá-las para os comportamentos de risco. Depois deste primeiro grande passo, deveriam criar-se estruturas que permitissem um rastreio abrangente, dirigido e de diagnóstico precoce da doença”.

A Organização Mundial de Saúde prevê, caso não sejam adoptadas medidas urgentes e adequadas no campo da prevenção primária e secundária, um aumento de 50% de novos casos de cancro nos próximos 20 anos.

Segundo a LPCC, em Portugal são diagnosticados anualmente 55 mil novos casos de cancro aumentando gradualmente nos últimos anos. A taxa de sobrevivência dos doentes ronda os 55% (doença controlada há pelo menos 10 anos). É já considerado o principal problema de saúde pública, sendo cada vez mais encarado como uma doença crónica.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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