Revela neurocientista

Não só a Covid-19, infeções virais têm relação direta com graves doenças cerebrais

Apesar de muito ainda a ser descoberto sobre os efeitos da Covid-19, neurocientista revela que pelo menos já se sabe que as infeções virais podem ter relação direta com algumas doenças cerebrais graves.

A relação entre doenças no cérebro e os efeitos do coronavírus tem chamado a atenção da comunidade científica internacional. Enfermidades que envolvam infeções virais nas vias respiratórias não é algo totalmente inédito para a humanidade, tanto que a relação desta enfermidade com a disfunção cerebral já foi alvo de estudos desde a pandemia da gripe espanhola, em 1917.

“Naquela época, já foi descoberto que após 40 milhões de pessoas perderem a vida, muitos dos que se salvaram apresentaram um quadro chamado encefalite letárgica. Essa enfermidade causou uma série de distúrbios motores, com o comprometimento muscular bem parecido com aqueles que são portadores da Doença de Parkinson, além de sofrer com distúrbios psiquiátricos ao longo de toda a vida”, revela o neurocientista, psicanalista e biólogo Fabiano de Abreu.

Quarenta anos depois, o mundo passou por um surto de gripe. Entre aqueles que foram contaminados e se salvaram, mais uma vez as consequências na saúde cerebral vieram à tona. “Naquele período, houve relatos de pessoas que apresentaram distúrbios parecidos com Parkinson ou tiveram problemas psiquiátricos graves. Isso também foi observado após a síndrome respiratória do médio oriente e também na pandemia de H1N1, em 2009”, observa Fabiano.

Ou seja, o que se percebe é que esta relação entre danos cerebrais e o vírus é algo que já é comum, e com a Covid-19, a realidade também vem passando por este caminho. Diante deste cenário, o neurocientista explica que “agora, os cientistas têm observado que aqueles que foram contaminados com o novo coronavírus apresentam em geral um quadro de anosmia, que é algo muito frequente em doenças neurológicas e psiquiátricas, como Alzheimer e Parkinson, que é a perda do olfato”. 

Com a Covid-19, a comunidade científica vem a observar alguns sintomas que chamam a atenção: “Há casos de pessoas que tiveram a doença na forma aguda e agora precisam tratar de crises epiléticas, apresentaram confusão mental e outros sinais de inflamação cerebral difusa. Alguns até apresentaram quadro de AVCs, o que comprova este comprometimento na circulação cerebral. Há casos também de pessoas que sofreram lesões nos nervos periféricos, causando até a síndrome de Guillain-Barré, assim como fraqueza muscular profunda”, cita Fabiano.

Outro detalhe que chama a atenção dos cientistas, destaca Abreu, é que “essa ligação entre vírus e cérebro já foi demonstrado que, ao menos em algumas amostras, que ele pode ser detetado dentro do cérebro, no tecido cerebral de pessoas que morreram. Além disso, há também relatórios de autoanticorpos nessas pessoas, que não são uma consequência direta da invasão cerebral, mas sim uma resposta da imunidade anormal ao vírus voltada em primeiro lugar contra recetores neuronais, inclusive o recetor de glutamato do tipo NMDA que é comumente expressado por neurónios”. Ou seja, isso comprova que o vírus se instala dentro do cérebro e afeta a estrutura dele em modo semelhante ao que acontece com o Alzheimer. “E isso se comprova com exames de neuroimagem que indicam que as pessoas que foram acometidas pela Covid-19 apresentam alterações morfológicas e funcionais no hipocampo e outras estruturas que também estão associadas à doença de Alzheimer precoce”.

Tal situação intriga e preocupa cientistas de todo o mundo, tanto que estudos em 30 países e em mais de 40 instituições tentam confirmar estes efeitos, principalmente nas pessoas idosas. “E o que chama a atenção é que elas em geral expressaram vários problemas cognitivos, esquecimento frequente, problemas com a organização de tarefas sequenciais ou a chamada disfunção executiva, e até casos mais graves, como orientação especial”, analisa o neurocientista luso-brasileiro. Diante deste cenário, Fabiano recomenda que “o melhor é seguir os estudos pelos próximos anos, para que assim possa entender como eventos ambientais interagem com os genes, e como esses fatores genéticos também agem e quais serão os efeitos dessa doença nos próximos anos junto ao organismo”, finaliza.

Fonte: 
MF Press Global
Nota: 
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