Maioria dos doentes apresenta sinais vagos

Cancro do pâncreas: todos os anos surgem 1500 novos casos da doença em Portugal

Atualizado: 
06/05/2020 - 11:01
Tabagismo, obesidade, diabetes ou história familiar de cancro são alguns dos fatores de risco associados ao cancro do pâncreas. Um tipo de neoplasia que afeta tanto homens quanto mulheres, considerada a quinta causa de morte por cancro no nosso país. Hoje, o especialista Paulo Soares escreve sobre o tema.

O pâncreas é uma glândula com 15 cm de extensão e faz parte do sistema digestivo e endócrino, localizada atrás do estômago e entre o duodeno e o baço. Tem funções exócrinas (enzimas pancreáticas) e endócrinas (insulina e outras).

O cancro do pâncreas surge quando as suas células se começam a multiplicar de forma descontrolada e formam um tumor. 

Epidemiologia

O cancro do pâncreas é de apenas 3% de todos os cancros mas responsável por 5% da mortalidade por cancro, com uma incidência anual de cerca de 1500 novos casos em Portugal.  É a terceira neoplasia maligna mais frequente do tubo digestivo em Portugal e a segunda no mundo ocidental, depois do cancro do cólon, e a quinta mais frequente causa de morte por cancro.

A maior parte dos casos ocorre entre os 55 e 74 anos de idade, sem predominância entre o género.

Um ano após o diagnóstico da doença, menos de 20% dos doentes estão vivos, e só 3% sobrevivem 5 anos. Doentes com doença irressecável ou com metástases a distância têm uma sobrevida média de apenas 2-6 meses.

Sintomatologia e Diagnóstico

Existem diversos fatores de risco associados sendo mais relevantes a idade > 60 anos, tabagismo, obesidade, dieta rica em gordura, diabetes e história familiar de cancro do pâncreas.

A maioria dos doentes apresenta sintomas vagos e não específicos. Contudo são sinais de alarme a icterícia obstrutiva (cor amarela de pele e escleróticas, urina escura de vinho), dor epigástrica ou dorsal, perda de peso inexplicável, diabetes com inicio tardio e saciedade precoce.

O estudo inclui a Tomografia Computorizada (TC), mas outros exames poderão ser solicitados como a Ressonância Magnética (RM), Colangiopancreatografia Endoscópica Retrógrada ou Ecoendoscopia, com ou sem biópsias.

Tratamento

Dependente do estadiamento da doença à altura do diagnóstico. As opções podem incluir cirurgia, radioterapia e a quimioterapia, por si ou de forma combinada.

Em tumores  localizados e operáveis, a biópsia está contraindicada, devido ao perigo de disseminação do tumor. Estes doentes são submetidos a intervenção cirúrgica e o diagnóstico confirmado pelo exame patológico da peça cirúrgica.

A cirurgia pode ser efectuada por via clássica ou por via laparoscópica e quando possível constitui a opção de potencial curativo.

Prognóstico

O prognóstico varia consideravelmente em função do tipo de cancro, sua localização e modo de apresentação.

Os casos diagnosticados em fases avançadas e quando o cancro já tem uma dimensão considerável ou se propagou para outras partes do corpo (80%) tem pior prognóstico. Novos esquemas de quimioterapia demonstraram uma melhoria no tempo média de sobrevivência, embora não seja superior a um ano.

Nos restantes 20% dos casos de adenocarcinoma pancreático com diagnóstico localizado e de pequenas dimensões (<2 cm e estágio T1), cerca de 20% dos doentes sobrevive para além dos cinco anos.

Nos tumores neuroendócrinos, o prognóstico é melhor, uma vez que muitos são benignos e não apresentam quaisquer sintomas clínicos, e mesmo os casos irressecáveis apresentam uma taxa de sobrevivência aos cinco anos superior a 16%.

Prevenção e Rastreio

Para além de não fumar, recomenda-se a manutenção de um peso saudável e o aumento do consumo de fruta, verduras e cereais integrais, a diminuição do consumo de carne vermelha e carne processada. O consumo de cereais integrais, ácido fólico, selénio e peixe não frito poderão ter um efeito benéfico na sua prevenção.

Atualmente, só se considera o rastreio de grupos específicos em pessoas que apresentam risco elevado devido a hereditariedade genética.

Mensagem a levar para casa

Em caso de suspeita de cancro, devido a sintomas ou a um exame complementar de diagnóstico que apresente uma alteração, deve dirigir-se sempre ao seu Médico Assistente. O mesmo fará uma primeira avaliação clínica e consoante o tipo de suspeita, encaminhará o seu caso para as especialidades necessárias: Gastrenterologia, Cirurgia Geral ou em alternativa, menos habitual, Oncologia.

Autor: 
Dr. Paulo Soares – Cirurgia Geral Hospital Lusíadas Porto
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock