O buraco macular atinge 3 em cada 1000 pessoas

Células estaminais do cordão umbilical com potencial para o tratamento de lesões oculares

Resultados de um ensaio clínico piloto revelam que os exossomas derivados de células estaminais mesenquimais (MSCs, do inglês Mesenchymal Stem Cells) do tecido do cordão umbilical promovem o fecho de buracos maculares, após cirurgia habitualmente realizada no tratamento desta lesão, através da regeneração dos tecidos lesionados.

No ensaio, que pretendeu avaliar os efeitos da injeção de MSCs do tecido do cordão umbilical e dos seus exossomas (Exos-MSCs) no fecho de buracos maculares após procedimento cirúrgico, foram incluídos sete doentes, maioritariamente do sexo feminino, com idades compreendidas entre 51 e 77 anos, que apresentavam buracos maculares com tamanhos superiores a 400 µm, há mais de um ano.

Estes doentes foram submetidos às cirurgias habituais para o tratamento desta lesão, efetuando-se, de seguida, a injeção de MSCs a dois dos doentes, tendo aos restantes sido administrados apenas Exos-MSCs. Nos doentes tratados com MSCs o buraco macular fechou, contudo, num deles formou-se uma membrana fibrótica na superfície da retina, o que poderá ter consequências graves para a mesma (como deslocamento da retina). Nos doentes que receberam Exos-MSCs ocorreu o fecho do buraco macular, sem complicações. Os doentes revelaram ainda uma melhoria da função visual.

“Este estudo evidencia que é a transferência de conteúdo entre os exossomas e as células da retina, e não propriamente a integração celular das MSCs, que promove a regeneração do tecido lesionado. Desta forma, a utilização de exossomas de MSCs do tecido do cordão umbilical poderá ser uma estratégia promissora para o tratamento de doenças da retina”, afirma Maria João Rocha, Investigadora no Departamento de I&D da Crioestaminal.

As MSCs são atualmente reconhecidas pelas suas capacidades anti-inflamatórias, imunomodeladoras, neuroprotetoras e de regeneração de tecidos danificados. Estudos recentes sugerem que as capacidades terapêuticas destas células se devem, em parte, à libertação de pequenas vesículas (“bolsas/bolhas”). Estas vesículas, cientificamente referidas como exossomas, contêm no seu interior moléculas bioativas (proteínas e RNAs) passíveis de serem transferidas entre células, o que constitui um mecanismo importante na reparação de tecidos.

É na macula (zona central da retina) que se encontra a maior concentração de células visuais, tornando-a essencial para a definição e nitidez necessárias em atividades como a leitura, a escrita e a condução automóvel. Esta lesão ocorre quando o humor vítreo (estrutura gelatinosa que ocupa cerca de 80% do conteúdo do globo ocular) se desloca formando um buraco na fóvea (área central da mácula). Ainda não são conhecidas as suas causas, no entanto, fatores como idade, miopia severa e traumas físicos violentos poderão estar na origem da contração do humor vítreo separando-o assim da mácula. O procedimento cirúrgico mais comumente utilizado para tratar este problema é a vitrectomia (termo geral para designar um grupo de operações que visam remover parte ou a totalidade do vítreo). Atualmente, esta técnica permite fechar 98% dos buracos maculares com um tamanho inferior a 400 µm. Contudo, para buracos maculares com tamanho superior e/ou de longa duração (> 6 meses) este procedimento demonstra pouca eficácia.

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