"Marta Temido, ao que parece, não pretende ser parte da solução"

Sindicato dos Enfermeiros exige um novo interlocutor na Saúde e admite endurecer luta

O presidente do Sindicato dos Enfermeiros, Pedro Costa, lamenta a ausência de resposta da ministra da Saúde ao documento reivindicativo entregue pelas estruturas sindicais a 21 de setembro. “Aparentemente não quer dialogar com os enfermeiros”, lamenta o dirigente sindical, defendendo que “é tempo de o Governo ter um novo interlocutor para a área da Saúde pois a ministra Marta Temido, ao que parece, não pretende ser parte da solução”. No próximo dia 11 de outubro, segunda-feira, os sete sindicatos vão voltar a reunir e estudar novas formas de luta que podem, no limite, passar pela greve.

“Estamos sempre dispostos a dialogar, a criar pontes de entendimento com o governo”, explica Pedro Costa, lamentando que idêntica postura não seja adotada pelo ministério. Recorde-se que a 21 de setembro as sete estruturas sindicais representativas dos enfermeiros entregaram no Ministério da Saúde um documento onde exigiam a reabertura do diálogo e das negociações conjuntas. Em cima da mesa estão temas como a avaliação, a progressão na carreira, o pagamento de milhares de horas extraordinárias e o reconhecimento do risco e penosidade da profissão.

Na altura, os representantes dos sete sindicatos, que foram recebidos por uma funcionária administrativa no hall dos elevadores do ministério, deram à tutela um prazo de dez dias úteis para obter uma resposta ou reabrir a mesa de negociações. O prazo acabou ontem, dia 06 de outubro, mas, até ao momento, nenhuma resposta foi dada pela tutela.

Pedro Costa lembra que “os problemas crónicos dos enfermeiros ficaram ainda mais expostos com a pandemia de COVID-19 e urgem ser resolvidos”. “Só que a ministra não nos respeita quando manda que sejamos recebidos à porta de um elevador, não nos ouve quando apelamos ao diálogo e tudo isso é ainda mais notório na ausência de resposta ao fim destas duas semanas”, acrescenta.

O dirigente recorda que “a ministra da Saúde faz tábua rasa de uma resolução da Assembleia da República aprovada no início do ano, onde se recomenda que o Governo retome a negociação com os sindicatos de enfermeiros, de forma a dar resposta às nossas reivindicações”. Em causa está, salienta, a Resolução da Assembleia da República n.º 58/2021, aprovada a 15 de janeiro de 2021 e publicada em Diário da República a 8 de fevereiro.

Na reunião da próxima segunda-feira, sublinha Pedro Costa, “todos os cenários vão estar em cima da mesa”. “É compreensível que a senhora ministra não esteja muito preocupada com a possibilidade de voltarmos à greve, pois basta-lhe recorrer a uma unidade privada”, acrescenta o dirigente do Sindicato dos Enfermeiros. Porém, diz, “nem todos os portugueses se podem dar a tal luxo e, para muitos, o Serviço Nacional de Saúde é o único ‘seguro’ a que podem aceder”.

Pedro Costa recorda que nos últimos dois anos “os enfermeiros foram uma peça fundamental no combate, controlo e vacinação contra a COVID-19”. E vão voltar a sê-lo com a vacinação em simultâneo contra a gripe e a eventual terceira dose da vacina contra a COVID. “Merecemos que haja, agora, espaço para o diálogo e para a negociação do reconhecimento de direitos que há muito deveriam estar consagrados na carreira de enfermagem”, acrescenta.

Se as estruturas sindicais decidirem avançar para a greve, Pedro Costa pede, desde já, desculpa aos portugueses “que vão voltar a ser prejudicados com o adiamento de cirurgias, consultas ou tratamentos”. “Lamentamos que quem não tem culpa da inoperância do Ministério da Saúde seja prejudicado mais uma vez, mas o que pedimos ao Governo é simples e justo”, acrescenta.

O presidente do Sindicato dos Enfermeiros mantém viva a esperança do diálogo. “A ministra, e o Governo, ainda têm tempo de mostrar que estão mesmo interessados em negociar com todos os sindicatos, sem promoverem negociações paralelas, que procuram dividir a classe para poderem impor a vontade de uma minoria à maioria da classe de enfermagem”, conclui.

Fonte: 
MS Impacto
Nota: 
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Sindicato dos Enfermeiros