Estudo

Mais de um terço dos portugueses com mais de 65 anos e fibrilhação auricular não estão diagnosticados

Perto de 9% dos portugueses com mais de 65 anos sofre de Fibrilhação Auricular, e, destes, mais de 35% não estarão diagnosticados. As conclusões são do Estudo SAFIRA (System of AF evaluation In Real world Ambulatory patients), o mais recente retrato da Prevalência e Padrões de Tratamento de Fibrilhação Auricular e Risco Cardiovascular na população portuguesa com mais de 65 anos. Os resultados preliminares foram apresentados pela primeira vez no Congresso Português de Cardiologia.

Portugal é o país da União Europeia com maior número de mortes por Acidente Vascular Cerebral (AVC), sendo esta a principal causa de morte e incapacidade no nosso país. Para a maioria dos doentes que sobrevivem ficam sequelas que, em metade dos casos, impedem os doentes de retomar uma vida ativa. Causadora de um terço dos AVC, a Fibrilhação Auricular (FA) representa, simultaneamente, um forte fator e marcador de risco cardiovascular – o que faz desta patologia um dos mais importantes problemas de saúde pública em Portugal.

O estudo SAFIRA procurou obter dados reais da prevalência da FA entre a população portuguesa, sobretudo entre os mais idosos, população com maior risco. Foram avaliados 7.500 indivíduos de 65 ou mais anos, população monitorizada normalmente nos Cuidados de Saúde Primários, nos Hospitais e no terceiro sector. Todos os doentes incluídos no estudo realizaram Electrocardiograma (ECG) e, na ausência de deteção de FA pelo ECG, um subgrupo realizou ainda Holter de 24 horas ou implantou um registador de eventos não invasivo durante 7 dias.

Os resultados revelam pela primeira vez a realidade da Fibrilhação Auricular na população idosa em Portugal. Até à data dispúnhamos dos resultados do estudo FAMA, publicado em 2010, que apontavam para uma prevalência de 2,5% entre os doentes com mais de 40 anos1. O estudo SAFIRA revelou ainda um elevado subdiagnóstico. De entre os 9% dos doentes em que se detetou existência de FA, 35,9% desconheciam ter a doença. De assinalar que este era o caso de quase 75% dos doentes no terceiro sector. Por outro lado, 18,6% dos doentes não diagnosticados apresentavam FA paroxística, que habitualmente passa desapercebida no eletrocardiograma, sendo maioritariamente detetada no Holter ou registador de eventos – o que sublinha a importância de uma investigação mais prolongada dos sintomas, nomeadamente na população mais idosa.

A par do sub-diagnóstico subsiste ainda o subtratamento: 56,3% dos doentes não estavam anticoagulados. A falta de conhecimento sobre a doença parece contribuir para essa lacuna. Mesmo entre os doentes com diagnóstico, mais de um quarto, 28,8% não sabiam o que é a FA e as suas consequências. Paralelamente, estes eram doentes que tinham uma probabilidade 9,8 vezes superior de não estar medicados com anticoagulação oral.

“Estes resultados mostram os enormes desafios ainda existentes na identificação e gestão da FA e risco cardiovascular e constituem um importante alerta para a otimização das estratégias de controlo da doença e promoção da saúde neste setor da população. Um conhecimento real dos padrões de prevalência da Fibrilhação Auricular em Portugal reveste-se da maior importância para a criação e implementação de estratégias de diagnóstico, tratamento e controlo de risco realistas e eficazes”, considera o Prof. Pedro Monteiro, coordenador do Estudo SAFIRA.

No que se refere à relação com a terapêutica, estes são em regra doentes polimedicados. Em termos globais, o número mediano de fármacos prescritos a estes doentes era de 4,8, correspondendo à toma diária de uma mediana de 6,7 comprimidos. Face ao tratamento, 45,1% dos doentes considera que o fator mais importante é a segurança; 35,6% aponta a eficácia; 12,8% são importância ao custo e apenas 6,7% valoriza a comodidade posológica. Talvez por isso, apenas 4,8% dos doentes medicados com novos anticoagulantes orais admitiram ter descontinuado o tratamento devido ao preço, 13,4% tiveram o switch a ser feito diretamente pelo seu médico assistente. Apenas 1,1% descontinuou o tratamento com NOACs devido a hemorragia ocorrida e destes, perto de metade tinham uma dose excessiva de NOACs ou função renal desadequada para a prescrição.

Em termos globais, só 25,8% dos doentes anticoagulados foram considerados bem medicados (dose e posologia correta, com anticoagulação efetiva - incluindo um TTR de pelo menos 55% nos com antivitamínicos K). Mais de metade, 55,8%, estavam a fazer dose incorreta; 12,3% estavam a fazer número de tomas incorreto. Quando foi igualmente considerado o tratamento correto dos fatores de risco cardiovascular que cada doente com FA possuía, só 5,6% dos doentes tinham todos esses fatores de risco no alvo.

Na população com diagnóstico de FA, a taxa de AVC foi de 11,2%, sendo que destes, 25,7% já tinham tido dois ou mais eventos cerebrovasculares. O valor mediano do score de avaliação de risco de AVC em doentes com FA, CHADS-VASC, foi de 3,5. E se a taxa de anticoagulação nos doentes com diagnóstico prévio e que tinham CHADS-VAsC igual ou superior a 1 era perto de metade (47,7%), menos de 1/5 dos doentes (18,3%) com CHADS-VASc de 6 ou mais estão anticoagulados. A taxa de hemorragia de qualquer grau foi de 4,6% na população anticoagulada. Destas, 9,8% foram consideradas graves. Só 1,8% foram hospitalizados.

O Estudo SAFIRA foi desenvolvido entre 2014 e 2015 com o apoio da Pfizer e a Bristol-Myers Squibb.

Fonte: 
Loyaladvsory
Nota: 
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