Entrevista a Maria João Toscano, Diretora Executiva da Associação Dignitude
Programa Abem: Garantir medicamentos com dignidade e sem estigmas
Sexta, 26 Dezembro, 2025 - 08:43
A Associação Dignitude foi distinguida com o Prémio Portugal + Social, no âmbito da Mostra dos Fundos Europeus, pelo impacto do Programa Abem: Rede Solidária do Medicamento. Este projeto inovador assegura o acesso gratuito e digno a medicamentos comparticipados a pessoas em situação de carência económica, através de uma rede nacional de parceiros que inclui farmácias, autarquias e entidades sociais.

- O Programa Abem foi o vencedor do Prémio dos Fundos Europeus na categoria Portugal + Social. O que representa este prémio?
Este prémio representa um importante reconhecimento do impacto social do Programa abem: Rede Solidária do Medicamento e da relevância do seu modelo de intervenção. Valida o trabalho desenvolvido pela Associação Dignitude na promoção do acesso equitativo à saúde, em particular ao medicamento, assegurando que ninguém fica para trás por motivos económicos. Ao mesmo tempo, este reconhecimento evidencia o papel determinante dos Fundos Europeus no apoio a projetos inovadores, sustentáveis e com resultados concretos, que transformam positivamente a vida de pessoas em situação de maior vulnerabilidade e reforçam a coesão social.
- Para quem ainda não conhece o programa, como funciona o Abem e a que necessidades concretas procura responder?
O Programa abem: Rede Solidária do Medicamento garante o acesso gratuito a medicamentos comparticipados e prescritos a pessoas em situação de carência económica. Os beneficiários são referenciados por entidades locais parceiras — como IPSS, Cáritas, Misericórdias ou Autarquias — que recebem um Cartão abem:, que lhes permite levantar os medicamentos nas Farmácias abem:, sem qualquer custo. As Farmácias abem: desempenham um papel central: são o ponto onde os beneficiários acedem, sem custos, aos medicamentos de que necessitam, sendo também doadoras regulares do Fundo Solidário abem:. O Programa abem: é inovador pela forma transparente com que gere os donativos, uma vez que os medicamentos dos beneficiários são pagos através do Fundo solidário abem:, uma conta isolada e constituída por 100% dos donativos ao projeto. Os custos de estrutura são suportados pelos Associados ou através de financiamento como pela Portugal Inovação Social.
O Programa abem: responde a uma necessidade essencial: assegurar que as dificuldades económicas não sejam um obstáculo ao cumprimento da terapêutica, à continuidade dos tratamentos e ao acesso digno e equitativo à saúde.
- Que tipo de impacto tem observado na vida dos beneficiários desde a implementação do programa?
Desde o seu início, em 2016, o Programa abem: já apoiou mais de 43 600 pessoas e permitiu a dispensa de mais de 3,4 milhões de embalagens de medicamentos. Este apoio tem um impacto direto na melhoria da condição de saúde dos beneficiários, ao garantir o cumprimento da terapêutica. Para além disso, também promove uma melhoria da qualidade de vida ao reduzir a necessidade de cortar noutras despesas e aumenta o sentimento de inclusão e independência dos beneficiários.
- Quais foram os principais desafios na criação e consolidação desta rede a nível nacional?
A criação e consolidação de uma rede nacional como a do Programa abem: trouxe desafios exigentes. O primeiro obstáculo foi dar visibilidade a uma realidade silenciosa: a existência de milhares de pessoas que não conseguem comprar os medicamentos de que precisam por falta de recursos. Sensibilizar a sociedade e mobilizar parceiros exigiu persistência e consistência.
Outro desafio central foi o da sustentabilidade financeira. Quando o número de beneficiários aumentou de forma muito rápida tornou-se extremamente difícil prever consumos e estimar com rigor os donativos necessários para garantir continuidade no apoio. Este crescimento acelerado exigiu capacidade de gestão e de planeamento financeiro, num contexto em que falar de sustentabilidade no setor social ainda é, muitas vezes, um tabu.
A resposta a estes desafios assentou num modelo colaborativo, auditado e transparente, que tem vindo a reforçar a confiança de todos os parceiros. Superar estes obstáculos foi determinante para chegarmos onde estamos hoje: um programa sólido, sustentável, de alcance nacional, que transforma vidas e contribui para devolver saúde e dignidade a quem mais precisa.
- Em que medida os Fundos Europeus podem funcionar como verdadeiros catalisadores de inovação social na área da saúde?
Os Fundos Europeus têm um papel decisivo enquanto catalisadores de inovação social, ao permitir testar, estruturar e escalar respostas eficazes para problemas sociais complexos, como o acesso ao medicamento. No caso do Programa abem:, estes fundos são fundamentais para consolidar o modelo de intervenção, expandir a rede a nível nacional e reforçar a capacidade de resposta. Demonstram, assim, que a inovação social, quando apoiada de forma estratégica, pode gerar impacto real, duradouro e centrado nas pessoas que mais precisam.
- Atualmente, quantas pessoas são apoiadas pelo programa abem: e como tem evoluído esse número?
Desde a sua criação, em 2016, o Programa abem: tem registado um crescimento consistente, afirmando-se como uma resposta estruturada a um problema real de acesso ao medicamento. Ao longo deste percurso, já apoiou mais de 43 mil pessoas, integrando mais de 24 mil famílias, garantindo um acesso digno e continuado a medicamentos essenciais.
Este crescimento foi particularmente evidente durante o período da pandemia, em que, face ao agravamento das necessidades sociais e económicas, foi necessário aumentar significativamente o número de beneficiários, reforçando a capacidade de resposta do Programa.
Esta evolução foi acompanhada pela consolidação de uma ampla rede nacional, que envolve mais de 1.200 farmácias parceiras e 201 entidades referenciadoras em 176 concelhos, incluindo as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores. No total, já foram dispensadas mais de 3,3 milhões de embalagens de medicamentos, refletindo um impacto real e duradouro na vida das pessoas e um contributo claro para a coesão territorial e a justiça social.
- Esta semana, lançaram a campanha solidária “Dê Troco a Quem Precisa”, que envolve centenas de farmácias em todo o país. Pode falar um pouco sobre o objetivo desta campanha e qual o impacto esperado?
A Campanha “Dê Troco a Quem Precisa” realiza-se duas vezes por ano e tem como objetivo angariar fundos para o Fundo Solidário abem:. Até 26 de dezembro, os portugueses são convidados a doar o troco das suas compras — ou o valor que desejarem — em cerca de 600 farmácias aderentes em todo o país, incluindo regiões autónomas. Todos os donativos revertem integralmente para garantir o acesso a medicamentos essenciais a pessoas em situação de vulnerabilidade, transformando pequenos gestos em impactos muito concretos na vida de quem precisa. Podem apoiar o Programa abem: através do MB WAY (932 440 068) ou transferência bancária (PT50 0036 0000 9910 5914 8992 7), em qualquer altura do ano. Podem ainda tornar-se Amigos abem: e fazer donativos periódicos, estando a informação disponível em www.abem.pt
Fonte:
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Nota:
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
