Futuro dos sorrisos nacionais pode estar em risco

A propósito do Dia Mundial do Sorriso, que se assinala no próximo dia 5, o especialista considera que “a saúde oral dos portugueses tem melhorado”. Mas teme pelo futuro. “Apenas 32% da população apresentava dentição completa em 2017 e, se considerarmos que 60% das crianças com seis anos nunca consultou o médico dentista, o futuro não deverá trazer uma realidade muito diferente”.
A ausência de cuidados é, de resto, bem visível e com consequências. “Atualmente, 68% da população tem falta de dentes e 30% destes têm falta de seis ou mais dentes, o que se traduz numa diminuição significativa da qualidade da mastigação”, explica o médico. “Apenas cerca de metade destes desdentados procurou reabilitação (tratamento de substituição dos dentes ausentes) e apenas 6,7% o fizeram com recurso a tratamentos fixos, que permitem atingir uma capacidade mastigatória semelhante à dentição natural. Isto quer dizer que 11% da população portuguesa vive com uma diminuição efetiva da qualidade mastigatória e que 50% apresenta um compromisso mastigatório mais ou menos satisfatoriamente compensado.”
Mas os reflexos dos maus cuidados não se ficam por aqui. De acordo com o especialista, “há uma relação entre algumas patologias sistémicas e a saúde oral, entre a diabetes e a doença periodontal, mas também um aumento do risco em pacientes com patologia cardiovascular e com compromisso da saúde oral”.
A isto juntam-se as alterações nutricionais, uma vez que uma má saúde oral pode “induzir alteração de hábitos alimentares, como aumento da ingestão de dietas moles e açucaradas e consequente risco de obesidade. Para além disso o sistema estomatognático (complexo-oro-facial) participa ativamente na fonação e encontra-se no centro da expressão facial, sendo por isso determinante na comunicação e no relacionamento interpessoal. A boca, os dentes (o sistema estomatognático) não se encontra fora do corpo humano!”
De resto, tendo em conta a definição de saúde da Organização Mundial de Saúde, que inclui o bem-estar físico, psíquico e social do indivíduo, “é óbvio que uma boa saúde oral é também reflexo e reflete uma boa saúde”. Por isso, não só o sorriso “traduz um estado anímico positivo, de confiança e otimismo, como também estimula o bem-estar, ao induzir alterações endócrinas. Sorrir é bom e sorrir faz bem!”, refere João Paulo Tondela.
O que justifica o aumento da procura de tratamentos estéticos. Mas, aqui, o especialista deixa um alerta: “a recuperação funcional e estética do sorriso é apenas o primeiro passo de uma caminhada que os pacientes devem compreender desde o início: nada poderá ser feito, alcançado ou mantido sem o seu compromisso e empenho”.
O que significa que a aposta não pode ser apenas no lado da cosmética. “Com os tratamentos cosméticos há a possibilidade de apenas camuflar o problema, mantendo o compromisso funcional muitas vezes subjacente e que mais tarde sobressairá”. Por isso, o médico dentista chama a atenção para “tratamentos aparentemente fáceis e pouco invasivos, como alguns tratamentos protéticos, que garantem resultados rápidos e imediatos, mas assentam apenas no tratamento da parte estética visível com recurso a técnicas irreversíveis para a estrutura dentária”.
A receita para um sorriso bonito e saudável continua a ser a mesma: a prevenção. “Um sorriso bonito adquire-se e começa a preservar-se em criança e com corretos tratamentos de manutenção, de ortodoncia intercetiva e corretiva. Os tratamentos restauradores e reabilitadores protéticos (reparação e substituição de dentes) a ocorrer em idade adulta devem merecer o mesmo empenho e dedicação, com o foco centrado na motivação e instrução de uma correta e eficaz higiene oral”. E, claro, “as visitas regulares ao médico dentista são essenciais para adquirir e preservar estes sorrisos... temos que semear para colher, mas quem semeia ventos colhe tempestades”.