Morte súbita

O que podemos fazer quando o coração pára?

A Sociedade Portuguesa de Cardiologia escolhe o mês de maio, mês do coração, para alertar para a realidade da morte súbita em Portugal e para o que deveríamos fazer para reduzir os números.

Em Portugal, em média, cerca de 10 mil pessoas deverão sofrer morte súbita cardíaca, tendo em conta os números da mortalidade cardiovascular anual. A prevalência desta situação clínica é superior em faixas etárias mais avançadas, muito embora se possa registar em jovens com doença cardíaca hereditária. Cerca de 20% da mortalidade global da população ocorre como morte súbita e aproximadamente metade das mortes cardiovasculares devem-se a episódios de morte súbita.

A questão essencial para a Sociedade Portuguesa de Cardiologia é que, inúmeros casos de morte súbita poderiam ter sido evitados se manobras de reanimação imediatas tivessem sido aplicadas. Tal seria possível se a generalidade dos cidadãos, tivesse sido treinada para tal, independentemente da faixa etária ou grau de diferenciação. Em alguns países o treino de “suporte básico de vida” (SBV) é ensinado nas escolas, como parte do programa curricular , há mais de 20 anos. A par desta formação, recorrente e obrigatória nas escolas, a sensibilização de todos os cidadãos para a importância desta aprendizagem e treino, reveste-se de particular importância, devendo ser assumida coletiva e individualmente.

Finalmente a disponibilização de equipamento apropriado, denominado DAE (desfibrilhador automático externo) em locais públicos, de maior concentração de pessoas, como recintos desportivos, grandes superfícies comerciais, aeroportos ou até mesmo na via publica deve ser considerado requisito básico de segurança.

A verdade é que ainda não existem medidas ou legislação que suportem estes objetivos, sendo por isso importante sensibilizar os governos e a sociedade civil para esta realidade.

Garantir que o cidadão comum sabe reanimar e compreende os princípios práticos e básicos do suporte básico de vida, é garantir que, nos momentos seguintes a um episódio de morte súbita, a vítima possa ser reanimada e assim uma vida possa ser salva.

Salvar vidas é tarefa dos médicos, é certo!. Mas, muito mais vezes do que se possa pensar, a possibilidade de salvar uma vida em risco de morte súbita, pode estar nas mãos do cidadão comum.

O cardiologista Prof. Mário Oliveira, Cardiologista e Arritmologista, Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, esclarece algumas questões essenciais inerentes a este tema:

O que é a morte súbita?
A morte súbita é a morte que ocorre de forma inesperada no espaço de uma hora, ou até uma hora depois de se iniciarem os sintomas.

Qual a prevalência da morte súbita em Portugal?
20% da mortalidade global da população ocorre por morte súbita. Cerca de metade das mortes cardiovasculares devem-se a episódios de morte súbita.

Quais são os fatores de risco associados aos episódios de morte súbita?
Distinguem-se 3 grandes fatores de risco que determinam a grande maioria dos episódios de morte súbita, nomeadamente:

• Sobreviventes de enfarte – que ficam com uma cicatriz no coração e essa cicatriz pode originar arritmias malignas (culminando em morte);

• Pessoas com insuficiência cardíaca – que pode resultar quer de doença primária do músculo cardíaco, quer secundariamente a doença das válvulas ou das artérias coronárias. Independentemente da causa que motivou a insuficiência cardíaca, esta pode provocar o aparecimento de arritmias malignas e assim levar à morte súbita ;

• Doenças Cardíacas Hereditárias e/ou Elétricas – Doenças hereditárias do músculo cardíaco como a Miocardiopatia Hipertrófica ou doenças elétricas do coração como o Síndrome de Brugada, são alguns exemplos.

Em alguns tipos de doenças que podem provocar a morte súbita, o coração é estruturalmente normal, ou seja não há doença das válvulas nem do músculo cardíaco, como por exemplo no Sindrome de Brugada, tornando muito difícil o diagnóstico prévio ao episódio de morte súbita.

Que medidas de prevenção podemos destacar?
A medicina tenta identificar as pessoas com maior probabilidade de sofrer um ataque de Morte Súbita. Uma vez identificado um individuo com alto risco de morte súbita, deverá ser implantado um Cardioversor Desfibrilhador Interno (CDI). Este aparelho atua monitorizando o coração e, caso ocorra uma arritmia maligna, o aparelho estimula o coração, parando a arritmia.

Nos casos em que o doente não possui antecedentes cardiovasculares, mas tem critérios de risco para implantar um CDI, diz-se estar perante um caso de prevenção primária.

Quando o doente já sobreviveu a um evento cardiovascular arrítmico identificamos o caso como prevenção secundária.

O Presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, Dr. Miguel Mendes, comenta a realidade Portuguesa e esclarece a posição da Sociedade face a este tema.

O que podemos fazer para diminuir o número de mortes súbitas em Portugal?
A Sociedade Portuguesa de Cardiologia tem quatro eixos de atuação que garante que irão ser apresentados à tutela e que passam pela sensibilização para a alteração de algumas conjunturas que podem ser determinantes para a redução do número de mortes súbitas em Portugal:

- No sistema de ensino deveria ser ensinado Suporte Básico de Vida e noções básicas de saúde cardiovascular por forma a garantir a educação das crianças e jovens, desde cedo, nesta matéria;

- A sociedade civil deverá estar mais alerta para o que pode significar para o cidadão comum ter Formação em Suporte Básico de Vida , procurando formação em SBV, podendo assim contribuir para que cada individuo esteja apto a salvar uma vida;

- A legislação e segurança inerente às provas de desporto deverá ser revista: A SPC defende que em todas as provas desportivas os atletas amadores recorram aos serviços médicos para avaliação cardiovascular. Além disso, consideramos que as organizações desse tipo de provas deveriam ser obrigadas a possuir meios de ressuscitação com DAE (desfibrilhador automático externo) local;

- Deverá ser assegurada a existência de “ sistemas de reanimação de emergência organizada”, em locais onde se verifiquem aglomerados de pessoas, como é o caso dos centros comerciais, estádios desportivos, locais destinados a eventos públicos, e mesmo naqueles onde a prática do esforço físico é verificada (como é o exemplo dos ginásios.)

A Sociedade Portuguesa de Cardiologia relembra ainda que, no mês de maio, mês em que, juntamente com a Fundação Portuguesa de Cardiologia, se tem alertado para a problemática da Insuficiência Cardíaca, que atinge todos os anos cerca de 400 mil Portugueses, a Morte Súbita surge como mais uma das consequências desta doença que não pode ser esquecida!

Outras informações:

O que é o Suporte Básico de Vida?
É um conjunto de manobras, com compressões torácicas (massagem cardíaca) e ventilações, que permite a manutenção da vida no indivíduo em paragem cardíaca, até à chegada dos socorristas.

O que significa, no contexto da Morte Súbita, ter uma formação em Suporte Básico de Vida?
Uma pessoa com formação em Suporte Básico de Vida pode sempre intervir rapidamente e ganhar minutos que podem ser essenciais para a vida, até que meios de socorro mais avançados cheguem.

Fonte: 
SConsulting
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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