Lusocord

Banco público pode avançar este ano para certificado internacional

O banco público de sangue do cordão umbilical - Lusocord - poderá avançar este ano com o pedido de certificação internacional, que o ligará à rede mundial. No final de 2016 o Lusocord tinha 466 amostras criopreservados, estando próximo do valor mínimo (500) exigido internacionalmente para fazer parte da rede. Hélder Trindade, assessor do conselho de administração do Instituto Português de Sangue e Transplantação (IPST) para o Lusocord, explica que os critérios de qualidade e aceitação estão mais exigentes, tornando este o número possível de amostras criopreservadas.

O banco público foi criado há oito anos, mas passou por um processo de reestruturação que evitou que fechasse. Em 2013 recomeçou a sua atividade, fazendo recolhas regulares a partir de março desse ano. Foram autorizados pela Direção-Geral da Saúde a fazer colheita e armazenamento. A validação para transporte foi dada em maio de 2015, completando o processo nacional e deixando, desde então, as amostras disponíveis para transplante. O material é criopreservado num tanque robotizado a 196 graus negativos, onde fica em quarentena durante três meses.

Existem quatro hospitais a colher amostras para o Lusocord, cujo custo dos KITs é de 79,17 euros: os centros hospitalares de S. João, do Porto, Hospital Pedro Hispano (Matosinhos) e Amadora-Sintra, de forma a ter o máximo de representatividade da população residente em Portugal. Nos quatros anos foram recebidas 4164 amostras, mas a taxa de criopreservação ronda os 11%. Desde que reiniciou atividade que o objetivo é chegar às 500 amostras de forma a entrar na rede internacional.

Questionado sobre o tema, Hélder Trindade admite que "talvez este ano" deem início ao processo. Há um mês o jornal Expresso referia que os contactos institucionais já tinham começado. Ao Diário de Notícias o responsável explica os motivos que levaram a que a meta definida logo de inicio não fosse atingida. "É o número possível [de amostras criopreservadas] para cumprir com o que são hoje as especificações que as amostras devem ter. Ao longo do tempo os critérios de aceitação e de qualidade têm vindo a ser mais apertados em todo o mundo o que implica que apenas amostras com elevado número de células possam ser criopreservadas. Assim a taxa de criopreservação tem vindo a diminuir e neste momento é semelhante à de outros bancos", diz Hélder Trindade.

A venda de amostras é uma forma de garantir a sustentabilidade dos bancos públicos. Quando doado, o material deixa de ser pertença da grávida ou do bebé (ao contrário do que acontece com os bancos privados em que as células congeladas são pertença do próprio) e passam, depois de validades, a estar à disposição de qualquer pessoa que precise de um transplante desde que exista compatibilidade.

A sustentabilidade dos bancos públicos tem sido discutida internacionalmente. Um estudo publicado em 2015, disponível no jornal científico PLOS ONE, discute várias estratégias. No enquadramento referiam que "perto de 90% dos bancos públicos de sangue do cordão umbilical disseram estar em dificuldades financeiras para manter a sustentabilidade. O grupo, com investigadores de várias universidades internacionais, fez uma análise retrospetiva e concluiu que para garantir a viabilidade os bancos devem apostar na formação dos obstetras para ter o máximo de qualidade nas amostras colhidas e otimizar a seleção dos dadores, não só com base nas características da população e mas também para responder às minorias étnicas.

86 transplantes desde 1999
Desde 1999 que os IPOs de Lisboa e Porto realizaram 86 transplantes com recurso a células de sangue de cordão umbilical. Foram todos com recurso a amostras internacionais por não ter sido possível encontrar dadores compatíveis em Portugal. Entre os países de onde vieram as amostras estão Espanha, Itália, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos e França. No ano passado foram quatro os transplantes feitos com este recurso.

As células do cordão umbilical têm a vantagem de ser mais bem toleradas, pois são mais imaturas, exigindo menor compatibilidade. Mas é uma fonte de sangue humano de volume limitado. É por isso o Lusocord funciona como complemento ao registo de dadores de medula óssea (CEDACE). A ligação das plataformas informáticas está a ser desenvolvida. "Depende de concursos públicos que decorrem nos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde e que, como sabemos, são demorados. Esse desenvolvimento estará concluído este ano se tudo correr como previsto", explica Hélder Trindade.

O banco de dadores de medula português é um dos maiores do mundo por milhão de habitantes. Há dois anos - os últimos dados disponíveis no site do IPST relativos ao CEDACE são de 2015 - tinha 385 323 inscritos. Em dez anos (2005-2015) as dádivas ao banco permitiram realizar 781 transplantes em doentes nacionais e estrangeiros. Em 2015 ajudou pacientes de 18 países, com os Estados Unidos e Itália à cabeça. Nesse ano recebemos 43 amostras internacionais, sobretudo vindas da Alemanha.

Fonte: 
Diário de Notícias Online
Nota: 
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