“Desmontar” mitos sobre a pílula do dia seguinte
A perceção geral sobre a contraceção oral de emergência, também conhecida como pílula do dia seguinte, continua rodeada de rumores e mitos que a estigmatizam socialmente. No entanto, a contraceção oral de emergência é uma segunda oportunidade para todas as mulheres que tenham um incidente durante uma relação sexual com o seu método contracetivo habitual; ou que não tenham utilizado qualquer método e queiram evitar uma gravidez não planeada.
Em Portugal, 88% das mulheres afirmam já ter ouvido falar da pílula do dia seguinte, segundo um estudo elaborado pela Sociedade Portuguesa de Ginecologia e a Sociedade Portuguesa da Contracepção. O mesmo estudo conclui ainda que 17% das mulheres portuguesas sexualmente ativas já utilizou a pílula de emergência1. Apesar deste conhecimento, são ainda muitos os mitos sobre a pílula do dia seguinte.
Teresa Bombas, Especialista em Ginecologia e Obstetrícia e Presidente da Sociedade Portuguesa da Contracepção, comentou: “O falso conceito mais frequente, e que importa combater, refere-se ao mecanismo de ação da contraceção de emergência, confundindo-a com um método abortivo. A contraceção oral de emergência atua na fase pré-ovulatória inibindo ou atrasando a ovulação (libertação do óvulo). Quando não há ovulação, não há gravidez”. “A contraceção de emergência não interrompe a gravidez, não é abortiva,” concluiu Teresa Bombas.
A utilização da contraceção oral de emergência deve ser feita de forma ocasional e excecional. A contraceção oral de emergência não protege de infeções sexualmente transmissíveis, e não deve substituir, em nenhum caso, os métodos contracetivos regulares.
Falsos mitos sobre a Pílula do Dia Seguinte
Estudos demonstram que facilitar o acesso à pílula do dia seguinte não aumenta o comportamento de risco contracetivo ou sexual2. Ao saberem que têm esta opção, as mulheres não terão por isso, mais relações sexuais sem proteção, sendo ainda mais provável que adotem um método contracetivo permanente depois de terem usado a pílula do dia seguinte3,4. O retorno à fertilidade pode ser imediato5 mesmo que continue a utilizar o método contracetivo regular, pelo que deverá utilizar-se sempre um método barreira (preservativo) até ao próximo período menstrual.
Outra dúvida comum é o que acontece se a mulher já estiver grávida no momento em que toma a pílula do dia seguinte? Os dados disponíveis não sugerem preocupação com a segurança no desenvolvimento do feto5, uma vez que a contraceção de emergência apenas pode inibir ou atrasar a ovulação para que a fecundação não aconteça. É exatamente por este motivo que é extremamente importante tomá-la o mais rápido possível após a relação sexual não protegida ou falha do método contracetivo, pois quanto mais próximo a mulher estiver da ovulação, maiores são as possibilidades de engravidar6. Se a ovulação já tiver ocorrido, a contraceção oral de emergência deixa de ser eficaz. Por isso, a contraceção oral de emergência não evita a gravidez em todos os casos, nem interrompe uma gravidez existente. Não se destina à utilização durante a gravidez e não deve ser tomado por nenhuma mulher em caso de suspeita de gravidez ou se souber que está grávida. Se o período menstrual estiver atrasado ou em caso de sintomas de gravidez, deverá excluir-se a possibilidade de gravidez antes da administração da pílula do dia seguinte.
Também é importante destacar que a pílula do dia seguinte não proporciona uma cobertura contracetiva para uma relação sexual sem proteção nos dias seguinte à sua toma e, desta forma, é importante usar métodos contracetivos barreira (como os preservativos) até à menstruação seguinte5.
Papel fundamental dos farmacêuticos
Os farmacêuticos são os primeiros prestadores de cuidados de saúde à escala mundial, pois são o primeiro ponto de contacto com o sistema de saúde. Assim, desempenham um papel fundamental na dispensa da pílula do dia seguinte, uma vez que conhecem o seu mecanismo de ação e poderão aconselhar e orientar sobre a sua correta utilização ou referenciar para uma consulta de planeamento familiar.
Referências:
1Estudo Avaliação das práticas contraceptivas das mulheres em Portugal, pela Sociedade Portuguesa de Ginecologia e da Sociedade Portuguesa da Contraceção.Junho 2015
2Gainer E, et al. Contraception 2003; 68(2):117-24.
3Polis, et al. The Cochrane Library 2013, Issue 7.
4Moreau C, et al. 2009. Am J Public Health 2009; 99:441-2.
5Resumo das caraterísticas do medicamento ellaOne
6Wilcox AJ, et al. N Engl J Med 1995; 333:1.517-21.