Em 2014

Mais inscritos, menos espera. Mas há quem aguarde 9 meses por cirurgia

Ano passado registou a maior entrada de doentes na lista de inscritos. 22 mil pessoas esperam mais do que o tempo recomendado.

649 386. Foi o este o número de doentes que entrou no ano passado na lista de inscritos para cirurgia (LIC), o maior desde 2006 de acordo com os dados de Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC), a que o Diário de Notícias teve acesso. Foi também o ano com mais operações realizadas (perto de 550 mil), mantendo-se a mediana de tempo de espera de 3 meses (em 2013 era de 2,8 meses). Houve uma redução para 12% do número de doentes que esperou mais do que os nove meses de tempo máximo recomendado - era de 12,8% em 2013. O ano terminou com 184 mil pessoas na lista de espera.

Para alguns doentes ainda é demais. "Um em cada dez utentes espera mais de 9,1 meses pela cirurgia. Este valor tem melhorado nos últimos anos", refere o relatório. Em 2006, um em cada dez doentes esperava 25 meses pela operação. Há uma década a mediana de tempo de espera era de 6,9 meses e 43,5% dos utentes estavam na lista há do que o tempo máximo de resposta garantido. Embora o tempo seja menos, no ano passado ainda houve 22 mil doentes em lista cujo tempo máximo de resposta foi ultrapassado. Quando se olha para as doenças, obesidade continua a ser a pior. A mediana é de seis meses de espera e um terço dos doentes aguarda há mais do que o recomendado.

O acréscimo de inscritos pode ser explicado pelo aumento da população envelhecida, mais doente e a precisar de cuidados maiores. O relatório fala de "uma maior pressão sobre a capacidade produtiva das instituições, resultante da conjugação de mais entradas com casos mais complexos", o que levou à criação, neste ano, de um programa especial com 22 milhões de euros para a realização de mais 16 mil operações no segundo semestre. A aposta é no ambulatório, que no ano passado representou 55,5% das cirurgias realizadas.

Marta Temido, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, afirma ao Diário de Notícias que se tem "conseguido milagres todos os dias" nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS). "Apesar de todas as dificuldades de estímulos e meios materiais, há uma grande resiliência. Mas não é infinitamente elástica. Isso é motivo para ter algum receio", aponta.

A administradora salienta que há um comportamento que mostra estabilidade, sobretudo num período muito difícil, mas alerta que será complicado responder a mais procura. "Estamos a viver à custa das nossas gorduras e o stock de ineficiências reduziu-se e com uma população a precisar cada vez mais de cuidados curativos. Estes dados mostram também que não há uma redução na procura de cuidados, que as pessoas estão mais doentes. E esta é uma linha que se vai manter. Temos de apostar na prevenção, que é a forma mais eficaz de descer os números", refere.

Quanto ao aumento de cirurgias, dos 550 mil doentes operados, 505 mil foram-no no SNS, 18 mil no convencionado e 26 mil nos hospitais protocolados. Em relação a 2013, o SNS fez mais 3279 cirurgias e o convencionado mais 2421. Marta Temido diz que o setor convencionado é complementar e deve apoiar o SNS quando não há capacidade instalada. Mas há uma parte do trabalho que é feita fora do SNS.

"Quem pode, neste momento, foge do SNS por duas razões: as condições hoteleiras e os nove meses, que apesar de ser o tempo recomendado pode ser o suficiente para alguns doentes irem para outro sítio", aponta. Segundo o relatório, 91 300 episódios com proposta cirúrgica foram retirados da lista de inscritos por razões pessoais, clínicas ou por terem sido intervencionados na urgência ou noutras instituições.

Quanto aos resultados do primeiro semestre de 2015, parecem apontar para uma manutenção da tendência de estabilidade. Nos primeiros seis meses do ano entraram 338 591 pessoas na lista de inscritos para cirurgia, valor ligeiramente inferior ao do mesmo período de 2014. O número de utentes nesta lista era de 192 mil, mais 13 mil doentes do que no período homólogo. A mediana de tempo de espera estava nos três meses e a percentagem de inscritos que ultrapassaram o tempo máximo de resposta garantido era de 11%. Estes dois últimos valores são semelhantes aos de 2014. Obesidade continua no topo da lista das piores.

Fonte: 
Diário de Notícias Online
Nota: 
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