Dia Mundial das Alergias assinala-se a 8 de julho

Sofre de alergias no final do verão e no outono? A erva-das-pampas pode ser uma das causadoras!

Em muitas das nossas paisagens, principalmente na zona litoral (mas não só!), encontra-se em abundância uma espécie muito particular: a erva-das-pampas, também conhecida como penachos, plumas ou Cortaderia selloana. Com a beleza das suas plumas disfarça os impactes negativos que causa e torna-se atrativa para quem (ilegalmente!) a usa para decorar jardins, montras e até casamentos.

Esta espécie originária da região das Pampas, na América do Sul, foi introduzia em Portugal como planta ornamental nos jardins, mas não ficou circunscrita a esses espaços. Graças aos milhões de minúsculas flores, dispersadas facilmente pelo vento, começou a proliferar, sem a ajuda do Homem, e tornou-se invasora, de forma mais óbvia a partir dos finais do século passado. Atualmente a espécie continua em expansão acelerada no nosso território, dominando por completo muitas áreas, maioritariamente urbanas, periurbanas e na margem de estradas e caminhos de ferro, ou seja, áreas de alguma forma perturbadas. Mas também invade outros locais, como sapais, dunas ou mesmo o subcoberto de habitats florestais. Esta dominância resulta em problemas graves de carácter ambiental (degradação dos ecossistemas e eliminação das espécies nativas) e económicos (custos acrescidos no seu controlo e eliminação) que se já se tornam impossíveis de “ignorar”.

Acresce a estes problemas o facto de a espécie ter características alergénicas para o ser humano, criando um problema adicional de saúde pública. A erva-das-pampas pertence à família de plantas das gramíneas, o que requer um alerta especial para quem sofre de alergias relacionadas com o pólen produzido por estas plantas, e ao qual cerca de 20% da população mundial revela algum tipo de reação alergénica. As reações a este tipo de plantas podem traduzir-se em, por exemplo, renite alergénica, conjuntivite ou até problemas de asma, diminuindo significativamente a qualidade de vida das pessoas afetadas.

 

Mas as plantas nativas também nos causam alergias! Qual é o problema desta?

As gramíneas nativas também nos causam problemas de saúde, sobretudo durante o período de primavera. O que diferencia a erva-das-pampas da maioria das nossas espécies nativas é o seu período de floração que, ao ocorrer a partir do meio do verão até ao outono, tem o potencial para provocar um pico de alergias adicional, fora do período a que estamos habituados.

Dados reportados por cientistas, parceiros do projeto LIFE COOP Cortaderia, na região norte de Espanha (Fig. 1) onde a espécie está muito dispersa, revelam um significativo aumento na quantidade de pólen presente no ar, coincidente com a época de floração da erva-das-pampas. Esta época “extra” de alergias tem potencial para ter no futuro um impacte enorme na qualidade de vida das pessoas. Quanto mais a espécie se continuar a expandir, mais indivíduos desta planta existirão e mais acentuados serão estes problemas. É um efeito bola de neve!

O que podemos fazer para evitar este problema?

Acima de tudo, é essencial conter a expansão e eliminar todos os exemplares possíveis, até porque esta espécie está classificada como espécie exótica invasora no nosso país.

O Decreto-Lei  92/2019 proíbe a detenção, cultivo, comércio, criação, introdução na natureza e repovoamento com espécies exóticas que integrem a Lista Nacional de Espécies Invasoras, a qual inclui, entre muitas outras espécies de plantas e animais, a erva-das-pampas (Cortaderia selloana). Está, assim, proibida a venda, colheita e/ou uso de plumas, as quais se tornam especialmente atrativas na sua época de floração pela beleza exuberante que têm.

A utilização e promoção da utilização das plumas para decoração contribui para a dispersão das sementes da espécie, pode agravar ainda mais as alergias, inspira outros cidadãos a utilizá-la e, adicionalmente, incorre numa contraordenação ambiental cujas multas podem chegar aos 37.500€!

Há, no entanto, ações que podem ser tomadas para combater o problema da expansão da erva-das-pampas. Esta espécie foi muito usada como planta ornamental antes da sua proibição, pelo que é normal que possa ainda ter algum exemplar no seu jardim. É importante que todos os exemplares sejam eliminados, incluindo os que estão isolados! Se não sabe o que fazer para eliminar a erva-das-pampas, explore na figura 2 (anexo) algumas dicas que podem ajudar.

Para além de eliminar exemplares, pode ainda ajudar a mapear a ocorrência da espécie. Estes registos são fáceis e de elevada importância, podendo dar um contributo relevante para o planeamento e gestão que as entidades públicas e privadas do seu território poderão estar a efetuar para o combate à espécie.

Pode fazê-lo de forma fácil e rápida através do seu telemóvel, usando a aplicação gratuita iNaturalist, onde se deve registar antes do primeiro registo. Para efetuar cada registo basta tirar uma fotografia ao(s) exemplar(es) que pretende registar, fazer a identificação como erva-das-pampas e marcar a localização (marcação automática se tiver o GPS do telemóvel ligado). Para além de ajudar as entidades gestoras, estes registos vão também contribuir para o estudo da espécie e do seu comportamento no nosso país.

Se procura saber mais sobre a espécie, os seus impactes e métodos de controlo consulte a página do Life COOP Cortaderia (https://lifecoopcortaderia.org/) ou não hesite em contactar para [email protected].

O projeto COOP Cortaderia conta com a participação de parceiros espanhóis, franceses e portugueses, e tem como objetivo sensibilizar, educar / capacitar e promover a intervenção dos vários setores da sociedade de forma a gerir melhor a invasão por erva-das-pampas. Além de levar a cabo intervenções de controlo, nas áreas de alguns dos parceiros, e apostar fortemente na sensibilização ambiental, este projeto convida entidades públicas e privadas a aderir à Estratégia Transnacional de luta contra a Cortaderia no Arco do Atlântico, oferecendo formação e consultoria profissional para melhorar a gestão da espécie com o objetivo de travar a sua expansão e, onde for possível, eliminar a sua presença.

Todos os Municípios, Comunidades Intermunicipais, Concessionárias de (Auto)Estradas, assim como outras entidades, incluindo Associações, ONGs, empresas, etc. foram já contactadas e convidadas a aderir. Existem até à data 100 entidades portuguesas aderentes (lista disponível em lifecoopcortaderia.org/pt), de entre um total de 242 entidades nos três países. Entre todas estas entidades umas têm intervindo de forma mais “musculada”, com ações de controlo, outras têm apostado na prevenção com ações de sensibilização dos cidadãos ou voluntariado para mapear a espécie ou remover as plumas: exemplos inspiradores que mostram que ainda que o desafio seja grande, é possível ganhar algumas batalhas! No entanto, muitas entidades não chegaram sequer a responder ao convite de adesão e entre as aderentes há algumas que tardam em intervir de forma mais proactiva permitindo o avançar da invasão da espécie com consequentes impactes negativos que se avolumam rapidamente.

Se pertence a uma entidade pública ou privada que tem esta espécie no seu território (ainda que pontualmente!), pode juntar-se à Estratégia Transnacional, trabalhar em conjunto com parceiros que enfrentam o mesmo desafio, e passar a fazer a diferença usufruindo dos benefícios que o projeto lhe pode oferecer. Se, por outro lado, é um cidadão preocupado, pode controlar a espécie nos seus terrenos (se os tiver), deixar de usar a espécie, ou fazer pressão junto das entidades para que controlem esta (e outras) espécie invasora! Pode também divulgar o projeto COOP Cortaderia e a possibilidade de adesão à Estratégia junto de empresas, escolas, associações e, principalmente, dos agentes políticos locais (juntas de freguesia e municípios). Se for professor, o projeto oferece-lhe ainda um programa de ciência cidadã no qual pode participar com grupos de alunos e contribuir ativamente para aumentar o conhecimento, o mapeamento e o controlo desta espécie: os 5 Desafios COOP CORTAderia, disponíveis em https://lifecoopcortaderia.org/desafios-corta-deria/.

 

Links úteis:

Website: https://lifecoopcortaderia.org/pt/portada-pt/

DL 92/2019: https://diariodarepublica.pt/dr/legislacao-consolidada/decreto-lei/2019-124568069

Artigos científicos: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39726321/ e https://www.nature.com/articles/s41598-021-03581-5

Vídeo sobre a Estratégia e o projeto Life COOP Cortaderia: https://www.youtube.com/watch?v=6IG69ZsvSfI&t=2s&ab_channel=LIFECOOPCortaderia

Manual de Boas práticas STOP Cortaderia: https://www.seo.org/lifecoopcortaderia/kit-stop-cortaderia/
Estratégia Transnacional STOP Cortaderia: https://www.seo.org/lifecoopcortaderia/kit-stop-cortaderia/

 

 

Fonte: 
Escola Superior Agrária - Instituto Politécnico de Coimbra
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.