Concurso Europeu

Jovens cientistas querem salvar vidas com pastilhas de cascas de ovos

Projeto de alunos da Azambuja interessou à Cruz Vermelha. Outra equipa nacional estuda efeitos do omeprazol na memória.

Três estudantes portugueses estão perto de revolucionar o combate a doenças provocadas pela falta de cálcio, como o raquitismo, aproveitando um dos resíduos mais comuns em casa: a casca de ovo. Desta querem criar uma pastilha que pode ser dissolvida na comida sem alterar o seu sabor, adicionando-lhe um alto valor nutricional. A Cruz Vermelha Portuguesa já se mostrou interessada neste suplemento alimentar desenvolvido pelos estudantes da Escola Secundária da Azambuja, Henrique Gonçalves, Margarida Sousa e Nelya Kril. Trio que hoje saberá em Bruxelas se esta ideia é uma das premiadas no European Union Contest for Young Scientists (EUCYS).

Uma tese de mestrado do Instituto Universitário de Lisboa que apontava a falta de cálcio como a terceira causa de morte em Moçambique levou os três alunos, apresentados como jovens cientistas, a desenvolverem um suplemento alimentar para combater, por exemplo, o raquitismo e a osteoporose. Este trabalho, na área da Química, acabou por ser um dos dois projetos nacionais que se destacaram na 10.ª Mostra Nacional de Ciência, promovida pela Fundação da Juventude, conquistando o passaporte para concorrer ao EUCYS.

O outro projeto que hoje saberá se foi distinguido juntou Carlota Andrade, 17 anos, e Vasco Pereira, 18, alunos da Escola Secundária Júlio Dinis, em Ovar, garantindo os jovens que realizaram o primeiro estudo, recorrendo a moscas, sobre os efeitos do omeprazol em organismos invertebrados.

Neste concurso o primeiro lugar rende 7500 euros, o segundo 5000 e o terceiro 3500, havendo prémios para três categorias. Nesta segunda-feira serão revelados os vencedores da iniciativa da Comissão Europeia que reúne cerca de 150 jovens cientistas de 38 países com projetos das mais variadas áreas da ciência.

A importância do ovo

O trio português que vai apresentar o projeto de produzir pastilhas ricas em cálcio tem 18 anos e o acesso à universidade confirmado para este ano letivo.

"Temos a prova de que os ovos têm um valor incontestável em países onde a malnutrição tem um impacto massivo", explicou ao DN Nelya Kril, acrescentando que as experiências realizadas na secundária da Azambuja desde o início do último ano letivo, apoiados pela professora de Química, Margarida Duarte, foram deixando claro que há "muitas vantagens" no consumo de ovos biológicos, a partir de galinhas criadas ao ar livre, comparativamente com os ovos de aviário. "As cascas destes ovos têm maior quantidade de cálcio biodisponível e podem ser transformadas num bem precioso", sublinhou a jovem cientista, acrescentando que é possível calcular a quantidade de cálcio que cada corpo pode absorver, em função da idade, e suprir as necessidades das pessoas através das cascas de ovos.

"A Cruz Vermelha deu-nos uma apreciação positiva e reforçou que esta medida pode ser aplicada em países com malnutrição, como Moçambique. Quer dizer que podemos ajudar", congratula-se a porta-voz da equipa, revelando que também o Hospital da Luz está a tentar perceber se a pastilha poderá traduzir-se numa alternativa aos fármacos convencionais.

E quanto às expectativas para o concurso? "Aqui [em Bruxelas] há projetos muito bons e de muitas áreas", reconhece Nelya Kril, adiantando que independentemente do resultado os três jovens gostavam de poder continuar a desenvolver investigação e projetos em conjunto. Apesar de irem para cursos e universidades diferentes: Henrique aposta em Gestão, Margarida em Engenharia de Materiais e Nely em Engenharia Civil.

O omeprazol e a falta de memória

O segundo projeto de portugueses que foi apresentado em Bruxelas juntou três alunos da Escola Secundária Júlio Dinis (Ovar), garantindo os jovens que realizaram o primeiro estudo sobre os efeitos do omeprazol em organismos invertebrados, recorrendo a moscas. Uma investigação em Biologia que apurou diferenças significativas na reprodução dos géneros e na memória, o que já atraiu dois centros de investigação do Porto.

"Uma boa classificação em Bruxelas [hoje] seria muito importante para o currículo, mas o facto de estarmos aqui a discutir estes temas com professores, quase de igual para igual, já é bom para nós", assegura Carlota que acaba de entrar na Universidade de Aveiro, tal como Vasco. Ela em Ciências do Mar e ele em Engenharia Física.

O omeprazol pertence a um grupo de medicamentos chamados inibidores da bomba de protões, tendo sido publicados estudos que atribuem à ingestão prolongada deste fármaco uma carência da vitamina B12 necessária para o desenvolvimento e a manutenção das funções do sistema nervoso.

Carlota explicou ao DN que uma mosca fêmea contaminada com omeprazol que acasale com um macho sem efeito do medicamento vai reproduzir muito menos ovos, mas se for o macho o afetado não terá impacto nesse número.

A investigação, que obteve resultados em um mês, por se tratar de uma espécie com um tempo curto de vida - em humanos poderia demorar 20 a 40 anos para se chegar a alguma conclusão -, sujeitou ainda as moscas a testes de memória, com diferentes gamas de concentração de omeprazol na forma pura e na forma comercial (Omeprazol Omezolan) durante 24 horas antes do início de cada teste. Os resultados obtidos demonstram possíveis efeitos de letargia ou confusão induzidos pelo consumo deste fármaco.

Fonte: 
Diário de Notícias Online
Nota: 
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