ASTOR e Fundação Grünenthal

Prémio na área da dor distingue tratamento de doença inflamatória das veias

O Prémio Grünenthal/ASTOR 2016 foi atribuído, em Lisboa, a equipas médicas envolvidas no tratamento da doença inflamatória das veias e no estudo sobre dor aguda em cuidados intensivos e incidência de dor crónica pós-alta hospitalar.

O prémio, no valor de 2.500 euros, vai ser repartido pela equipa médica da unidade de dor crónica do Centro Hospitalar do Porto (Hospital de Santo António) e por uma equipa de médicos da unidade de cuidados intensivos do Hospital de Cascais, indicaram as entidades promotoras, a Associação para o Desenvolvimento da Terapia da Dor (ASTOR) e a Fundação Grünenthal, que apoia a investigação e o tratamento da dor.

A unidade de dor crónica do Centro Hospitalar do Porto conseguiu, recorrendo à técnica de estimulação elétrica medular, evitar que os dedos das mãos de uma mulher, com doença inflamatória nas veias, tivessem de ser amputados, por ausência de circulação sanguínea, enquanto a equipa de Cascais concluiu, num inquérito, que doentes internados nos cuidados intensivos com mais dor aguda manifestam dor crónica após alta hospitalar.

A médica anestesiologista Dalila Veiga explicou à Lusa que a técnica usada pela unidade de que faz parte permitiu recuperar a circulação sanguínea nas mãos de uma paciente e travar a dor que sentia, em consequência da "oclusão dos vasos sanguíneos".

A mulher, de 60 anos e fumadora, é portadora da doença de Buerguer e estava em risco de lhe serem amputados os dedos das mãos.

A doença de Buerguer é uma obstrução das veias e artérias de pequeno e médio calibre, que leva à redução da circulação sanguínea nos dedos das mãos e dos pés, sendo mais frequente em fumadores e em homens.

Nos casos mais graves, a patologia pode conduzir à amputação dos dedos ou do membro inteiro.

Na doente em causa, foram colocados, sob anestesia local, dois elétrodos na coluna, que, ao produzirem estímulos, "levam a que haja uma abertura dos vasos, uma nova recirculação sanguínea", assinalou Dalila Veiga.

Ao fim de um mês, a doente melhorou das lesões (feridas nas mãos) e queixou-se de menos dores. Os resultados continuaram positivos passados seis meses.

A equipa da unidade de dor crónica do Centro Hospitalar do Porto confirmou "a taxa de sucesso" da técnica com medições dos níveis de oxigénio nos dedos das mãos (o sangue é que transporta o oxigénio para as células).

"Os valores tinham revertido para quase a normalidade seis meses depois" do tratamento, vincou a médica, salientando que os custos da intervenção, apesar de inicialmente dispendiosos, são amortizados pelos resultados obtidos: recuperação da circulação sanguínea e ausência de dores e lesões.

A técnica não é inovadora em Portugal, mas foi testada, pela primeira vez, no Hospital de Santo António, com uma pessoa com a doença de Buerguer.

Os elétrodos colocados na coluna estão ligados a uma pequena bateria implantada sob a pele. O doente dispõe de um programador que lhe permite gerir a intensidade dos estímulos elétricos que recebe - a intensidade dos estímulos será maior no inverno, época do ano em que, por causa do frio, os vasos sanguíneos contraem-se mais.

Os doentes submetidos à técnica de estimulação elétrica medular só têm de mudar a bateria, num período de dez ou mais anos, manter-se sob vigilância médica e não voltarem a fumar, assinalou Dalila Veiga.

No seu estudo, a equipa médica da unidade de cuidados intensivos de Cascais concluiu que mais de metade dos 72 doentes inquiridos, com dor aguda mais acentuada, enquanto estiveram internados, reportaram dor crónica meses depois de terem tido alta hospitalar.

O trabalho pretende, nas palavras da médica Raquel Almeida, sensibilizar para "o controlo e tratamento adequado da dor ainda no internamento" hospitalar e alertar para "a correta e sistemática avaliação da dor", um "sinal que não deve ser subvalorizado".

O Prémio Grünenthal/ASTOR distingue trabalhos originais em língua portuguesa relacionados com a investigação e a prática clínica no tratamento da dor, da autoria de profissionais de saúde e apresentados sob a forma de comunicação oral.

O galardão foi entregue no 14º Convénio da ASTOR, em Lisboa.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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