Psiquiatra João Redondo

Idosos têm mais dificuldade em deixar "relacionamento abusivo"

O psiquiatra João Redondo considera que “é mais difícil” para um idoso conseguir sair de um “relacionamento abusivo ou tomar decisões correctas” em casos de violência doméstica porque muitas vezes o agressor é a sua única companhia.

Dados divulgados pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) revelam um aumento de casos de violência contra idosos no ano passado, passando de 774 situações em 2013 para 852 em 2014 (10,1%).

O coordenador da Unidade de Violência Familiar do Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra disse que, “em consequência da deterioração física e cognitiva que geralmente acompanha a velhice, é mais difícil para os idosos deixar um relacionamento abusivo ou tomar decisões correctas”.

“Frequentemente o agressor pode ser a única companhia da pessoa que é vítima de abuso”, afirmou o psiquiatra.

Nem sempre fácil de detectar estas situações: “O fenómeno permanece muitas das vezes ‘escondido’ pelos próprios protagonistas, falamos dos idosos, das suas famílias, dos cuidadores e profissionais que com eles interagem e, até mesmo, da sociedade em geral, que nem sempre valida os maus tratos contra o idoso como um problema de violência”.

Perante esta realidade, prevenir o abuso de idosos apresenta inúmeros problemas para os profissionais que trabalham nesta área.

“Na maioria dos casos, o maior dilema é encontrar o equilíbrio entre o direito do idoso à autodeterminação e a necessidade de adoptar medidas para acabar com o abuso”, sublinhou João Redondo.

A abordagem destas situações deve privilegiar “uma intervenção multidisciplinar, multissectorial e em rede que, a par com a protecção e o apoio às vítimas e com a intervenção junto do agressor, promova a não-violência, com consequências nas políticas sociais e de saúde, na educação” e nos valores.

Para João Redondo, a avaliação da existência ou não de violência em contexto familiar sobre o idoso, realizada em cuidados de saúde primários, em serviços hospitalares, como internamentos e urgência, ou instituições de cuidados continuados e lares, “deverá incluir, sempre que possível, a participação de elementos das redes sociais de suporte (primárias e de serviços)”.

Depois de sinalizada a situação de violência deve ser encaminhada para a rede multidisciplinar, que integra médicos, enfermeiros, profissionais do serviço social, psicólogos, autoridades policiais e judiciais.

Caberá à rede facilitar e dar apoio na exposição de queixas às instâncias judiciais, documentar e validar as declarações da pessoa, realizar visitas domiciliárias de surpresa, informar o idoso sobre os seus direitos legais, ensinar medidas de protecção e encaminhar ou tratar o cuidador, “minimizando com estas medidas os riscos de nova vitimização”, explicou o psiquiatra.

Citando a Organização Mundial da Saúde (OMS), João Redondo frisou que a violência sobre o idoso não pode ser solucionada adequadamente se as suas necessidades essenciais (alimentação, abrigo, segurança e acesso à assistência à saúde) não forem atendidas.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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