Estudo

Novo fármaco regenera nervos erécteis danificados pela cirurgia da próstata

Investigadores da Albert Einstein College of Medicine desenvolveram um medicamento tópico que regenera e restaura a função dos nervos erécteis danificados pela prostatectomia radical, o tratamento mais comum para o cancro da próstata localizado. O fármaco foi testado em ratos, e as descobertas foram publicadas no jornal JCI Insight.

"A disfunção eréctil (DE) após a prostatectomia radical tem um grande impacto na vida de muitos pacientes e dos seus parceiros", disse David J. Sharp, professor no Departamento de Neurociências na Albert Einstein College of Medicine, e coautor deste estudo. "Como os ratos são modelos animais fiáveis na pesquisa urológica, este fármaco oferece uma esperança real de uma função sexual normal para as dezenas de milhares de homens que são submetidos a esta cirurgia todos os anos."

A prostatectomia radical — cirurgia para remover a próstata — é considerada o tratamento definitivo para o cancro da próstata localizado. "A cirurgia pode danificar os nervos cavernosos, que controlam a função eréctil regulando o fluxo sanguíneo para o pénis", explicou Kelvin P. Davies, professor de urologia e de fisiologia & biofísica. De acordo com o investigador, cerca de 60% dos doentes intervencionados reportam ter disfunção eréctil 18 meses após a cirurgia, e menos de 30% têm ereções firmes o suficiente para relações sexuais após cinco anos. O viagra e tratamentos semelhantes de DE raramente são eficazes nestes doentes, acrescentou.

Há uma década, Sharp e os colegas descobriram que a enzima fidgetina 2 (FL2) trava as células da pele enquanto migram para feridas para as curar. Para acelerar a cicatrização da ferida, os investigadores desenvolveram um fármaco "anti-FL2": pequenas moléculas de ARN (siRNAs) que inibem o gene que codifica o FL2. Embalados em nanopartículas de gel e pulverizados em ratos, os siRNAs não só curaram feridas duas vezes mais rápido que feridas não tratadas, como também regeneraram tecido danificado. Um estudo realizado em fevereiro de 2021 em ratos descobriu que os siRNAs também ajudaram na cura de queimaduras alcalinas corneais.

Os investigadores perceberam que os nervos feridos podem ser especialmente recetivos a este fármaco que silencia os genes. Por razões desconhecidas, o gene FL2 torna-se «sobreativo» após a lesão nas células nervosas, fazendo com que as células produzam quantidades abundantes de enzima FL2.

A equipa avaliou o fármaco usando modelos de ratos com lesão nervosa periférica em que os nervos cavernosos foram esmagados ou cortados, imitando os danos nervosos associados à prostatectomia radical. O gel de siRNA foi aplicado nos nervos imediatamente após a lesão.

Quando o tratamento foi aplicado foi possível observar a regeneração do nervo (recrescimento) e a restauração da função nervosa. Em três e quatro semanas após a terapia, os animais tratados tinham uma função eréctil significativamente melhor. Após um mês, a resposta da tensão arterial dos animais tratados era comparável à dos animais normais.

Os investigadores também descobriram que os eixos penianos dos animais tratados tinham níveis mais elevados da enzima óxido nítrico sintetase. A enzima produz o óxido nítrico necessário para desencadear a sequência de eventos que conduzem a ereções. "Isto é importante porque fármacos como o Viagra não funcionam se não houver óxido nítrico", explicou Sharp. "Mas se conseguirmos restaurar até mesmo alguns dos óxidos nítricos nestes nervos, o Viagra e outros fármacos para a Disfunção Eréctil podem então ser capazes de exercer os seus efeitos."

A equipa de investigação está ainda a estudar se os siRNAs podem promover a regeneração nervosa após lesões na medula espinhal.

Fonte: 
Albert Einstein College of Medicine
Nota: 
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