Insuficiência cardíaca

Há falta de dadores para transplantação cardíaca, alertam especialistas

A falta de dadores é, de acordo com cirurgião cardiotorácico, José Fraga, um “problema emergente” em Portugal e, muito em breve, existirá um “aumento exponencial” na utilização de dispositivos que ajudam a bater o coração dos doentes com insuficiência cardíaca terminal.

“Hoje em dia deparamo-nos com um problema grave que é a redução muito marcada de dadores adequados para transplantação cardíaca e isso vai levar inexoravelmente ao aumento exponencial de dispositivos” como o ‘HeartMate3’, implantado há dois anos num doente de 64 anos que sofria de insuficiência cardíaca e não podia receber um coração transplantado, numa cirurgia pioneira em Portugal realizada por José Fragata.

Tendo em conta a atual situação, o diretor do serviço de cirurgia cardiotorácica do Hospital de Santa Marta, em Lisboa, defende a criação de um programa específico de financiamento para estes dispositivos de assistência ventricular.

"Hoje em dia, no mundo, há dezenas de milhares de pessoas ligadas a dispositivos destes", no entanto, "Portugal neste aspeto não está numa boa posição e era muito importante que a tutela, na primeira ocasião que fosse possível, criasse um programa específico" porque "não é justo estar a pedir às administrações hospitalares o dispêndio de 100 mil euros por cada dispositivo", reforça o especialista.

Também o diretor do serviço do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, José Neves, partilha desta opinião, afirmando que “em Portugal, há um constrangimento grande aos custos desta terapia”.

“É uma terapia que está em desenvolvimento, cara e complexa, mas é uma terapia a que o país não pode fechar os olhos”, defende José Neves.

O cirurgião do Hospital de Santa Cruz, onde também já foi realizada a intervenção para colocação do ‘HeartMate3’, explicou que estes aparelhos se destinam a “doentes que não têm dadores” e cuja saúde se está a deteriorar.

Apesar de muitos doentes precisarem deste tratamento, o especialista adianta que, no entanto, não há autorização para o fazer. De acordo com José Neves, ao contrário do que acontece com outros, estes dispositivos não têm financiamento próprio, pelo que os hospitais ficam constrangidos pelo financiamento destes aparelhos.

E explica: quando há dispositivos o financiamento leva algum tempo até aparecer.

Para além da questão do financiamento, o diretor do serviço de cirurgia cardiotorácica do Hospital de Santa Marta, José Fragata, salienta que a “falta de dadores é um problema emergente em toda a Europa, nos Estados Unidos, mas muito concretamente” em Portugal, onde se vive com “uma escassez enorme de dadores”.

De acordo com os dados do Instituto Português do Sangue e Transplantação, em 2018, existiam 30 doentes em lista de espera para um transplante do coração. 16 acabaram por morrer.

“Em Portugal, nos melhores anos, fizemos quase 50 transplantes cardíacos, ou seja, 4,5 por milhão de habitantes”, disse José Fragata.

Tendo em conta o número de doentes e estimando que só haverá corações para cerca de metade, José Fraga admite que são necessários, no mínimo, 20 ou 25 dispositivos que, habitualmente, são utilizados em doentes com insuficiência cardíaca terminal que necessitam de um transplante de coração mas que não podem tomar os medicamentos associados ao procedimento ou que estão à “espera de um coração que nunca mais aparece”.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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