Portugal assinala “Semana da Paz” com mais de 10 ações de sensibilização em escolas portuguesas

“Este tipo de ações de sensibilização são agora, mais do que nunca, imprescindíveis para combater a desinformação e proliferação de um discurso de ódio na sociedade nacional e global, sobretudo quando falamos de pessoas deslocadas à força”, começa por explicar Beatriz Rodrigues, Técnica de Sensibilização e Angariação de Fundos da Portugal com ACNUR. Por esse motivo, e sob o mote do Dia Internacional da Paz que se celebrou no passado domingo (21 de setembro), a Portugal com ACNUR está a dinamizar a “Semana da Paz”, uma iniciativa que decorrerá entre os dias 22 a 26 de setembro e que estima vir a alcançar aproximadamente 250 alunos do 2º e 3º Ciclos e do Secundário em 11 sessões de sensibilização em várias escolas do país.
Entre os temas abordados nestas ações de sensibilização destacam-se os Direitos Humanos, as alterações climáticas, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a violência de género, conceitos associados à deslocação forçada (o que significa ser um refugiado; o que é um deslocado interno, etc.) e o trabalho que o ACNUR está a desenvolver a nível global. “Procuramos sempre promover o pensamento crítico, a empatia e o respeito pela diversidade, ajudando estas crianças e jovens a compreenderem melhor os outros e a resolverem conflitos de forma pacífica, assim como a Educação em geral faz”, realça Beatriz, acrescentando ainda que “estas ações permitem-nos ir mais longe, abordando contextos e desafios globais a que muitas vezes os estudantes portugueses não têm acesso por não ser a sua realidade. Trabalhamos, por isso, na construção de cidadãos mais conscientes, ativos e solidários, que tomam decisões informadas, constroem uma sociedade mais justa, equitativa e cooperativa”.
Entre os alunos e professores, a reação não podia ter sido melhor, destacando como aspetos positivos o dinamismo e a possibilidade de participação que caracterizam estas sessões. “As ações de sensibilização feitas com as turmas foram muito interessantes e os alunos participaram com entusiasmo”, afirma uma professora do Colégio Valsassina em Lisboa, onde a Portugal com ACNUR tem vindo a realizar sessões de forma recorrente. “Conseguimos falar e interagir!!”, salienta um aluno/a da Escola Secundária Santa Maria dos Olivais, em Tomar, enquanto outro aluno/a da Universidade do Algarve em Faro destaca-a como uma “sessão dinâmica! A audiência tinha a oportunidade de participar”. Para a Organização parceira nacional da Agência da ONU para os Refugiados, estas sessões, “ao envolverem comunidades, escolas, instituições e meios de comunicação, contribuem para criar uma sociedade mais informada e empática, capaz de apoiar de forma ativa os direitos e a dignidade das pessoas em situação de deslocamento forçado”.
Défice de acesso à Educação entre refugiados coloca em causa soluções de paz e desenvolvimento sustentável, alerta Portugal com ACNUR
Para a Portugal com ACNUR, a Educação é um dos pilares fundamentais na promoção da paz e de um desenvolvimento sustentável e, por isso, tem reforçado os apelos do ACNUR para uma aposta maior no financiamento das operações neste âmbito a nível global. “As Bolsas DAFI são um exemplo concreto do impacto transformador que a Educação pode ter, não apenas na vida de cada estudante refugiado, mas também na promoção do desenvolvimento sustentável e da paz social. Desde 1992, o programa apoiou mais de 27 mil estudantes em 59 países, permitindo-lhes aceder ao Ensino Superior e construir novas oportunidades de futuro”, salienta Joana Feliciano, Responsável de Comunicação e Relações Externas da Portugal com ACNUR.
Atualmente, 46% da população refugiada em idade escolar não frequenta a escola, o que significa que aproximadamente 5,7 milhões de crianças e jovens refugiados não têm acesso a um direito tão básico como a Educação. O recente Relatório de Educação dos Refugiados 2025 do ACNUR apresenta-nos um panorama muito preocupante: apenas 67% das crianças refugiadas frequentam o Ensino Primário, 37% o Ensino Secundário e somente 9% chegam ao Ensino Superior, apesar de o objetivo global ser atingir 15% até 2030. “Este défice de acesso significa que milhões de crianças e jovens permanecem excluídos, privados de competências essenciais para reconstruir as suas vidas e contribuir para sociedades mais pacíficas e inclusivas”, alerta Joana.
No caso do Ensino Superior, as bolsas DAFI (Albert Einstein German Academic Refugee Initiative) têm sido um dos programas com maior eficácia. Em 2024, quase 8 mil estudantes beneficiaram destas bolsas, sendo que 45% eram mulheres - a proporção mais elevada de sempre. “Cada uma destas bolsas representa um passo para quebrar ciclos de pobreza, reduzir desigualdades e criar condições para a autonomia, fatores essenciais para prevenir conflitos e reforçar a coesão social”, sublinha a Responsável de Comunicação e Relações Externas da Portugal com ACNUR.
A bolsa DAFI - no valor de € 3.100 por ano e € 12.400 para toda a duração dos estudos - cobre todos os custos necessários por aluno, incluindo propinas, materiais de estudo, alimentação, transporte, alojamento e outras despesas, por um período máximo de quatro anos. Os estudantes DAFI têm ainda acesso a um apoio adicional sob a forma de orientação pessoal, aulas preparatórias de competências académicas e aulas de línguas adaptadas às necessidades individuais, bem como oportunidades de mentoria e networking e, se necessário, podem também receber apoio psicológico. De acordo com a Portugal com ACNUR, “até o momento esta iniciativa tem obtido excelentes resultados, sendo que os estudantes que se formaram graças à bolsa DAFI foram contratados por organizações internacionais, abriram os seus próprios negócios, receberam bolsas de estudo para pós-graduações, investiram inúmeras horas de voluntariado nas suas comunidades e garantiram empregos nas suas áreas de especialização”.Atualmente, a Portugal com ACNUR tem ativa uma campanha para que particulares e empresas se aliem à Organização na promoção da Educação e do programa das bolsas DAFI. “Em Portugal, existe a possibilidade de particulares e empresas se envolverem através de contribuições financeiras canalizadas via ACNUR, garantindo que mais jovens refugiados tenham acesso ao Ensino Superior. Investir na educação das pessoas refugiadas é, acima de tudo, investir num futuro mais inclusivo, justo e pacífico - um contributo que reforça tanto as comunidades de acolhimento como a sociedade global.”