Angola

Ativistas de luta contra VIH querem identificação da população-chave adaptada à realidade africana

Ativistas de luta contra o VIH/SIDA em Angola defenderam ontem a necessidade de uma maior abertura para a identificação da população-chave noutros grupos alvo, além dos dois definidos atualmente - homossexuais e as trabalhadoras do sexo.

A preocupação foi abordada durante o encontro mensal realizado pela Rede Angolana de Organizações Não-Governamentais de Luta contra o SIDA (ANASO), que agrega um total de 315 instituições e associações.

Na sua intervenção, o secretário executivo da ANASO, António Coelho, referiu que, em Angola, a prevalência do VIH é de 2%, percentagem que sobe para 11% entre o grupo de trabalhadoras do sexo e para 9% entre os homossexuais, dados que considerou preocupantes.

Atualmente, a população-chave é definida com base em critérios em que figuram homossexuais, lésbicas, heterossexuais e até os seus parceiros, bem como as trabalhadoras do sexo.

Em declarações, Pombal Maria, da associação Ação Humana, disse haver necessidade de África analisar a situação, porque "há muitos outros grupos com comportamentos de risco".

Pombal Maria cita, como exemplo, a população prisional, cuja situação sobre a sua sexualidade "não se conhece".

"É preciso fazer um estudo, como se relacionam os homens, porque há o direito à sexualidade na prisão. Isso parece que não é claro no nosso país e é possível que dentro dessa população prisional haja uma prevalência muito alta nesse grupo", apontou.

Além desse grupo, o ativista mencionou os homens com alto poder económico, cujo comportamento face às "elevadas assimetrias" em Angola não é controlado.

"Não se consegue controlar o comportamento dos homens que têm muito dinheiro, porque do outro lado estão aqueles que nada têm. E o que temos estado a ver, no dia-a-dia, com muitos comentários empíricos, é um comportamento promíscuo, quase adolescente, porque, além de terem duas, três, quatro mulheres, têm mais sete, oito ou 15 namoradas", referiu.

"Eu penso que a África, em relação ao VIH, tem de dizer o que entende por população-chave, um conceito africano, porque o conceito da nossa região, e de países como o nosso, é muito diferente dos que existem na Holanda, Bélgica, Suíça. É radicalmente diferente", concluiu.

No encontro, outras contribuições indicaram ainda como grupos a estudar os moradores de rua ou até os pescadores, "grupos de que ninguém fala".

Segundo Elisabeth Duarte, da Associação Angolana de Luta contra o SIDA, há três semanas, constatou, num trabalho que realizou, que muitas trabalhadoras do sexo são mulheres ou acompanhantes de pescadores, salientando que elas são provenientes do Zango, no município de Viana, aí permanecendo durante uma ou duas semanas.

"Na Europa não há este tipo de situações. Temos, então, de trabalhar com a nossa realidade", sublinhou.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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