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Qual o impacto das doenças mentais e comportamentais?

Atualizado: 
05/02/2020 - 16:08
As doenças mentais e comportamentais têm grande impacto sobre os indivíduos, as famílias e a sociedade. Os indivíduos sofrem os sintomas das doenças, mas também a incapacidade de participar na vida social, quer devido às limitações impostas pela própria doença, quer como resultado da discriminação de que são alvo frequentemente.

Estima-se que uma em cada quatro famílias terá pelo menos um membro com distúrbio mental ou comportamental, com maior ou menor severidade. A carga da doença nas famílias resulta não só do custo económico directo, inerente ao seu tratamento, e indirecto, associado à perda de produtividade, mas também, das reacções emocionais à doença, do stress resultante do facto de lidar com distúrbios de comportamento, da alteração do quotidiano e da discriminação social de que os doentes e as suas famílias são alvo. Estes custos intangíveis, difíceis de quantificar constituem uma componente importante na carga da doença mental e podem ter repercussões na saúde de outros membros da família.

As doenças mentais e comportamentais originam também um forte impacto negativo nas sociedades, devido aos recursos humanos, técnicos e financeiros necessários ao tratamento, recuperação e reinserção social dos doentes mentais e também como resultado da perda de produtividade dos doentes e ainda de alguns problemas legais associados a alguns transtornos mentais, nomeadamente a violência.

O impacto económico das doenças mentais e comportamentais foi estimado em 2,5 por cento do produto nacional bruto nos Estados Unidos da América. Nalguns países da Europa Ocidental, como a Holanda e o Reino Unido, os custos das doenças mentais representam mais de 22 por cento do total das despesas dos respectivos Serviços de Saúde. A OMS estima que a prevalência instantânea global de doenças mentais na população adulta seja de 10 por cento e que mais de 25 por cento da população mundial é afectada por uma patologia desta natureza nalgum momento da sua vida (prevalência ao longo da vida).

Assim, calcula-se que cerca de 450 milhões de pessoas sofrem de doenças neuropsiquiátricas, tais como distúrbios depressivos unipolares, perturbação afectiva bipolar, esquizofrenia, doença de Alzheimer e outras demências, perturbações associadas ao uso de álcool ou de outras drogas, stress pós-traumático, distúrbios obsessivo e compulsivo, doença do pânico, etc.

A depressão, com episódios unipolares ou bipolares é uma das doenças mentais mais frequentes, afectando mais de 10 por cento da população observada neste estudo. A OMS estima, que a nível da população mundial, cerca de 5,8 por cento dos homens e 9,5 por cento das mulheres experimentarão um episódio depressivo num período de 12 meses. A OMS estima também que a prevalência de perturbações associadas ao uso de álcool (uso nocivo e dependência) será de 2,8 por cento para os homens e de 0,5 por cento para as mulheres.

Para estimar o impacto das doenças crónicas e incapacitantes na saúde pública, como é o caso das doenças mentais e comportamentais, para além da prevalência e mortalidade recorre-se a outro tipo de indicadores, como o DALY ( Diseability Adjusted Life Years) e o YLD ( Years of Life lived with Diseability), que integram também a incapacidade associada às doenças em estudo e através do seu conjunto é construído um indicador global, designado por Carga Global de Doença (Global Burden of Disease - GBD).

Os DALYs, anos de vida ajustados à incapacidade, correspondem ao somatório dos anos de vida saudável perdidos devido a uma doença, ou conjunto de doenças. Este indicador amplia o conceito de anos potenciais de vida perdidos por morte prematura (APVP) integrando o conceito de ano equivalente de vida saudável perdido devido a estados de saúde deficitários, ou seja de incapacidade, associada à doença em análise.

De acordo com a OMS, em 1990 as doenças mentais e comportamentais terão originado cerca de 10,5 por cento do total de DALYs perdidos devido a todas as doenças e lesões, estimando que em 2000 aquele valor teria sido de 12,3 por cento e que em 2020 atingirá 15 por cento do total de DALYs. A OMS estimou ainda que, em 2000, o número de anos vivido com incapacidade (YLD) associada às doenças mentais e comportamentais terá sido de 31 por centro do total de YLD provocados por todas as causas.

Considerando o conjunto de indicadores estudados conclui-se que em 2001 as doenças mentais e comportamentais terão sido responsáveis, por 21 por cento do total da Carga Global de Doença a nível mundial. Apenas as doenças infecciosas e parasitárias (41 por cento) e as doenças cardiovasculares (26 por cento) terão originado uma maior carga de doença.

A depressão unipolar é a perturbação neuropsiquiátrica que origina uma maior proporção de DALYs, particularmente no sexo feminino. A OMS indica que as perturbações depressivas unipolares representam um encargo enorme para a sociedade, sendo classificadas como a quarta entidade nosológica que maior carga de doença origina, sendo responsável por 4,3 por cento do total de DALYS e a principal causa de YLDs, representando 11,9 por cento do total YLDs na população em geral. No grupo etário dos 15 aos 44 anos a depressão foi a segunda maior causa de carga de doença, originando 8,6 por cento de DALYS perdidos. Estima-se ainda que, caso se mantenham até 2030 as tendências de evolução demográfica e epidemiológica a carga de doença associada à depressão aumentará para 6,2 por cento do total de DALYs tornando-se a primeira maior causa de carga de doença.

O abuso do álcool encontra-se no 18º lugar do ranking entre as causas de maior proporção de DALYs perdidos na população total e no 5º lugar do ranking da população masculina do grupo etário de 15 aos 44 anos. Estima-se que o álcool seja responsável por 1,5 por cento de todas as mortes e 3,5 por cento do total de DALYs. Essa carga de doença inclui não só perturbações físicas, como a cirrose, mas também lesões e acidentes rodoviários e de trabalho imputáveis ao álcool.

A esquizofrenia figura no 8º lugar do ranking entre as causas de maior proporção de DALYs perdidos no grupo etário dos 15 aos 44 anos devido ao elevado grau de incapacidade que provoca, a qual muitas vezes é permanente. Estima-se que a esquizofrenia reduza em média 10 anos no tempo de vida do doente.

Importa ainda considerar que é muito comum a coexistência de duas ou mais perturbações mentais no mesmo doente, principalmente em idosos e mulheres. Por exemplo, estima-se que a ansiedade e a depressão co-existam em cerca de metade dos doentes com aquelas perturbações. Também é muito comum a coexistência de distúrbios mentais associados ao uso de substâncias psicoactivas, nomeadamente o álcool e esquizofrenia.

Fonte: 
Manual das Doenças Mentais e Comportamentais
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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