Atinge 11% das mulheres durante a gravidez

Depressão Perinatal ou Pós-parto: sabe o que é?

Atualizado: 
13/03/2020 - 16:15
Com a ajuda da médica psiquiatra, Ana Peixinho, reunimos um conjunto de perguntas e respostas para que fique a saber o essencial sobre a Depressão Perinatal.

O que é a Depressão Perinatal?

A Depressão Perinatal é a depressão que surge na gravidez, parto ou período pós parto (12 meses).

Quais são os sintomas?

Os sintomas são semelhantes aos da depressão noutras fases da vida e englobam tristeza, diminuição do interesse e do prazer nas atividades habituais, alterações do apetite e sono, agitação ou lentificação física e psíquica, fadiga ou diminuição da energia, perda da autoestima/confiança ou sentimentos de culpa, diminuição da concentração ou da capacidade de tomar decisões e ideias recorrentes de morte, de suicídio ou comportamentos suicidários.

Estes sintomas estão presentes durante pelo menos 2 semanas, ocorrendo na maioria dos dias e causam sofrimento significativo ou têm implicação negativa no desempenho social, ocupacional ou noutras áreas do funcionamento pessoal.

É muito frequente?

A Depressão Perinatal ocorre em cerca de 11% das mulheres durante a gravidez e em 13% no primeiro trimestre pós-parto.

Ou seja, não existe diferença significativa entre a prevalência ou incidência da depressão entre mulheres grávidas e não grávidas. Contudo, a identificação e o tratamento da depressão é menor nas mulheres grávidas o que dá uma perceção de menor prevalência.

O que é o “Baby Blues” ou “Blues Pós- Parto”?

É uma situação que ocorre em 50% das mulheres no período pós-parto, surgindo nos primeiros 3 dias após o parto e terminando entre o 7º e o 10º dia. Verifica-se um pico de intensidade ao 5º dia. Os sintomas incluem labilidade emocional, choro fácil, irritabilidade, tristeza, ansiedade e alterações do sono e do apetite. Esta situação tem intensidade moderada.

É importante realçar que a ocorrência de “Baby Blues” está associada ao desenvolvimento posterior de Depressão Pós-Parto.

Quais são os Fatores de Risco para a Depressão Perinatal?

Os fatores de risco são múltiplos e subdividem-se em três grupos principais: Sociais, Psicológicos e Biológicos.

Os Fatores de Risco Sociais incluem o nível socioeconómico, a exposição a traumas, a situações de vida adversas e a stress, a violência doméstica, o relacionamento marital, o apoio social, o desejo de estar grávida e também o facto de ser emigrante. 

Os Fatores de Risco Psicológicos englobam os traços de personalidade da mulher e a existência de doença psiquiátrica prévia como Depressão, Ansiedade, Perturbação de Stress Pós-Traumático e Abuso de Substâncias. A existência de história familiar de doença psiquiátrica é também um factor de risco para Depressão Perinatal.

Os Fatores de Risco Biológicos são: a idade, a susceptibilidade genética e hormonal, a existência de doenças crónicas e de complicações na gravidez. A Depressão Pós-Parto surge mais frequentemente em mulheres que já têm filhos, em gravidezes múltiplas, em partos pré-termo e quando os recém-nascidos têm baixo peso ao nascer.

Como se trata?

O tratamento engloba duas vertentes: Psicossocial e Psicológica e Farmacológica.

Os tratamentos não-farmacológicos são particularmente importantes no Período Perinatal e incluem Terapia Interpessoal e Terapia Cognitivo Comportamental.

Muitas vezes esta intervenção não é suficiente e é necessário recorrer ao tratamento farmacológico.

A utilização de psicofármacos no Período Perinatal requer uma análise individualizada da relação risco/benefício sem esquecer o risco para a mãe, feto e criança da doença não tratada.

Contudo, e apesar da evidência do risco da utilização de psicofármacos ser restrita por se basear em estudos observacionais que estabelecem associações e não causalidade é seguro utilizar estes medicamentos.

Habitualmente opta-se por antidepressivos de uma classe específica, chamada de Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina que são eficazes.

Sabe-se que 3% das mulheres grávidas estão medicadas com antidepressivos na Europa e 10% nos EUA.

Na prescrição terapêutica deve-se utilizar a dose mínima eficaz para obter o resultado desejado tendo em conta o risco mais baixo para a mãe e bebé. Deve -se preferir sempre a utilização de um único fármaco e envolver a mãe e o pai da criança nas decisões a tomar.

É importante referir que é possível amamentar o bebé enquanto medicada com psicofármacos. A utilização destes medicamentos no Período Pós-Parto não deve ser um factor determinante nem para não fazer medicação psiquiátrica neste período nem para deixar de amamentar. O acompanhamento por um psiquiatra experiente na área perinatal é fundamental para que seja realizado um correcto acompanhamento na tomada de decisões terapêuticas durante a amamentação.

Como se pode prevenir?

Existem várias estratégias simples que permitem prevenir a Depressão Perinatal.

Antes de mais é importante estar atento para a depressão no contexto da gravidez e não exclusivamente no Período Pós-Parto. Uma identificação atempada, minimiza o prejuízo, não só durante a gravidez como também no Período Pós-Parto e aumenta a taxa de tratamento.

Internacionalmente preconiza-se a utilização de um questionário que permite fazer o despiste de Depressão Perinatal e que deve ser preenchido pela grávida e puérpera em 3 momentos: na 1ª consulta da gravidez, durante o primeiro trimestre e na 1ª consulta pós-parto. Esta escala, inicialmente utilizada para a Depressão Pós-Parto e actualmente aplicada à Depressão Perinatal é composta por 10 itens relativos à presença de sintomas depressivos nos últimos 7 dias. O tempo médio de administração deste questionário é de 5 minutos e é de auto-preenchimento. Se o resultado obtido for sugestivo de depressão a mulher é referenciada para consulta de Psiquiatria.

Um adequado acompanhamento psicossocial durante a gravidez, realizado pelo médico assistente, por um técnico de referência como o enfermeiro ou inclusivamente adquirido através da frequência de cursos pré-parto criam uma rede de apoio e suporte à grávida que a tranquiliza e dá espaço para que os seus receios e emoções sejam expressos livremente.

No período Pós-Parto a existência de visitas periódicas e individualizadas, o apoio telefónico, a psicoeducação e a aprendizagem de estratégias para lidar com as dificuldades no sono são essenciais para prevenir a Depressão.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
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