Estudo revela

Campanhas publicitárias de prevenção da Sida são pouco esclarecedoras

A maioria das campanhas publicitárias de prevenção da Sida apresenta discursos pouco esclarecedores e promove até mensagens incorretas, segundo um estudo da Universidade de Aveiro.

O estudo analisou o discurso de 81 campanhas realizadas em Portugal, Brasil, Angola e Moçambique, entre 2000 e 2010.

Em declarações à Lusa, a autora do estudo, Ana Frias, disse que "a maioria das campanhas esclarece pouco sobre o VIH/Sida enquanto infeção sexualmente transmissível, não especificando, por exemplo, modos de prevenção e as vias de transmissão".

"Em muitas das campanhas surge apenas um logótipo que permite levar as pessoas a pensar que se está a abordar o VIH/Sida, mas a informação nem sempre é clara", diz a investigadora. Igualmente preocupantes são "as mensagens vagas ou incorretas" veiculadas em algumas das campanhas.

Como exemplo, Ana Frias refere o caso de duas campanhas moçambicanas que, procurando alcançar a problemática da poligamia em África, dizem que "fazer parte de uma rede sexual é o mesmo que todos terem relações sexuais uns com os outros".

Por outro lado, as campanhas parecem não contemplar alguns públicos que também merecem investimento, como as pessoas envelhecidas, aponta a autora da investigação, apresentada em abril e desenvolvida no âmbito do Doutoramento em Didática e Formação da Universidade de Aveiro (UA).

Patente nos 81 'spots' publicitários oriundos daqueles quatro países, "o preservativo masculino surge como ‘protagonista' central da prevenção do VIH/Sida".

"As campanhas que promovem o uso do preservativo jamais concebem a possibilidade de outras práticas sexuais que não as convencionais, descurando, por exemplo, o sexo oral, nunca sequer insinuado nestes discursos", refere a enfermeira no Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC).

No sentido contrário, a investigadora encontrou também campanhas que "demonstram claramente indícios de querer veicular informações relevantes sobre a problemática, bem como a preocupação por omitir estereótipos de sexualidade e de género, a promoção de valores e a abrangência de diversos públicos".

O 'spot' publicitário português "5 razões para não usar preservativo" é exemplo disso, indicou Ana Frias, lembrando que este anúncio governamental foi premiado a nível internacional e "distingue-se também pela promoção do preservativo enquanto parte integrante da sexualidade humana".

A enfermeira no CHUC lamentou ainda o desinvestimento que tem havido na promoção de campanhas de prevenção da SIDA em Portugal, nos últimos anos.

"Estes 'spots' publicitários têm vindo a ser menos divulgados, sobretudo na televisão", afirmou, alertando que isso "pode gerar uma falsa sensação de invulnerabilidade à problemática que ainda não foi extinta".

 

Fonte: 
LUSA
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.
Foto: 
ShutterStock