Doenças Respiratórias

Hábitos tabágicos responsáveis por 90% dos casos de DPOC

Atualizado: 
17/10/2019 - 15:58
Os hábitos tabágicos são responsáveis pelo aparecimento de mais de 50 doenças, entre elas a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, estimando-se que cerca de 700 mil portugueses sofram desta patologia. António Carvalheira Santos, Chefe de Serviço de Pneumologia do Hospital Pulido Valente, alerta para o impacto do tabagismo em Portugal, sobretudo no que diz respeito às doenças respiratórias.
Homem idoso a fumar para cima de homem jovem

“O consumo de tabaco causa cerca de 50 doenças diferentes, das quais as mais relevantes a DPOC, a neoplasia do pulmão e as doenças cardiovasculares, nomeadamente a doença coronária, o enfarte do miocárdio, as tromboses cerebrais e os aneurismas arteriais”, começa por dizer António Carvalheira Santos que não esquece a sua relação com alguns tipos de tumores – boca, laringe, faringe, esófago, pâncreas, rim, bexiga e colo do útero.

De acordo com o especialista, no entanto, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) e o Cancro do Pulmão “evidenciam-se como as doenças respiratórias mais relevantes e preveníveis provocadas pelo hábito de fumar”.

Apesar de ser ainda pouco conhecida, “mas extremamente letal”, a DPOC afeta cerca de 14% da população portuguesa com mais de 40 anos, estimando-se que entre 700 a 800 mil portugueses sofram de uma patologia que é já considerada a 3ª causa de morte em todo o mundo.

“Sabe-se que os hábitos tabágicos são responsáveis por 90% dos casos de DPOC, o que faz com que os doentes apresentem menores níveis de oxigénio no sangue, causando a falência dos vários órgãos. Os ex-fumadores e qualquer pessoa exposta ao fumo do tabaco (os designados fumadores passivos) são também potenciais doentes”, acrescenta o pneumologista.

Falta de ar ou dispneia, tosse, expectoração, pieira e cansaço são os principais sinais de alarme de uma doença crónica e progressiva.

“A DPOC é uma doença com dois componentes de desigual envolvimento: a bronquite crónica com inflamação brônquica, e consequente obstrução, que leva à dificuldade expiratória, e o enfisema com destruição alveolar e a consequente perca de territórios para as trocas gasosas com diminuição da capacidade de passagem do oxigénio para o sangue, bem como da eliminação do dióxido de carbono resultante do trabalho celular”, explica o chefe de Serviço de Pneumologia do Hospital Pulido Valente, em Lisboa.

A maior suscetibilidade dos fumadores a infeções respiratórias prende-se sobretudo com a quantidade de muco produzido para “impedir que as impurezas veículadas pelo fumo do tabaco invadam os alvéolos pulmonares”.

“A expetoração é muco e a sua composição química são mucopolissacáridos, que tem uma estrutura molecular em rede composta por proteínas e glúcidos (açúcares). Este muco tem como finalidade a fixação dos irritantes que invadem o aparelho respiratório para serem explusos”, refere o especialista.

Vírus e bactérias encontram aqui as condições ideais para o seu desenvolvimento.  “Devido à sua composição – proteínas e glúcidos (açúcares) e à temperatura do organismo estão criadas as condições para a sua multiplicação e desenvolvimento das doenças infeciosas respiratórias virais e bacterianas”, justifica.

Diagnóstico precoce decisivo na progressão da doença

De acordo com António Carvalheira Santos, o diagnóstico precoce é decisivo para impedir a progressão da doença.

“Para além da história e dos sintomas como manifestação da doença, o diagnóstico baseia-se num exame respiratório, a espirometria, que evidencia o grau de obstrução à passagem do fluxo expiatório”, refere. Este exame permite avaliar a função respiratória e adequar o tratamento de acordo com o estadio da doença, que pode ser classificada como ligeira, moderada, grave ou muito grave.
Outros exames, como o RX ou TAC, permitem avaliar alterações estruturais e despistar outras patologias que possam apresentar sintomas semelhantes.

Quanto ao seu tratamento, o especialista defende que “uma intervenção adequada na doença de DPOC deve envolver prevenção, nomeadamente promover a cessação tabágica nos fumadores e a vacinação para prevenir as infeções respiratórias, quer pelo vírus da gripe (influenza), quer pelas pneumonias pneumocócicas”.

A par do tratamento farmacológico, que visa a redução dos sintomas, a frequência e a gravidade das agudizações, a reabilitação respiratória tem igual importância neste contexto.

“A Reabilitação Respiratória é uma componente fundamental no tratamento do doente respiratório crónico” que tem como objetivos proporcionar a “diminuição das incapacidades físicas e psicológicas causadas pela doença respiratória através da melhoria da aptidão física e mental”, bem como promover a alteração de comportamentos de agravamento e capacitar o doente para a gestão integrada da sua doença.

Redução de sintomas como dispneia ou fadiga, reversão da ansiedade e depressão associados à doença respiratória ou o aumento da resistência ao esforço são alguns dos benefícios apontados. “Redução das agudizações, a redução do número de consultas não programadas no Serviço de Urgência, do número de dias de hospitalizações” e consequente diminuição dos custos diretos e indiretos relacionados com a saúde acrescem nesta lista.


90% dos doentes com DPOC são ou foram fumadores 

“É necessário apostar em campanhas de educação e sensibilização”

Numa análise sobre o impacto do Tabagismo em Portugal, realizada em 2005, foi possível concluir, de acordo com este especialista, que a DPOC é a principal doença responsável pelos Anos de Vida Perdidos Ajustados por Incapacidade (DALYs – medida da quantidade de saúde perdida, em tempo, preconizada pela OMS e pelo Banco Mundial).

Por outro lado, sabe-se que o número de óbitos por doenças do foro respiratório tem vindo a aumentar. “Em Portugal, são responsáveis por cerca de 19% dos óbitos e a principal causa de internamento. Estima-se que, em 2020, no mundo, as doenças respiratórias sejam responsáveis por cerca de 12 milhões de mortes anuais”, refere o especialista em pneumologia.

E, no entanto, “uma medida tão simples como deixar de fumar” pode inverter este panorama.

“É necessário apostar em campanhas de educação e sensibilização para a promoção de hábitos de vida saudáveis, reforçar que o diagnóstico precoce continua a ser a forma mais eficaz de controlar as doenças respiratórias e, especificamente, a DPOC”, defende António Carvalheira Santos.

Com o objetivo de colmatar a falta de informação disponível sobre doenças respiratórias foi criada a plataforma RespirARmelhor.pt.

Para além de disponibilizar conteúdos relativos às diferentes patologias, assim como formas de prevenção e opções de tratamento, a plataforma pretende alertar para a necessidade de aconselhamento especializado sempre que existam determinados sintomas.

“Totalmente dedicada a doentes, familiares, profissionais de saúde e todos os interessados em saber mais sobre as doenças respiratórias crónicas, a plataforma encontra-se disponível desde Abril e conta com a chancela científica de Associações e Sociedades da área em Portugal”, conclui.

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Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
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