Em Lisboa

Doente de Berlim partilhou história de "cura" do VIH graças a transplante

O doente alemão com VIH, que ficou curado deste vírus após um transplante de medula óssea, está em Lisboa, onde partilhou pormenores da sua “cura”, que diz só ter acontecido graças ao transplante, sem o qual teria morrido.

Timothy Ray Brown participa nas décimas Jornadas de Atualização em Doenças Infeciosas do Hospital de Curry Cabral, que decorrem na Culturgest, em Lisboa, onde falou aos jornalistas sobre o seu caso.

Este paciente, conhecido como “doente de Berlim”, estava infetado com o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) e foi-lhe diagnosticado uma leucemia.

À margem das jornadas, Timothy disse aos jornalistas que a família ficou mais triste com a notícia de que tinha leucemia do que por estar infetado com o VIH.

Para tratar a leucemia, Timothy Ray Brown começou por fazer quimioterapia e radioterapia, tendo na altura deixado de tomar os medicamentos contra o VIH (retrovirais).

O doente recebeu um transplante de células estaminais sem o recetor CCR5, o qual é necessário para a propagação do vírus, em fevereiro de 2007.

Mais tarde, uma recaída obrigou-o a novo transplante, com células do mesmo dador.

Timothy ficou sem carga viral e há oito anos que está livre do VIH e da leucemia. No entanto, após o segundo transplante, as análises levaram à suspeita de leucemia cerebral, pelo que os médicos optaram por efetuar uma biopsia ao cérebro.

Desta intervenção terão resultado problemas neurológicos, que ainda hoje se mantêm, com consequências como a falta de equilíbrio. O doente esteve igualmente cego durante algum tempo.

Hoje, questionado sobre a importância deste tratamento, que durante algum tempo foi uma esperança para milhares de infetados com o VIH, Timothy disse apenas que, para ele, não havia grande escolha, pois ou recebia o transplante ou morria, e reconheceu que “foi muito difícil”.

Francisco Antunes, especialista em doenças infeciosas e medicina tropical da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, explicou aos jornalistas que o tratamento de Timothy Ray Brown foi “uma linha de investigação”, mas que esta “não é praticável no dia-a-dia”.

“Não foi um acaso, mas é impossível de replicar”, explicou Francisco Antunes, que também participa nas jornadas.

O especialista frisou que, no caso do “doente de Berlim”, existiram “passos reconhecidos como avanço na ciência”, mas recordou outros casos de pacientes infetados com o VIH que receberam um transplante, mas não ficaram curados, por não incluir a alteração genética (ausência do recetor CCR5).

Por outro lado, Francisco Antunes questiona: “Só este doente se mantém com a carga viral indetetável, mas até quando?”.

O médico alertou para a especificidade de um tratamento desta natureza, além dos seus custos.

“O paciente teria de estar infetado [com o VIH] e ser um doente oncológico. Tinha de existir um dador compatível e com a mutação genética. Depois, teria de submeter-se a quimioterapia e radioterapia e receber o transplante”, adiantou.

Para Francisco Antunes, “o tratamento envolve muitos aspetos que não são de prática clínica. É uma situação experimental”.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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