Investigador revela

Ensaios clínicos. O que pode correr mal?

"Por vezes não sai tudo bem", diz um investigador do Instituto de Medicina Molecular. Os ensaios clínicos têm várias etapas onde a segurança é mais importante do que a eficácia e a resposta humana é variável.

Miguel Castanho, professor da Faculdade de Medicina e Universidade de Lisboa e Investigador do Instituto de Medicina Molecular explicou à TSF que "há uma primeira fase em que os testes são completamente em sistemas artificiais". Só depois de se perceber se a "molécula é eficaz" é que os testes são feitos em animais.

O investigador sublinha que, antes de se passar a uma fase de ensaios clínicos em humanos, a "primeira preocupação é a segurança e é também nesta etapa que se tentam detetar "possíveis efeitos secundários" como por exemplo "qual a melhor dose, qual a dose mais segura."

A molécula só passa a ser testada em humanos quando "um organismo internacional" dá parecer positivo.

Numa segunda fase o medicamento é administrado a mais pessoas, algumas são doentes e recebem o fármaco como terapia.

O que pode correr mal?
O investigador do Instituto de Medicina Molecular diz que por vezes "podem existir efeitos adversos que não se revelaram em grupos mais pequenos", sublinhando que só quando os ensaios se começam a alargar a um maior número de pessoas "podem existir pacientes que são sensíveis a esses efeitos".

Efeitos adversos não aparecem em todas as pessoas
Miguel Castanho dá um exemplo: "Os efeitos associados à dosagem ou a uma interação com moléculas que existem só em algumas pessoas e não em todas as outras que estão sujeitas aos ensaios".

O investigador explica que os ensaios clínicos envolvem voluntários saudáveis numa primeira fase e posteriormente podem ser aplicados em doentes que necessitem do medicamento que está a ser testado.

"A interação do fármaco com as células que estão numas pessoas e não estão noutras" pode dar um efeito negativo.

Miguel Castanho lembra que "o conhecimento nunca é infinito, por isso, ainda que se tente fazer tudo certo, por vezes não sai tudo bem."

Quanto tempo demora?
Um ensaio clínico pode demorar muito tempo, por vezes anos, "se houver muita urgência num determinado medicamento em caso de doenças que são uma ameaça como, por exemplo, o Ébola, um teste pode ser acelerado, mas tirando os casos de emergência, os testes podem demorar vários anos".

Miguel Castanho explica que "a demora dos ensaios tem a ver com a passagem de uma fase para a outra implicar sempre uma avaliação dos resultados obtidos até então."

O investigador diz que a maior parte dos medicamentos testados "morre a meio" e acrescenta que "de todos os fármacos testados, só uma ínfima porção é que chega a dar um medicamento." De todos os medicamentos que começam a ser testados "entre mil e 10 mil por vezes há um medicamento que passa".

Para se justificar o aparecimento de um novo medicamento é preciso que "a eficácia seja maior do que a que já existe nalguns fármacos que estão disponíveis" no mercado, acrescenta.

Fonte: 
TSF Online
Nota: 
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