No Porto

Investigadores defendem que o preparado ayahuasca pode ajudar a combater doenças

A ayahuasca, uma preparação tradicional à base de duas plantas, originária da América do Sul e cujo consumo é ilegal em Portugal, tem potencial terapêutico desde as doenças oncológicas às neurodegenerativas, foi referido no Porto.

Os especialistas Olga Silva e Mário Simões apresentaram no 12.º Simpósio da Fundação Bial, num debate sobre a "Ayahuasca como estimulador da mente - o conhecimento e potencial", o conjunto dos estudos científicos efetuados até ao momento, que "apontam para um espetro de aplicação terapêutica que inclui doenças tão díspares como as oncológicas, neurodegenerativas e psiquiátricas".

Invocando a necessidade de "estudos científicos adequados que permitam verificar a sua qualidade, modo de ação e segurança", Mário Simões acrescentou que este preparado "é usado no Brasil em contexto religioso, sem restrição legal".

A professora associada de Farmacognosia e de Plantas Medicinais e Fitoterapia da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa Olga Silva referiu que esta preparação à base de plantas "contém uma variedade de metabolitos secundários que vão para além da dimetiltriptamina, princípio ativo da ayahuasca, e dos alcaloides beta-carbonílicos".

Não sendo conhecido desde quando a ayahuasca é utilizada em Portugal, existem hoje associações no país que lhes são dedicadas, apesar de o seu consumo "estar proibido", salientou Olga Silva.

Professor de Psiquiatria e de Ciências da Consciência e diretor do LIMMIT - Laboratório de Interação Mente Matéria de Intenção Terapêutica, Faculdade de Medicina de Lisboa, Mário Simões acrescentou realizarem-se na Europa "excursões ao Peru com fins terapêuticos e espirituais" em busca de uma qualquer cura através da ayahuasca, em "rituais religiosos conduzidos por xamãs, que podem durar mais de seis horas em dias sucessivos".

Segundo Olga Silva, na década de 1980, a indústria farmacêutica norte-americana "fez tentativas de desenvolvimento de formulação", mas deparou-se-lhe um problema quando a tentou "patentear sem atender aos interesses da população local".

E com a "formulação a só poder ser desenvolvida com a integração dos conhecedores, depressa os promotores dos Estados Unidos perceberam que em termos económicos tinha um interesse relativo" facto que, segundo a especialista, ajuda a explicar o porquê de hoje a ayahuasca continuar sem "ser encontrada na medicina convencional".

Contrariando a lógica comercial da indústria farmacêutica, Mário Simões disse "existirem dados que levam a dizer que há bons resultados clínicos, divulgados em publicações científicas credíveis, em depressões resistentes à terapêutica, em adições, como a dependência da heroína, da cocaína e até do álcool".

E prosseguiu: "hoje começa a haver estudos em animais relacionados com a doença de Parkinson, podendo também esta preparação ser um auxiliar de psicoterapias".

Mário Simões concluiu defendendo que a ciência "deve passar a perguntar para que serve e não apenas porquê" e que ao "avançar nesse sentido vai ter uma aceleração, uma outra visão, não movida apenas por interesses imediatos, mas para um bem maior de todos, deixando de tratar da vidinha para passar tratar da Vida", disse, citando Alexandre O'Neill.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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