Doentes oncológicos

Biológicos são mais uma arma para tratar cancro de forma eficaz

Têm menos efeitos secundários e em alguns casos aumentam a sobrevivência dos doentes. Investigação continua nesta área.

Os medicamentos biológicos são uma arma cada vez mais importante na luta contra o cancro. Não serão um substituto da quimioterapia, mas uma opção que pode ser conjugada com esta e com tratamentos hormonais para que se conseguiam melhores resultados, mais eficazes, mais duradouros e com menos efeitos secundários. O objetivo é encontrar cada vez mais medicamentos que atinjam alvos específicos nas células.

O que são estes medicamentos? Os biológicos são feitos em células vivas geneticamente modificadas. São proteínas que imitam os anticorpos do nosso organismo mas com algumas modificações que os tornam mais eficazes para travar uma determinada doença. Em muitos casos procuram alvos específicos para o fazerem, por isso não são uma solução para todos os tipos de cancro nem todos os doentes. Mas os resultados que têm mostrado explicam porque é continuam a ser alvo de muita investigação.

"Em alguns casos têm excelente resposta com ganhos no controlo da doença. No caso do cancro da mama existem vários biológicos que são de uso corrente e que têm eficácia no aumento da sobrevivência, com situações de regressão e desaparecimento da doença. Já começam a ser usados para consolidar a eficácia da cirurgia, evitando que a doença reapareça naquele local ou noutro", explicou ao Diário de Notícias Helena Gervásio, presidente do colégio de oncologia da Ordem dos Médicos, acrescentando que "o nosso objetivo é ter cada vez mais opções para controlar a doença de forma mais duradoura e com os menores efeitos possíveis". Os biológicos, diz, "não substituem a quimioterapia. Têm indicações completamente distintas. Muitas vezes complementam-se. Os biológicos também têm toxicidade".

O mesmo aponta o oncologista José Passos Coelho. "Em geral são menos tóxicos que a quimioterapia, mas há biológicos que têm níveis de toxicidade que não são desprezáveis. Como há fármacos de quimioterapia que são pouco tóxicos", frisou, para salientar a importância de ter várias armas à disposição: "Muitas vezes usamos mais do que uma classe de medicamentos para que se juntem os benefícios de uns aos outros. Procuramos adicionar tudo o que seja possível para aumentar a probabilidade de cura." O coordenador do departamento de oncologia do Hospital Beatriz Ângelo (Loures) afasta a ideia de que estes tratamentos podem substituir a quimio. "O nosso desejo é que surjam opções cada vez com mais eficácia e menos toxicidade que possam adiar ou evitar a quimioterapia".

Gabriela Sousa, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia, explica que "a complexidade do tratamento do cancro é enorme" e que "a tendência para o futuro é que os tratamentos sejam mais eficazes e com terapêuticas mais dirigidas". "Mas estamos longe de dizer que os biológicos vão substituir a quimioterapia. Os tumores que não expressem os alvos precisam sempre de quimioterapia. Podemos dizer que os biológicos serão a tendência para evitar a quimio no futuro".

Soluções mais baratas
Nos próximos dois anos espera-se que fiquem disponíveis quatro genéricos de biológicos para o cancro, a preços mais baratos, e a tendência será optar por estes quando for possível. "Só queremos ter a segurança que são tão eficazes e não têm mais efeitos que os que lhes deram origem. Desde que estejam testados, aceitamos e avançaremos para a prática clínica", apontou Helena Gervásio. Gabriela Sousa refere que a questão coloca-se na forma como vão entrar nos hospitais: "Nos doentes que estão estáveis deve haver cautela em alterar para um biossimilar. E o desempenho deve ser rigorosamente monitorizado para garantir o máximo de segurança."

Hélder Mota Filipe, da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) explica que "a troca de medicamentos em doentes que já estão a ser tratados pode fazer-se, sempre com informação ao doente e com monitorização para garantir que nada aconteça. Existem estudos do Norte da Europa que demonstram que a mudança pode ser feita sem que haja qualquer problema de segurança ou falta de eficácia. Temos feito sessões para esclarecer e debater abertamente o que são os biossimilares".

Fonte: 
Diário de Notícias Online
Nota: 
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