Estudo

Literacia na gestão da diabetes tipo 2: a influência da família e dos profissionais de saúde

A forma como as pessoas com doenças crónicas, nomeadamente a diabetes tipo 2, gerem a sua doença (aderem aos tratamentos e cumprem a terapêutica) depende, não apenas do seu nível de literacia individual, mas também do modo como usam a sua rede de suporte – familiares, profissionais de saúde, amigos, vizinhos, etc. – para lidar com a patologia. O aviso é deixado num estudo de investigadores da Unidade de Investigação em Epidemiologia do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, que alerta para a importância da literacia em saúde distribuída.

A literacia em saúde é uma questão global da saúde pública. Vários estudos mostram que um baixo nível de literacia individual afeta negativamente os indivíduos, quer na forma como compreendem a informação sobre saúde, quer na forma como comunicam com os médicos ou aderem aos tratamentos.

“Na literatura começam a surgir algumas informações sobre o modo como o suporte emocional e funcional influencia positivamente a melhoria dos cuidados continuados de doenças crónicas, como a diabetes tipo 2. Essas melhorias poderão ser mais facilmente alcançadas se for considerada a literacia em saúde distribuída, ou seja, a forma como o conhecimento da doença se distribui pela rede social do indivíduo”, refere Liliana Abreu, primeira autora do estudo.

Para compreender a importância da literacia distribuída em saúde na gestão da doença, os investigadores realizaram um estudo qualitativo e observacional que envolveu pessoas diagnosticadas com diabetes tipo 2 (26, no total). Os autores identificaram a rede de suporte (mediadores de saúde) utilizada pelos participantes, o conhecimento que têm da doença, a forma como circulam e navegam nos serviços de saúde, o modo como vivenciam a patologia, entre outros aspetos. “Queríamos perceber como é que as pessoas usam as redes pessoais para concretizarem tarefas relacionadas com a gestão da própria doença. E estamos a falar de tarefas muito básicas, como tomar a medicação ou os cuidados com a alimentação”, diz a investigadora.

Os resultados revelam que o apoio da família, dos amigos e dos profissionais de saúde é relevante para a gestão desta doença crónica. Os indivíduos com menos escolaridade usam os seus mediadores para obterem, essencialmente, auxílio do ponto de vista informacional e funcional, ao passo que as pessoas mais escolarizadas utilizam a sua rede para obterem, sobretudo, suporte de cariz emocional.

Em termos práticos, a investigação chama a atenção para o facto de na gestão de doenças crónicas e de cuidados continuados, como a diabetes tipo 2, existir a necessidade de se criarem espaços de diálogo entre os diferentes mediadores e os pacientes.

“O reconhecimento da literacia em saúde distribuída é inovador e complementa a informação sobre a influência das redes de suporte do indivíduo, para a construção de um sistema de saúde mais sustentável e centrado no doente. Tal representa a atual estratégia global dos cuidados continuados integrados de saúde, onde a coprodução de conhecimento e governação para a saúde se sustenta na provisão de saúde personalizada”, avança Liliana Abreu. “O estudo salienta a necessidade de existir um maior enfoque na literacia em saúde distribuída e não apenas na literacia em saúde individual, uma vez que esta não reside unicamente na forma como se lida com a informação a nível cognitivo. Além disso, os mediadores podem ajudar a compensar o baixo nível de literacia dos doentes. Identificar os mediadores e entender a forma como a distribuição de responsabilidades na gestão da doença se distribui na rede, de modo a permitir uma colaboração mais eficaz entre os profissionais de saúde, família/amigos e media, é crucial”, conclui.

O estudo intitulado “Distributed health literacy among people living with type 2 diabetes in Portugal: Defining levels of awareness and support” foi publicado na revista “Health and Social Care in the Community” e pode ser consultado aqui.

Fonte: 
Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock