Semana Europeia de Prevenção do Cancro do Colo do Útero assinala-se de 21 a 27 de janeiro

Prevenção do Cancro do Colo do Útero: um cancro que pode ser evitado

Atualizado: 
25/01/2019 - 10:11
O Cancro do Colo do Útero (CCU) é o 2º cancro ginecológico mais frequente na mulher com menos de 50 anos. A nível mundial, estima-se que ocorram 530.000 novos casos por ano. Em Portugal, a incidência tem vindo a baixar mas o número de casos continua elevado - cerca de 750 por ano.

Nos anos 90, a epidemiologia e a biologia molecular estabeleceram uma relação causal entre a infeção persistente pelo papiloma vírus humano (HPV) de alto risco e o CCU, tornando-se no 1º cancro que tem sempre como causa necessária um agente infecioso. A infeção persistente pelo HPV é condição necessária para o desenvolvimento da doença.

Os genótipos 16 e 18 respondem por 70 a 75% dos casos na Europa e os tipos 31, 33, 45, 52 e 58 por mais 20%, o que significa que, no seu conjunto, estão envolvidos 90 a 95% dos casos de CCU, 95% do cancro do ânus, 90% do cancro da vulva, 85% do cancro da vagina, para além do cancro do pénis e muitos casos da orofaringe.

A identificação de um agente etiológico de origem viral levou ao desenvolvimento de uma vacina profilática, dirigida contra a infeção pelos HPV’s de alto risco 16,18, 31, 33, 45, 52 e 58. Os resultados de eficácia obtidos por esta vacina nos ensaios clínicos são próximos dos 100%. Os resultados na vida real confirmam que a vacina é altamente eficaz e sustentam a afirmação de que a prevenção primária do CCU causado por esses 7 tipos de HPV é possível.

O rastreio continua a ser fundamental. Permite a prevenção secundária, porque, por essa via, identificamos as lesões pré-cancerosas e evitamos o aparecimento do cancro. Tradicionalmente, o rastreio foi feito com a realização regular da citologia do colo do útero. Hoje sabe-se que não é a metodologia mais eficaz, daí a substituição da citologia pelo teste que identifica a presença do HPV de alto risco. Este teste permite a pesquisa do agente causal e é mais eficaz que a citologia. É o que está a acontecer no nosso país – as sociedades científicas e a Direção Geral da Saúde recomendam a realização do teste ao HPV de alto risco como método preferencial de rastreio, nas mulheres dos 25 aos 60 anos.

A estratégia de prevenção do CCU deve assumir duas perspetivas complementares: saúde pública e individual.

A primeira da responsabilidade das autoridades de saúde que devem planear e articular alguns programas:

Vacinação contra as doenças provocadas pelo HPV, no âmbito do Plano Nacional de Vacinação - para raparigas, como está a ser feito, mas também para rapazes, como se impõe.

Implementação de programas de rastreio com o teste ao HPV, em todo o país, com base nos médicos de família, devidamente organizados, com convite personalizado e controlo de qualidade.

Articulação dos cuidados de saúde em rede de referenciação, com vista ao diagnóstico precoce, tratamento e seguimento das doentes, com controlo de qualidade.

Não podemos esquecer a perspetiva individual, que é da responsabilidade da mulher e do seu médico assistente. Apenas 4% das mulheres com mais de 25 anos foram vacinadas!

Na semana passada recebi no consultório uma mulher com 32 anos com uma lesão pré-cancerosa do colo do útero. Vi na ficha clínica que lhe tinha recomendado que fizesse a vacina em 2008, quando ela tinha 22 anos e questionei-a se o tinha feito. “Não fiz, Senhor Doutor, fui a um colega seu que me disse que não ia ser eficaz, porque eu já tinha tido relações”. Ela estava arrependida de não ter seguido a minha orientação e eu penalizado porque não tinha sido suficientemente convincente. Estou certo que se fosse vacinada teria evitado a sua situação atual. Em princípio, todas as mulheres devem ser vacinadas, mesmo aquelas que têm lesões, como o demonstra a evidência científica publicada.

Em suma, a prevenção do CCU passa pela vacinação e rastreio. É um cancro evitável – a decisão cabe a todos nós.

Dr. Daniel Pereira da Silva
Ginecologista - Instituto Médico de Coimbra

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock