Saiba como:

Ajudar as crianças a lidar com as perdas

Atualizado: 
01/09/2020 - 17:34
Durante o luto é comum a criança experienciar um conjunto ambivalente de sentimentos como a tristeza, a raiva e/ou a culpa. Saiba como ajudá-la a lidar com as perdas.
Menino a chorar

A morte de alguém próximo à criança espoleta vários sentimentos que, muitas vezes, não são reconhecidos pela família como estando relacionados com a perda. Ao alterar magicamente a realidade, não falando da morte, o adulto considera estar a proteger a criança e a aliviar a sua dor. Porém, desse modo a criança irá sentir-se confusa e desamparada. Distanciar a criança da realidade da perda poderá reforçar a reacção inicial de negação esperada no processo de luto normal e dificultar a passagem para o primeiro momento de elaboração da perda, respectivamente, a aceitação da ocorrência da morte. É necessário que os pais compreendam que as crianças conseguem lidar com situações como a doença e a morte, permitindo que estas coloquem questões e demonstrem os seus sentimentos.

Durante o luto é comum a criança experienciar um conjunto ambivalente de sentimentos como a tristeza, a raiva e/ou a culpa. A raiva pode resultar de um sentimento de frustração por a pessoa não poder ter feito nada para evitar a morte ou por uma experiência regressiva que ocorre após a perda de alguém próximo. Se a criança não lidar com a raiva de forma adequada o luto pode complicar-se, pois poderá focalizá-la noutra pessoa, culpando-a pela perda e considerando que esta poderia ter sido evitada. Por outro lado, pode dirigir a raiva a si própria, o que pode desencadear uma depressão profunda e, nos casos mais extremos, comportamentos suicidas. O seu pensamento egocêntrico pode levá-la a pensar que a perda de deveu a uma acção sua ou que as suas acções influenciam a tristeza/felicidade dos adultos. Esta pode ainda contribuir para o desenvolvimento do medo de que ela ou as outras pessoas que ama também morram, podendo ficar muito preocupada se os outros saem durante muito tempo de casa e não se querendo afastar da família, pedindo inclusive para dormir com os pais.

Os sintomas, comummente, apresentados ao longo deste período remetem para perturbações no sono (insónias), no apetite (redução/aumento), na actividade (hipoactividade/hiperactividade), encontrar-se distraído, isolamento social, sonhar com a pessoa falecida ou evitar lembrar-se dela, procurar e chamar o ente perdido, visitar sítios ou andar/guardar objectos que pertenciam/lembrem a pessoa que partiu. É ainda comum apresentarem queixas físicas como cansaço, falta de energia, dores de cabeça ou dores de barriga, preocupações, choro excessivo, sensação de vazio no estômago, aperto no peito, nó na garganta, hipersensibilidade ao barulho ou sensação de falta de ar. As cognições mais comummente experienciadas são a descrença (não acreditar na morte assim que se ouve a notícia); confusão mental (esquecendo-se das coisas); preocupação (obsessão com pensamentos acerca do falecido); sensação que o falecido continua presente; e alucinações (visuais e auditivas).

Se detectar alguns destes sinais após a experiência de uma perda será importante recorrer a um psicólogo especializado. Concretamente nestas situações, a terapia objectiva ajudar as crianças a experienciarem adequadamente o “processo de luto”, ou seja, o processo cognitivo de confrontação com a perda, de lidar com os acontecimentos anteriores e na altura da morte e de focar-se nas memórias do falecido, de forma a reorganizar o vínculo relacional, trabalhando com o objectivo de que estas no futuro não venham a desenvolver um processo de luto patológico.

Autor: 
Dra. Patrícia Vitorino - Psicóloga Clínica
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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