Relatório do Global Health Security Agenda

Portugal está bem preparado para ameaças de saúde pública

Plano Nacional de Vacinação foi uma das 10 categorias, num total de 11, a receber nota máxima. Os autores do documento ressalvam, contudo, algumas limitações do trabalho, como por exemplo o facto de a equipa não ter podido ir ao terreno.

Os autores do documento ressalvam, contudo, algumas limitações no trabalho, como o facto de a equipa não ter podido ir ao terreno Ivan Alvarado/REUTERS

Portugal parece estar bem preparado para lidar com ameaças de saúde pública, como uma pandemia de gripe ou um surto do vírus ébola, conclui um relatório do Global Health Security Agenda (GHSA), um organismo de segurança norte-americano criado pela Administração de Barack Obama, que resultou de uma avaliação de nove peritos que visitaram o país, escreve o jornal Público na sua edição online.

Portugal teve a classificação máxima em 10 das 11 categorias avaliadas, como por exemplo no combate à resistência à acção dos antibióticos, na capacidade de imunização da população e no Plano Nacional de Vacinação. Também recebeu nota máxima (4) na capacidade de resposta rápida a ameaças biológicas, assim como na capacidade de alocação de meios em situações de crise, no funcionamento dos centros de emergência, na capacidade de monitorização de situações de crise em tempo real. Também foi elogiada a relação entre organismos públicos para lidarem com este tipo de situações, incluindo a articulação com as forças de segurança.

O sistema nacional de laboratórios e a capacidade de vigilância e erradicação de doenças de origem animal, sendo actualmente notificadas uma lista de cerca de 80 doenças (como a BSE, brucelose, salmonelas), também ficou no topo da classificação. Mas neste item (das chamadas zoonoses) é referido que poderia haver um reforço de comunicação entre as autoridades de saúde e os serviços veterinários, uma recomendação que surge em várias das categorias avaliadas, e é sugerida a criação de regras oficiais de articulação.

"As ameaças de saúde ao nível do ecossistema humano-animal aumentaram nas últimas décadas, à medida que os agentes patogénicos se desenvolveram e adaptaram a novos hospedeiros e ambientes, trazendo nova sobrecarga aos sistemas de saúde humana e animal", lê-se. A GHSA recomenda, por essa razão, que a vigilância seja feita, cada vez mais, de forma combinada e em estreita colaboração.

“Ficámos mais tranquilos ao saber que a estratégia definida em Portugal mereceu a aprovação e notas elevadas, em 11 categorias”, disse o director-geral de Saúde, Francisco George. A pedido de Portugal, a equipa de nove peritos analisou ainda a capacidade do país para lidar com o vírus do ébola. O organismo americano aconselha Portugal a rever as regras e procedimentos que existem a nível nacional para as adaptar a contextos locais, havendo ainda "lugar para melhoria ao nível da disseminação da informação ao nível electrónico". "Melhorar a colaboração entre a área da descontaminação e eliminação de resíduos foi identificada como uma área que precisa de ser reforçada", refere ainda o documento de 42 páginas.

Casos suspeitos de ébola não confirmados

Portugal tem actualmente uma equipa de 11 elementos na Guiné-Bissau, onde montou um laboratório de virologia que passou a permitir a detecção do vírus no local, explica Francisco George. A missão portuguesa, prevista para estar no terreno durante seis meses, deveria terminar em Setembro. Mas nessa altura, “haverá uma reavaliação”, explicou Francisco George.

Desde 2014 foram reportados em Portugal nove casos suspeitos, todos negativos ao vírus do ébola. Dois deles foram detectados através da Linha de Saúde 24 e sete chegaram através de estabelecimentos de saúde.

A única categoria onde Portugal aparece menos bem classificado é na chamada biossegurança, ou segurança biológica: foi classificado com um 2 numa escala de 0 a 4. Neste item avalia-se, por exemplo, a existência de regras para o transporte de amostras com agentes perigosos ao nível dos laboratórios. O documento diz que existe legislação a este respeito mas que, fora do Instituto Nacional de Saúde Dr Ricardo Jorge, nunca foi feita uma avaliação para perceber se estão a ser cumpridos os procedimentos de segurança nos laboratórios, nomeadamente no sector privado.

Os autores do documento ressalvam, contudo, algumas limitações no trabalho, como por exemplo o facto de a equipa não ter podido ir ao terreno, a nível regional e local, para consolidar as informações colhidas a nível central. “Uma análise deste tipo poderia conferir mais objectividade a esta análise”, referem.

Portugal é o primeiro país na Europa e o quarto no mundo a submeter-se à peritagem, depois da Geórgia, Peru e Uganda. A equipa vai de seguida avaliar o Reino Unido.

Fonte: 
Público Online
Nota: 
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